O massacre do Cairo sujou de sangue o golpe militar egípcio.
Em apenas 78 minutos, 51 civis foram mortos e 435 feridos.
Do lado do governo houve a morte de dois policiais e um soldado, além de 42 feridos.
Naquela madrugada, dois mil adeptos da Irmandade Muçulmana realizavam uma manifestação em frente ao clube da Guarda Republicana, pedindo a libertação do presidente deposto Muhamad Morsi.
Segundo eles, sua manifestação era pacífica e foi dissolvida à bala pelas forças de segurança.
Para o Exército, a história foi outra: quinze motociclistas armados aproximaram-se do clube e dispararam contra os militares, enquanto os manifestantes tentavam invadir o edifício.
Para defender-se, os soldados e policiais teriam sido obrigados a usarem suas armas.
E o porta-voz dos militares apresentou como prova vídeos, mostrando no meio do conflito três partidários de Morsi com armas de fogo e vários outros jogando pedras nos agentes de segurança.
Mas eram provas falsas, conforme apurou Patrick Kingsley, correspondente do The Guardian no Egito.
Durante uma semana, ele realizou uma profunda investigação do incidente, analisando vídeos e entrevistando 31 vizinhos do clube, médicos e vítimas. O Exército negou quatro pedidos para que ele entrevistasse soldados presentes na ação.
A conclusão de Kingsley foi: as forças militares lançaram um ataque coordenado contra uma multidão de civis pacíficos e quase todos desarmados. Sem provocação.
Não foi encontrada nenhuma evidência de que os 15 motociclistas armados tivessem existido. Nem de que os adeptos de Morsi portando armas estivessem no local do massacre.
Quanto aos ”atiradores de pedras”, uma análise do vídeo verificou que eles entraram em ação só depois do início da fuzilaria.
Diante do clamor mundial, as autoridades do novo governo ordenaram uma rigorosa investigação.
Nem um pouco isenta, porém. Seu objetivo, expressamente declarado, foi descobrir quem foram os “terroristas” que teriam provocado tudo…
O dr.Yehia Moussa, na ocasião do incidente, era porta- voz do ministro da Saúde.
Como ele estava no local, foi entrevistado por uma das emissoras de TV pró-governo (as únicas mantidas abertas). Falou que fora um massacre. Quando começou a responsabilizar os militares, a transmissão saiu do ar.
No mesmo dia, ele foi devidamente demitido.
Enquanto isso, Barack Obama nega-se a caracterizar a intervenção militar como um golpe de estado.
E expressa seus votos de que o Egito, agora, caminhe sem percalços em direção à democracia plena.