A Europa saiu do muro.

Até agora a Europa Unida vinha fazendo críticas meramente pontuais contra Israel. Violências do exército, assentamentos, prisões ilegais, derrubada de casas de palestinos, entre outros temas, receberam várias vezes as devidas condenações.

Mas os europeus ficavam nisso.

Quando era necessário tomar decisões que poderiam afetar Telaviv, eles  costumavam acompanhar os EUA, tomando o partido dos israelenses ou simplesmente fechando os olhos para suas transgressões serem esquecidas.

Mas Netanyahu abusou do direito de desprezar as leis internacionais e os direitos dos palestinos.

E os europeus acabaram se cansando.

Sua atitude, pouco mais do que contemplativa, começou a mudar.

Primeiro, apoiaram o ingresso da Palestina na UNESCO. Em seguida, seu reconhecimento pela ONU como país independente não- membro.

Os EUA e Israel ficaram praticamente isolados, apoiados por umas poucas ilhas da Oceania e a República Checa.

Agora, a União Europeia acaba de publicar um relatório que vai além das denúncias.

Ela não só analisa e condena a expansão dos assentamentos, como também revela os objetivos ocultos do estado israelense e recomenda ações contrárias aos interesses de Telaviv.

O relatório lembra que os assentamentos são ilegais de acordo com a lei internacional. Pelo artigo 49 da 4ª Convenção de Genebra, proíbe-se a transferência de populações civis para território ocupado.

E afirma que os assentamentos estão “promovendo uma anexação não- declarada que impede o estabelecimento de um estado palestino contíguo e viável e anula o direito do povo palestino à autodeterminação”.

Capítulo especial é dedicado aos assentamentos em Jerusalém Oriental.

O relatório critica os recentes projetos nas áreas de Har Homa, Gilo e Givat HaMatos, considerados os “mais significativos e problemáticos”.

De fato, caso continuem a ser desenvolvidos, até o fim do ano terão separado Jerusalém Oriental de Belém, na Margem Oeste (Cisjordânia).

Os autores do relatório advertem: “A construção destes 3 assentamentos é parte de uma estratégia, objetivando tornar impossível que Jerusalém Oriental seja a capital do futuro estado palestino.”

Mais do que isso: “…a separação efetiva entre Jerusalém e Belém, em fins de 2013, fará com que a realização da solução dos 2 estados viáveis fique muito difícil, se não impossível.”

Para se ter uma ideia do vulto da política expansionista de Israel em Jerusalém Oriental, em 2012 foram assentadas 2.336 novas unidades, mais de duas vezes o total dos três anos anteriores.

Destaca-se também os planos do governo Netanyahu de construir 3.421 unidades na área E1, que expulsarão 2.300 beduínos e dividirão a Cisjordânia pela metade.

Para os autores do relatório, a expansão dos assentamentos é uma política cuidadosamente elaborada com o fim de bloquear o estado palestino e tornar as Cisjordânia parte do estado judaico.

Os líderes israelenses afirmariam ardilosamente sua disposição de negociar a paz sem pré- condições, para deixar as autoridades palestinas mal perante a opinião pública, por sua recusa em aceitar negociações enquanto suas terras são roubadas.

Diante desta situação, a União Europeia faz 10 recomendações a seus membros contra atividades de Israel nos territórios ocupados, que descreve como “deliberadas, sistemáticas e provocativas”.

7 dessas recomendações representam sanções econômicas contra organizações que se envolvam em projetos de construções nos assentamentos israelenses.

Sugerem que os 27 estados membros “evitem, desencorajem e promovam a conscientização das implicações problemáticas de se realizar transações com empresas que atuam nos assentamentos.

Recomenda-se também que os produtos exportados pelos assentamentos não recebam qualquer vantagem como “tarifas preferenciais”, por exemplo.

E que as palavras “produto dos assentamentos israelenses” apareçam claramente nas embalagens dos produtos, para que os consumidores sejam alertados de sua origem.

O relatório também propõe “supervisão rígida” de pesquisas tecnológicas e programas de desenvolvimento entre a União Europeia e Israel.

O objetivo seria assegurar que “nenhuma subvenção a pesquisas, bolsas de estudo ou outros investimentos tecnológicos beneficiem os assentamentos, direta ou indiretamente.”

Com este relatório, a Europa não chega a um boicote dos produtos dos assentamentos. Mas se aproxima disso.

É possível esperar que cause perdas sensíveis à economia israelense já que o bloco dos 27 países europeus é o líder no comércio exterior israelense, representando um terço das transações.

Parece também que Obama já não controla – ou não quer controlar – as decisões da Europa em relação a Israel. Fiz essa ressalva porque ainda tenho dúvidas de que o presidente americano pretenda tomar o freio nos dentes e se livrar da sua dependência ao Congresso, semper fidelis a Telaviv.

Agora que os europeus estão saindo do muro, talvez Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, faça o mesmo.

E processe Israel no Tribunal Criminal Internacional. Motivos não faltam.

 

 

 

 

 

Um comentário em “A Europa saiu do muro.

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