Na hora de fazer concessões, os poderes do Oriente Médio escolhem Gaza para ir para o sacrifício.
Assim foi no governo Morsi.
Diante da crise que engolia seu país, julgou necessário conquistar o apoio econômico e político dos EUA para fugir do buraco.
Manter o bloqueio de Gaza era importante para Israel, ergo para seu Big Daddy, os EUA.
No entanto, Morsi chegou a abrir a passagem egípcia de Rafah para exportação e importação e, assim, desafogar a economia do estreito. E a permitir o transito livre de cidadãos entre os dois países.
É verdade que só em determinados dias, horários e outras condições que tornavam o desbloqueio apenas parcial.
Mesmo isso, durou pouco.
Terroristas atacaram um posto militar na região do Sinai, matando 16 soldados. Logo os militares declararam que os atacantes teriam vindo de Gaza. Portanto, era necessário fechar todos os túneis pelos quais eles penetravam, além da passagem de Rafah.
Como Morsi, sentindo-se fraco diante de uma oposição que não dava tréguas, havia se apoiado nos militares, aceitou suas pressões. Rafah foi fechada e os tuneis passaram a ser destruídos, completando o bloqueio. Ora, 30% de todos os bens consumidos em Gaza, vinham pelos túneis.
Entre 10 e 20mil dos seus cidadãos trabalhavam nisso.
Com a queda de Morsi a destruição dos tuneis (eram centenas) foi incrementada.
Tendo fechadas as portas para seu comércio com o exterior e para a entrada de alimentos e outros produtos de consumo diário, a situação de Gaza ficou ainda pior do que a do Egito. Muito pior.
Por sua vez, as minguadas receitas do governo, consideravelmente reduzidas pela perda das taxas, cobradas por aquelas operações, ficaram insuficientes para manter os serviços públicos.
Os preços dos alimentos subiram às alturas. Cada vez mais, a população depende dos produtos fornecidos pela ONU, para não morrer de fome.
Claro que ela está culpando o regime militar egípcio pelo seu sofrimento.
”Há uma difícil situação humanitária em Gaza, em função das medidas militares egípcias na fronteira”, declarou o porta-voz do Hamas (que governa o estreito), Sami Abu Zihri.
“Estamos a par das necessidades humanitárias de Gaza e a passagem de Rafah está aberta para aqueles que precisam atravessar”, disse um oficial egípcio. “Queremos que o povo de Gaza esteja certo de que nós nunca o abandaremos e seremos sempre um grande apoiador da causa nacional palestina.”
Pode até ser verdade, que os militares mantenham sua atitude conivente com os interesses israelenses (e, por extensão, americanos), apenas enquanto não se sentirem firme.
O problema é esta orientação pela real politik durar demais e o desespero do povo de Gaza crescer até atingir o insuportável.