Numa série de manifestações, milhares de mulheres tunisinas protestaram em Tunis contra trecho de projeto da nova constituição que coloca a mulher numa posição inferior.
O texto contestado diz: ”as mulheres são complementos dos homens.”
Elas querem que seja mantido o disposto por lei de 1956 que garante às mulheres os mesmos direitos dos homens.
O partido que lidera a coalisão do governo, o Ennahda, de linha islâmica moderada, havia prometido não impor leis islâmicas retrógradas e garantir os direitos das mulheres.
Fanda al-Obeidi, membro do Ennahda e presidente da Comissão de direitos humanos e liberdades públicas do Parlamento, acha que as mulheres estão fazendo tempestade num copo d´água.
Para ele, o artigo contestado apenas estipula “divisão de papéis, não significa que as mulheres têm menos valor do que os homens.”
As ativistas não concordam.
Na opinião delas, a nova regra seria fatalmente seguida por novas concessões.
“Grandes recuos geralmente começam com um passo”, afirma Ahlam Belhadji, Presidente da Associação das Mulheres Democráticas. ‘’Se nós permanecermos em silêncio hoje, estaremos abrindo as portas para qualquer coisa e acabaremos surpreendidas por decisões ainda mais sérias”, conclui.
O Ennahda está sendo pressionado pelos fundamentalistas do Partido Salafita, que exigem a incorporação à constituição de leis do Islam criadas na Idade Média.
De outro lado, os partidos seculares, que também integram a coalisão governamental, opõem-se firmemente à aplicação da religião na política.
O Ennahda, que é um braço da Irmandade Muçulmana, oscila entre as duas posições, embora, na maioria das vezes, tenha marchado com os seculares.
Nem sempre, como no caso do artigo que provocou os protestos femininos.
A verdade é que, assim como no Egito, a atuação dos governos da Irmandade Muçulmana tem sido basicamente pragmática. Procuram, antes de mais nada, aumentar seu poder, arriscando-se a tomar atitudes mais ousadas somente quando esse objetivo está em jogo.
No entanto, mais cedo ou mais tarde, terão de mostrar para que vieram e onde querem chegar.