Mais do que uma vitória moral.

Quando Mahmoud Abbas, Presidente da Autoridade Palestina, anunciou que, em 29 de novembro pediria á Assembléia Geral da ONU o reconhecimento de sua nação como estado não-membro, Israel protestou.

Isso seria inaceitável.

Poderia ser o primeiro passo para a independência da Palestina, o que contrariava o objetivo sionista de anexar todo o país.

E, a curto prazo, autorizaria o novo estado a processar Israel no Tribunal Penal Internacional por um sem número de ilegalidades, que vem cometendo. Temor israelense comprovado por documento do Departamento de Estado revelado pelo Wikki Leaks.

Logo Israel e o seu grande protetor, os EUA, iniciaram uma campanha para, se possível, derrotar a iniciativa palestina. Na pior das hipóteses, conseguir o apoio da Europa e da maioria das nações ricas, de um modo geral.

A Palestina ganharia, mas seria graças aos votos de ex-colônias da Ásia e da África, mais alguns países da América Latina, além dos renitentes China e Rússia. Uma maioria expressiva apenas em termos de quantidade.

E, para Israel, seria uma autêntica vitória moral. Ter por si a elite do mundo.

De olho nisso, Obama usou todo o peso da influência e da ajuda americana, que não é pouco, para convencer Abbas a não criar caso. E, prevendo recusa, para conquistar o máximo de apoios dos países especialmente do Velho Mundo.

Afinal, ele argumentava, a pretensão palestina seria contra os próprios interesses desse povo imaturo. Era necessário derrotá-la caso contrário inviabilizaria as negociações entre as partes, o único caminho para a paz.

Por seu lado, Israel fez uma série de ameaças, inclusive a de melar o Acordo de Oslo, acabando com a administração palestina na Margem Oeste e a “solução dos 2 estados,” tão querida por todos.

Mas os palestinos ficaram firmes.

Depois de tentar durante anos criar condições para reunir-se com Netanyahu buscando um acordo, Abbas havia fracassado. Sua tentativa de conseguir a independência via Conselho de Segurança no ano passado fora bloqueada pela eficiente ação americana. Nem chegara ao plenário da ONU.

O reconhecimento como estado não-membro era sua última chance de conseguir alguma coisa para seu povo.

Não poderia perdê-la.

Enquanto se aproximava o dia decisivo, Israel ia sujando cada vez mais sua imagem : construindo novos assentamentos, legalizando os ilegítimos, destruindo casas e plantações de palestinos, praticando violências contra crianças, mantendo Gaza bloqueada e esfomeada.

Relatórios independentes da ONU e de instituições de direitos humanos vinham com acusações pesadas, focando esses e outros atos condenáveis pelas leis internacionais.

Nas vésperas da apresentação do pedido palestino à ONU, a situação estava preta para Israel.

Até países próximos aos EUA, negaram-se a atender Obama, prometendo que apoiariam os palestinos.

Primeiro, foi a Suíça, seguida pela Espanha, Portugal, Dinamarca, Noruega e França- na primeira atitude de Hollande no plano internacional coerente com sua ideologia de esquerda.

A Austrália, cuja premier é grande amiga de Israel, seguiu seu exemplo, forçada por uma verdadeira rebelião de 10 dos seus ministros.

E o mesmo fez o Reino Unido, através de uma curiosa declaração na qual o Secretário das Relações Exteriores, William Hague, afirmou que votaria a favor do reconhecimento caso os palestinos prometessem não processar Israel no Tribunal Penal Internacional.

Com isso, deixou claro que considerava os israelenses culpados de alguma ou algumas violações das leis internacionais, do contrário não se preocuparia de imunizá-los contra processos penais.

Essa sua tentativa de blindar Israel qualifica-o como cúmplice, o que não fica nada bem para um ministro de Sua Majestade.

Os EUA também tentaram o mesmo.

Segundo o jornal israelense Haaretz: “A pressão não deu certo porque os palestinos recusaram-se a adicionar uma clausula ao pedido, prometendo evitar acusações criminais contra autoridades israelenses na Corte Criminal Internacional de Haia.”

Eles responderam que não pretendiam, logo após a aprovação do reconhecimento, correrem até Haia para processar Israel.

Mas, caso Israel continuasse a violar as leis internacionais, especialmente construindo novos assentamentos nos territórios ocupados, então eles tomariam uma atitude para forçar o governo de Telaviv a comportar-se.

Tendo percebido que a vitória moral que desejavam acabará sendo dos palestinos, os israelenses reagiram prontamente.

“Não ficaremos passivos e ociosos”, declarou uma autoridade, “mas não são necessárias declarações. Nós responderemos na ocasião certa.”

Já se sabe que esta resposta não incluirá a denúncia do Acordo de Oslo e a conseqüente extinção da Autoridade Palestina.

O Haaretz informou que Hillary Clinton, na recente visita a Jerusalém, convenceu Netanyahu de que não seria conveniente desestabilizar a Autoridade Palestina. Afinal, ela presta serviços importantes a Israel, impedindo a ação de insurgentes nos territórios administrados e garantindo a comercialização de produtos israelenses na região.

Mesmo sem adotar essa atitude radical, Netanyahu dispõe de uma artilharia pesada de sanções para fulminar a administração palestina na Margem Oeste.

Segundo fontes do governo, o gabinete ministerial levantou uma série de medidas que poderiam ser tomadas para deixar os palestinos na pior.

– reter as taxas e impostos que Israel cobra, em nome da Autoridade Palestina. São cerca de 100 milhões de dólares mensais,  um terço do orçamento da região;

– cancelar a permissão de milhares de palestinos trabalharem em Israel;

– acelerar o programa de construção de novos assentamentos;

– anexar unilateralmente todos os principais blocos de assentamentos judaicos.

Não se sabe até que ponto Netanyahu está disposto a levar a cabo essas ameaças.

Na verdade, elas forçariam a queda do compreensivo Abbas e sua substituição por um elemento mais difícil de controlar.

Ou, pior do que isso, como Hamas e Fatah agora parecem ter se unido, a agressividade de Israel poderia provocar uma retaliação conjunta dos dois grupos.

Provavelmente a adoção de uma estratégia de resistência civil.

Que seria mais eficaz sendo a Palestina estado não-membro, armado do direito de levar Israel e seus chefes à barra dos réus do tribunal internacional.

Como já aconteceu com ditadores da África, líderes das políticas de limpeza racial na Guerra da Bósnia e outros indivíduos desse tipo.

 

 

 

 

 

 

 

Um comentário em “Mais do que uma vitória moral.

  1. Eça, desculpa pela demora em me congratular com você por este escaso e demorado mas ainda assim, justo, amplo e promissor reconhecimento das Nações Unidas da existencia de fato e de direio do Estado Palestino.
    A empáfia e prepotencia das autoridades israelenses apoiado no sionismo + brutal, desigual e recalcitrante ultrapassou a paciencia do mundo todo:.
    138 vs 9 (e uns 41 encima do muro provavelmente por covardia) foi a resposta

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