Dezembro decisivo para o acordo nuclear iraniano.

Nas vésperas do fim do prazo para se chegar a um acordo nuclear com o Irã, as partes se mostravam muito otimistas.

Os EUA viam com simpatia alternativas à proposição, muito controversa, de se reduzir o número de centrífugas para evitar que os iranianos pudessem dispor de bombas atômicas em poucos meses.

Como, por exemplo, o corte radical no estoque de urânio do país, o que forçosamente retardaria bastante todo o processo de produção de armas nucleares.

John Kerry, o secretário de Estado dos EUA, e Zarif, ministro iraniano do Exterior, eram um sorriso só.

Mesmo no último dia, Zarif continuava confiante.

Reiterou que num esforço derradeiro, seria possível conseguir um final feliz até a meia-noite do fatídico prazo de 24 de novembro.

Ficou arrasado quando os representantes do Ocidente no grupo de seis países que negociavam com o Irã declararam que as negociações seriam interrompidas e o prazo final estendido por mais 7 meses.

A idéia fora da França, logo apoiada pela Casa Branca, apesar da disposição de Kerry de continuar negociando.

Laurent Fabius, ministro do Exterior, informou aos repórteres que nos últimos dias tinham surgido novas soluções que exigiam profundos estudos técnicos dada  sua grande complexidade.

Dificil engolir essa da França mudar a posição americana.

Ficaria muito mal para o secretário de Estado propor o adiamento em nome do seu país depois de estar tão entusiasmado com as chances de resolver a questão de uma vez.

Parece que a mudança veio de mais alto.

Qual seria o interesse da política externa de Obama nesse adiamento quando é claro que ele deseja um acordo com Teerã  para evitar ter de encarar nova crise internacional, estando já envolvido em conflitos armados no Afeganistão, na Síria e no Iraque.

Uma possível resposta prende-se ao controle do Senado adquirido pelo Partido Republicano nas eleições parlamentares do dia seis de novembro.

Seus representantes, atiçados pela AIPAC (maior lobby pró-Israel dos EUA), preparam uma resolução, impondo novas e mais pesadas sanções ao Irã.

Se aprovadas seria o fim das negociações com Teerã, que jamais as aceitaria.

Aí Netanyahu viria com tudo, exigindo que os EUA participassem de um ataque às usinas nucleares iranianas para defender Israel de um fantasioso ataque nuclear iraniano.

Provavelmente, as hostes do Israel first do Congresso vão esperar pela posse dos novos senadores, em 6 de janeiro, para apresentar seu projeto com chance total de ser aprovado pela maioria republicana.

Sim, Obama poderia vetar.

Mas, para seu veto ser rejeitado, bastará o apoio de 12 senadores democratas.

Ninguém duvida que a força combinada dos lobbies pró-Israel, dos Koch Brothers (a maior fortuna pessoal dos EUA) e da embaixada israelense terá condições para conseguir a adesão de muitos senadores do partido do presidente.

Portanto, os países que desejam um acordo estão correndo contra o relógio, tem praticamente o mês de dezembro para  acertarem as pontas.

Caso isso não aconteça, sai de baixo.

Seria muito difícil para Obama conseguir tourear Netanyahu que viria com tudo (apoiado por muitos congressistas) exigindo que os EUA se juntassem a Israel num bombardeio das usinas nucleares do Irã. O que teria um preço por demais elevado em termos de vidas e dinheiro perdidos.

Arremate lamentável para o segundo quatriênio do governo Obama.

Mesmo que Obama resistisse, uma guerra no Oriente Médio se tornaria provável e certamente péssimo para os interesses americanos, pois poderia levar ao máximo a aversão já grande dos islamitas aos EUA.

Para os  interesses europeus seria desastroso.

As economias ainda combalidas dos seus países seriam pesadamente atingidas pelo inevitável bloqueio do Golfo Pérsico, levando o preço do petróleo até o céu.

Certamente, o Irã sofreria muito mais.eria

O país, que não agüenta mais o peso das sanções,  ainda teria de encarar uma guerra contra Israel, com resultados imprevisíveis e  danos apocalípticos para seu povo, suas cidades e sua economia.

Ele tem 30 dias em dezembro para buscar o acordo salvador.

Acredito que , diante desta situação, Obama espera que o governo Rouhani entregue os pontos, faça as maiores concessões para que os EUA e seguidores se considerem satisfeitos, pondo um ponto final no drama.

Antes  que os ferozes republicanos tomem posse do Senado, em 6 de janeiro, e virem a mesa.

Com essa paz nuclear, o presidente americano poderia aparecer como um vencedor diante da opinião pública do seu país,  deixando os republicanos falando sozinhos, transformados em rebeldes sem causa.

E Netanyahu ficará clamando no deserto, ele sempre será contra todo e qualquer acordo que preserve o programa nuclear iraniano, mesmo muito enfraquecido.

Claro, o jogo pode não dar certo.

Os iranianos são um povo orgulhoso, com milhares de anos de tradição. Podem muito bem não se dobrar, não levar sua flexibilidade a extremos.

Aí, será um cabo de guerra entre Irã e Ocidente.

O pior resultado será a ausência de um vencedor.

Porque aí todos perderão.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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