A reconstrução de Gaza nas mãos de Israel.

A reconstrução de Gaza é uma dívida da comunidade internacional.

Nos 51 dias que durou a guerra, os dirigentes das grandes nações, com exceção de China e Rússia, limitaram-se a repetir o refrão “Israel tem o direito de se defender”.

Enquanto isso, o exército de Telaviv bombardeava sem tréguas toda a região de Gaza, matando civis inocentes e destruindo concentrações urbanas.

Nada foi feito de concreto para interromper o massacre.

As iniciativas de se mediar um cessar fogo, através do Egito e outras nações árabes, não contavam com o braço forte de Tio Sam para forçar Israel a se comportar.

A pressão mais forte partiu da opinião pública especialmente do Ocidente, cada vez mais indignada com a sucessão de famílias, crianças, hospitais, abrigos de refugiados e escolas destruídas pelas bombas israelenses.

Os estadistas acabaram se tocando..

Sob pressão internacional, os dois lados tirando a mão do gatilho e  iniciaram negociações para se chegar a uma trégua.

Mas Gaza estava em ruínas.

Para Ban-Ki-Mon, secretário geral da ONU, é ”uma vergonha para a comunidade internacional.”

Agora, as potências precisavam pagar por sua omissão ao permitir que isso acontecesse.

Reunidos no Cairo, seus representantes prometeram 5,4 bilhões de dólares para reconstruir Gaza.

Qatar e outros países do Golfo darão dois bilhões de dólares.

Os EUA, 400 milhões. Muito pouco, considerando que sua dívida para com a população de Gaza é maior do que a dos outros.

Eles, não só deram o tom do coro ocidental do “Israel tem o direito de se defender”, como também forneceram um bilhão de dólares em munições estocadas no seu depósito de Telaviv, que Israel usou nos bombardeios contra o povo de Gaza.

No entanto, o volume total da ajuda não é suficiente.

Dos 5,4 bilhões prometidos, a metade se destinará aos orçamentos dos próximos três anos da Autoridade Palestina. Somente 2,7 bilhões de dólares irão para a reconstrução de Gaza, bem menos do que os 7,8 bilhões que se estima serem necessários.

Há muito que fazer.

Mais de 80 mil casas foram destruídas ou muito danificadas, forçando um em cada quatro palestinos a as abandonarem. Atualmente, cerca de 110 mil continuam sem teto e 50 mil vivem em abrigos da ONU.

As bombas israelenses também destruíram toda a infra-estrutura da região – de energia elétrica, água esgoto -, além de deixar em ruínas quase mil oficinas e fábricas.

Perto de 2,5 toneladas de escombros precisam ser removidos.

Há ainda hospitais, escolas, depósitos, armazéns da ONU, estações de tratamento de água, mesquitas, delegacias e outros edifícios públicos inutilizados.

Medidas de emergência precisam ser tomadas para possibilitar a retomada das atividades econômicas.

De acordo com relatório do Banco Mundial, a economia de Gaza entrou em recessão já antes da guerra. Os bombardeios pioraram ainda mais a situação.

Diz Steen Lau Jorgensen, diretor do Banco Mundial para Gaza e Cisjordânia :”O recente conflito causou um severo impacto

em  todos os setores da economia de Gaza, em adição às trágicas perdas humanitárias.”

Na agricultura, 15 mil animais (especialmente carneiros e patos) sumiram na guerra, morreram de fome ou atingidos por bombas.

A FAO (Organização da ONU para Agricultura) informa que metade de todos os frangos da região foram mortos  em conseqüência dos bombardeios ou por não receberem alimentação dos proprietários, que fugiram dos ataques..

Três mil e 600 famílias, um dos segmentos mais pobres da região, viviam da criação de animais.

A respeito delas, informa Ciro Fiorillo da FAO :”Essencialmente, uma porção de pessoas simplesmente perderam seus meios de sobrevivência.”

Vieram engrossar as multidões que dependem da alimentação fornecida pela ONU. Antes da guerra eram um milhão e cem mil pessoas, dois terços da população total da faixa. Hoje esse número aumentou em mais 700 mil.

O resultado da reunião para doações a Gaza deixou Netanyahu descontente. Não porque as doações prometidas estivessem abaixo do necessário à reconstrução, é claro. Ele queria que fossem condicionadas ao total desarmamento do Hamas e de outros movimentos palestinos pró-independência. O que não aconteceu.

Nem por isso se pode dizer que Israel saiu perdendo.

Pelo contrário, os negociadores, ou seja, a ONU e os governos interessados, cederam às pressões de Telaviv: preocuparam-se exageradamente em garantir a segurança de Israel.

Estão sendo montados mecanismos complicados e sofisticados para impedir que materiais necessários à reconstrução de Gaza – cimento, concreto,  aço e tijolos – possam sejam usados pelos movimentos palestinos na produção de armas.

Os planos objetivam monitorar as importações, armazenamento e vendas desses materiais, prevendo a instalação de câmeras de vídeo, a formação de equipes internacionais de inspetores e a criação de um banco de dados de fornecedores e consumidores.

Isso custará muito dinheiro, que sairá dos recursos doados para recuperar Gaza.

Mais importante seria conseguir aliviar radicalmente as condições restritivas que Israel impõe atualmente sobre os produtos enviados a Gaza.

O movimento pacifista inglês Oxfam preveniu que, caso continuem as mesmas restrições às importações, cerca de 50 anos serão necessários para serem construídas as infra-estruturas necessárias ao povo de Gaza.

Rawley, representante da ONU é mais otimista:“A devastação da ONU é verdadeiramente imensa e na melhor das circunstâncias levará anos para se reconstruir.”

Uma das principais causas dessa indesejada demora é algo que foi acordado entre as partes: o direito de Israel de aprovar e até vetar projetos de reconstrução, inclusive a sua localização (Al Jazeera America, 20/10).

“Está inteiramente baseado na boa vontade de Israel”, comenta uma fonte que leu o texto do acordo.

As autoridades israelenses poderão levantar retardar e mesmo impedir a entrada de caminhões carregados de material de construção, sempre que acharem conveniente.

Os representantes da ONU terão as maiores dificuldades para resolver esse tipo de problemas. Nem sempre conseguirão.

Acho que os palestinos só toparam a permanência dos poderes de Israel premidos pela necessidade de atender o mais rápido possível ao sofrimento do povo de Gaza.

A solução real e definitiva só poderá acontecer com o fim do bloqueio de Gaza.

Não é preciso nenhuma nova reunião da ONU para tomar essa decisão, que, aliás, já aconteceu há vários anos.

Caso Israel resista, basta que o Conselho de Segurança vote medidas forçando Netanyahu a obedecer.

Desde, é claro, que os EUA não vetem.

 

 

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