EUA, perdendo a paciência.

“A boa coisa em Netanyahu é que ele tem medo de lançar uma guerra. A coisa ruim é que ele não vai fazer nada para entrar em acordo com os palestinos ou com os estados árabes sunitas. A única coisa em que ele está interessado é se defender de uma derrota política.”

Estas declarações de um assessor (anônimo) do presidente Obama ao colunista Jeffrey Goldberg, da revista The Atlantic, tornaram mais visível uma crise em gestação na aliança EUA/Israel.

Goldberg, que já entrevistou Obama e Bibi, vai além, acha que já estamos diante de uma “completa crise”.

Seja como for, nos últimos meses o relacionamento americano-israelense vem se estremecendo, marcado por fatos , digamos, tumultuados.

No fracasso das negociações de paz mediadas por John Kerry, as culpas maiores ficaram para Netanyahu por não parar de lançar novos assentamentos.

Obama, que levara anos clamando que Palestina independente só com negociações entre as duas partes, sentiu-se desmentido. Algo que não deixa um estadista particularmente feliz.

Comentários do ministro da Defesa Yalon sobre Kerry, chamando-o de “obsessivo e messiânico” na busca da paz, não pegaram nada bem.

Por sua vez, Kerry  afirmou, numa reunião particular (pero no mucho), que Israel arriscava-se a se tornar um país de apartheid. O que motivou rudes críticas  do governo e partidos de direita israelenses.

A retaliação americana às agressões contra seu secretário de Estado veio meses depois, em 25 de outubro, quando Yalon ao visitar os EUA, pretendendo conferenciar com os principais líderes locais, encontrou portas fechadas.

Na guerra de Gaza, ficou muito claro o desconforto do presidente Obama pela ação militar israelense, por ele apoiada, ter se mostrado de uma brutalidade que chocou o mundo.

Sabe-se que, ao se conscientizar do tipo de barca em que ele estava entrando, Obama pressionou Netanyahu para que topasse um cessar fogo aceitável para o Hamas.

Precisou gastar muito latim para conseguir dobrar o premier israelense, que só se conformou depois de ter destruído e matado o que ele achava suficiente.

Agora, dois fatos azedaram ainda mais a situação: a nova leva de assentamentos que Netanyahu aprovou para Jerusalém Oriental e o seu discurso no Knesset (parlamento) no qual afirmou que, enquanto os palestinos não cediam nada, se exigia que Israel fizesse concessões. E isso ele jamais iria fazer! Forget about it!

Com isso, jogava mais uma pá de terra sobre as negociações com os palestinos, tão defendidas pelo presidente americano.

Obama recebeu estes autênticos desafios declarando,  através do departamento de Estado, que essas ações de Israel não seriam reflexos de uma administração que procura a paz.

Ou traduzindo para uma frase mais direta: a administração Netanyahu não quer a paz.

Em nome do governo, o portavoz do departamento do Estado disse :”Nós vemos a expansão de assentamentos como ilegítimos e inequivocamente nos opomos a passos ilegais que prejulguem o futuro de Jerusalém.”

Foi  acompanhado pela Europa Unida, através de sua chefe para Relações Exteriores, Catherine Ashton, que mais uma vez condenou os assentamentos como ilegais, considerando-os uma decisão erradamente tomada, em momento inadequado (quando se fazia novos esforços pela paz).

Que Netanyahu e seu grupo não desejam nem uma paz justa, nem uma pasta sequer razoável para os palestinos,  está fartamente provado.

Ultimamente, em 30 de outubro, numa reunião ministerial, mais uma evidência, realmente incontestável, apareceu no jornal Haaretz.

Sabe-se que uma das principais divergências entre israelenses e palestinos são quanto ao destino dos principais blocos de assentamentos, na determinação ds fronteiras do novo Estado da Palestina.

Israel quer que todos sejam anexados a seu território em troca de terras em outras áreas. Os palestinos defendem que parte fique para eles.

Não se falou nunca nos assentamentos isolados. Cercados por terras palestinas por todos os lados, dá-se de barato que serão parte da Palestina independente.

No entanto, em reunião em Telaviv, ministros israelenses trataram da alocação de verbas orçamentárias para obras em dois assentamentos isolados – Tapuah e Yitzhar.

Ora, se iriam para os palestinos, porque os israelenses investiriam neles?

Para mim, está muito claro: do que depender de Netanyahu  nem um só assentamento sairá de Israel.

Por isso, ele não admite que o Conselho de Segurança da ONU aprove a fixação da data de 16 de novembro de 2016 para a retirada total dos exércitos israelenses da Cisjordânia e Jerusalém Oriental, que deverão formar o Estado da Palestina.

Netanyahu aposta no veto americano.

Ele confia que Obama, mesmo rogando pragas e arrancando os cabelos, não lhe faltará maios uma vez.

Vai vetar, cedendo à pressão combinada dos republicanos e muitos democratas do Congresso, do Pentágono, do complexo industrial-militar, dos lobbies judaico-americanos, dos bilionários Irmãos Koch, dos jornais, congregações religiosas e empresas pró-Israel.

Jeffrey Goldberg acha que desta vez talvez isso dê errado.

Obama pode se sentir mais fortalecido para tomar decisões contra o establishment político-econômico.

O povo americano já não apóia de modo incondicional as ações do governo de Telaviv.

Embora a maioria favoreça Israel, pesquisas recentes mostram posições contrárias a esse país em questões como os assentamentos e a independência da Palestina.

Essa nova realidade aparece especialmente no público jovem – entre 18 e 29 anos.

Em  pesquisa Gallup, os jovens condenaram as últimas ações israelenses (ataque a Gaza e novos assentamentos) por uma clara maioria de 51% versus 25%.

Como líder do Ocidente e também de grande parte do Oriente, Obama tem responsabilidades com todo o orbe. Não pode simplesmente ignorar seus sentimentos e posições, pelo menos quando inequivocamente justos.

Não é de hoje que a comunidade internacional não suporta mais ilegalidades e violências praticadas por Israel contra os palestinos.

Há sinais de que, mais recentemente, a paciência chegou ao fim. Agora, exige ações concretas.

O parlamento do Reino Unido, por quase unanimidade,  convocou o governo Cameron a reconhecer o Estado da Palestina.

Ainda nesse país, um ministro conservador, a baronesa Warsi renunciou em protesto à política pró-Israel de Cameron.

Na Europa Unida, a Palestina está sendo reconhecida pela Suécia. Outros países da comunidade européia deverão segui-la.

Dócil satélite dos EUA, o Kuwait resolveu boicotar todas as empresas estrangeiras do país que negociem com os israelenses.

E a Jordânia, um dos dois únicos países árabes que tem relações diplomáticas com Israel, tomou duas decisões radicais contra a expansão dos assentamentos: ameaçou “rever” as relações com Telaviv, caso eles continuem, e solicitou reunião do Conselho de Segurança da ONU para votar seu fim, já marcada para 5 de novembro.

Já se anunciou que a Europa Unida poderá adotar punições para serem imediatamente aplicadas diante de cada transgressão israelense.

Existem 151 países que reconhecem a Palestina como país independente.

Neste último episódio da crise entre Israel e os EUA, os congressistas republicanos e muitos democratas tomaram as dores de Netanyahu.

Exigiram desculpas e explicações de Obama.

Somaram-se às óbvias reclamações indignadas do premier israelense e seus seguidores. Um deles, o ministro Naftali Bennett, exigiu retratações, ponderando: ”Se o que está escrito (por Goldberg) é verdade, então parece que a atual administração (Obama) planeja jogar Israel debaixo de um onibus.”

Há quem ache que sim.

Um indício seria a resposta de Obama ao texto agressivo, através de seu porta voz: “Achamos tais comentários inapropriados e contraprodutivos”,seguindo-se os habituais protestos da indeclinável amizade israelo-americana. E estendendo-se com muito maior destaque sobre o prejuízo causado pelos assentamentos ao processo de paz e à necessidade de serem retomadas as negociações bilaterais.

Portanto, não se preocupou muito em condenar às pesadas críticas do seu assessor a Netanyahu.

Preocupado ele está com as eleições de 4 de novembro, onde seu partido pode perder a maioria no Senado.

Também de olho nesse dia, os dirigentes palestinos esperam que ele passe para provocar uma reunião no Conselho de Segurança para discussão de sua proposta de marcar data para retirada das tropas de ocupação da Palestina.

Acreditam que, passado o dia da eleição, Obama sofrerá menos influência das forças pró-israel já que não terá de temer seu poder de conseguir ou tirar votos.

Caso, ainda assim, Obama vete a pretensão palestina no Conselho de Segurança, os palestinos não devem ir pra casa lambendo suas feridas.

Além do recurso ao Tribunal Criminal Internacional, pesadelo de Netanyahu, eles podem apresentar nova proposta traçando os limites entre Israel e o Estado da Palestina, conforme decisão da ONU, tomada anos atrás.

Aí, no caso de nova rejeição, seria criado um verdadeiro caso jurídico internacional.

O Conselho de Segurança da ONU estaria desconsiderando uma posição já tomada pela própria ONU.

Será que Obama teria coragem de vetar algo que, tendo sido aprovado anteriormente pela ONU, adquiriu a natureza de uma lei?

Ou ele estaria disposto a resgatar aquela promessa que ele fez, em 2009, no seu famoso discurso do Cairo:“A América não virará as costas às legítimas aspirações palestinas por dignidade, oportunidades e um Estado todo seu.”

Um comentário em “EUA, perdendo a paciência.

  1. Todo mundo sabe que para se mudar isso ja que ha uma rejeiçao a Israel, bastaria que os EUA reconhecesse o Estado Palestino. Porque eles nao reconhecem? Acredito que um dos maiores motivos estao nas industrias belicas americanas que ganham muito dinheiro com guerras espalhadas pelo mundo. e principalmente a dos Palestinos que se arrasta por seculos. Nao podemos esquecer que toda aquela area realmente pertence aos paulistinos e nao a Israel que se apossou apoiados principalmente pelos EUA.
    Foi os EUA quem mais colaborou para a criaçao de israel e seu poder de fogo em que as indusrtrias belicas americanas venderam muitas armas de destruiçao a Israel .Obama com sua força destruidora nunca se prontificou a defender os palestinos porque ali ha uma fonte de recursos para as industrias de seu país. alem é claro dos interesesses eles eles tem em controlar a regiao atraves de israel. So realmente uma pressao internacional poderá mudar essa situaçao se possivel ate com intervencoes. tipo todos os países membros da ONU ocuparem as fronteiras entre Israel e Palestina e exigir o respeito ao Estado Novo da PALESTINA.Jamais Israel irá querer criar um conflito com varias naçoes pois nesse caso os EUA teria que ficar neutro ja que nao seria prudente ficar do lado de uma naçao e contra centenas delas. Isso seria um atestado de burrice e ele certamente nao cairia nessa.

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