Nem bem eleito presidente do Peru, Humala mostrou que chegara para mudar. Não fez seu juramento de posse sobre a Constituição vigente, obra do governo Fujimori. Optou pela Constituição de 1979, que privilegiava os direitos humanos e tinha fortes acentos sociais.
Instalado no poder, Humala cuidou de enfrentar o principal desafio do país: a pobreza.
No governo anterior, do ex-socialista Alan Garcia, o Peru alcançou um grande desenvolvimento. Nesta década, cresceu 7% ao ano, o maior índice em toda a América Latina. E, mesmo assim, lá a pobreza é das mais chocantes. Nada menos de 30% da população, subsistia nestas condições precárias, em 2010.
Diante desse quadro deprimente, Humala anunciou uma lei que taxava os lucros extraordinários dos exportadores de minérios para formar um fundo extra destinado ao resgate social.
Essa medida aproveita o momento favorável do cobre, ouro e zinco que, no mercado internacional, atingem elevados preços. Já aplicada com grande êxito na Argentina pelo Presidente Kirchner e sua sucessora, não só beneficia as classes pobres, como também estimula o desenvolvimento. Aumentando as taxas sobre exportação, ingressam menos dólares no mercado peruano, o que irá valorizá-lo e conseqüentemente desvalorizar a moeda local, deixando mais baratos os preços internacionais dos minérios peruanos. Com preços menores, essas commodities se tornarão mais competitivas, venderão quantidades maiores.
Os pobres sairão ganhando, pois com a cobrança das taxas de exportação haverá mais dinheiro para o governo investir em projetos de habitação, saneamento, saúde e escola públicas e formação de profissionais. E os exportadores não sairão perdendo: tudo o que deixarem de ganhar por via das taxas, irão recuperar com o aumento das vendas no exterior.
Mas as mudanças de Humala não ficaram por aí. Seu antecessor, o ex-socialista Alan Garcia, havia buscado reforçar a aproximação do país ao bloco liderado pelos EUA. O Peru fora dos raros países latino-americanos que aderiram ao Tratado Bi lateral de Livre Comércio com Washington.
Humala afirmou que dará mais força à integração com a UNISUL e a Comunidade Andina de Nações. Em ambas tem mais força países de política externa independente como o Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador e Venezuela. Deixará de lado o “Arco do Pacífico”, entidade criada por Alan Garcia, que associava o Peru a países conservadores: Mexico, Chile e Colômbia.
Humala ganhou as eleições contra uma candidata apoiada em massa pelos ricos e pelos principais jornais peruanos. Ele é certamente o primeiro candidato progressista a vencer uma eleição no Peru. Mas não se espere dele medidas radicais. Pragmático, nomeou um ministério que reflete as forças que o apoiaram. Entre elas estavam muitos políticos e intelectuais liberais, que desejavam evitar a vitória do fascismo, representado pela filha do ex-ditador Fujimori.
Parte da esquerda condena a recusa de Humala a nacionalizar empresas privadas. Ele o fará, se for necessário, pois já deu provas de sua determinação neste início de governo.
Taxar lucros de ricos, em benefício dos pobres é algo sem precedentes no país.
Ele mostrou que, “Sim, o Peru pode”. Com atos, não só com meras palavras.