Primavera Árabe começa a ser anti-Israel.

Quando a Primavera Árabe chegou ao Egito, com a queda de Mubarak, o premier  israelense Nethanyau demonstrou  insatisfação.

Para ele, a troca de um ditador amigo por um regime democrático e nacionalista, poderia causar ruptura nas boas relações Israel-Egito.

Netanyahu estava certo.

Depois de um primeiro momento em que o alvo dos revolucionários era Mubarak e as medidas arbitrárias da Junta Militar, Israel começou a ser visado.

Um incidente de fronteira no qual o exército de Israel matou, por engano, membros do aparelho de segurança egípcio, provocou grande manifestação popular, ameaçando a embaixada israelense e exigindo rompimento de relações.

Com a posse dos deputados eleitos, a posição anti-israelense foi perfilhada por quase todos eles.

Numa resolução, que teve aprovação unânime, o Parlamentou propôs a expulsão do embaixador de Telaviv e o fim das exportações de gás natural para Israel.

Justificando sua reivindicação, o texto da resolução dizia: “o Egito Revolucionário  jamais será amigo, parceiro ou aliado da entidade sionista, que consideramos o inimigo número 1 do Egito e da nação árabe. Ele negociará com essa entidade como uma inimiga e o governo egípcio é aqui conclamado a rever suas relações e acordos com o inimigo.”

O governo parece estar começando a atender ao Parlamento:  acaba de romper o acordo de fornecimento de gás a Israel.

Foi uma medida altamente popular. Em pesquisa da Synovates, realizada em outubro do ano passado, 73% queriam o fim do acordo, contra 9% favoráveis.

Ele tinha uma importância especial por ter sido o primeiro acordo comercial importante entre um país árabe e Israel, depois de 1979, quando Anuar Sadat, Presidente do Egito, decidiu entrar na órbita dos EUA.

Nessa ocasião, seu governo recebeu grandes aportes financeiros dos americanos e se comprometeu a manter relações amigáveis com Israel, além de romper com a União Soviética, até então sua aliada.

O acordo do gás foi assinado em 2005 e começou a ser implementado  a partir de 2008. Ele garantia o fornecimento de 40% do gás natural para atender às necessidades de energia de Israel.

Foi sempre combatido pela Irmandade Muçulmana e amplos setores da população.

Depois da revolução, a oposição ao acordo ganhou muito mais força.

Mas o governo militar, ainda de olho na amizade americana, quis retirar todas as conotações políticas do rompimento.

Mohamed Shoeib, da empresa egípcia produtora de gás, a Egas, deu uma explicação nessa linha, assegurando que a decisão foi tomada “porque a outra parte não cumpriu seus compromissos.”

Em Israel, houve reações negativas.

O Ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, disse que “não foi um bom sinal. Penso que transformar uma disputa de negócios numa disputa diplomática seria um erro.”

Shaul Mofatz, o líder do partido Kadima, de oposição, foi veemente : “É uma clamorosa infração do tratado de paz (entre os dois países)”

Mais objetivo, o Ministro das Finanças, Yuval Steinz expressou “profundas preocupações… Trata-se de um precedente perigoso que enfraquece o tratado de paz.

O governo de Telaviv quis minimizar o problema. Informou que Israel passaria a explorar campos de gás descobertos no mar. Teria inclusive já assinado um acordo com Chipre que demarcava a área pertencente a Israel.

Mas há problemas a resolver com o Líbano que afirma que os campos de gás natural estão nas suas águas territoriais.

Mas o problema maior é que, os EUA tem insistido  para o Egito respeitar o acordo que Mubarak fez com Israel.

Membros da Junta Militar , várias vezes, insistiram que isso deveria acontecer.

No entanto, apesar de tudo, eles já demonstraram não serem de todo insensíveis à voz das ruas.

Esta característica se acentua agora que estamos a um mês da eleição presidencial e os militares precisam melhorar sua imagem pública para sua voz pesar mais nos acordos que terão de fazer com os eleitos.

Como não querem criar atritos com os EUA, devem continuar vinculando a questão do gás à área administrativa.

Mas, tanto em Washington, quanto em Telaviv, todos sabem que a porteira foi aberta.

Difícil, pelo menos improvável, será fechá-la.

Tem muita chance de ser alargada com a abertura completa das fronteiras egípcias com Gaza, a aproximação com o Irã e um apoio muito mais efetivo aos palestinos.

A maioria absoluta do Parlamento está a favor.

E o novo presidente, seja qual dos principais candidatos for eleito, não vai dizer não.

 

 

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