Israel, first.

Num dos países mais nacionalistas do mundo, importantes setores da sociedade põem os interesses de um país estrangeiro em primeiro lugar.

Nos EUA, a maioria do Congresso e dos grandes partidos, consciente ou inconscientemente, defendem Israel antes de tudo.

Isso pode ser creditado a diversas influências, principalmente à dos lobbies pró-Israel, dos quais, de longe o mais forte, é a AIPAC.

Só para dar uma ideia: ela tem 100 mil membros  e, em 2006, segundo Richard Cohen no Washington Post, financiou 60% dos recursos de campanha do partido Democrata e 35%, do Partido Republicano.

E, na convenção que lançou a candidatura de Obama à reeleição, os chefes do Partido Democrata submeteram a declaração final ao lobby.

A AIPAC costuma ecoar a voz do governo de Telaviv.

Em 2011, por exemplo, quando Obama declarou que a independência da Palestina tinha de vir logo, com base nas fronteiras de 1967, ela agiu rápido.

Após o esperado protesto de Netanyahu, a AIPAC mobilizou os congressistas americanos para convocarem o premier israelense para uma sessão solene.

E Bibi veio, sendo recebido como um herói pelo Congresso em peso, onde , delirantemente aplaudido, bradou contra a proposta de Obama.

Como se sabe, um assustado Obama correu logo para uma reunião da AIPAC para dar explicações, agitando a bandeira branca. E nunca mais falou em “fronteiras de 1967”.

No último fim –de -semana, 13 mil ativistas da AIPAC desembarcam em Washington para a convenção anual do lobby.

Tinham 3 grandes objetivos, todos eles importantes para Israel e bastante desfavoráveis para Tio Sam.

O primeiro era impedir que o “sequestro” reduzisse os 3,1 bilhões de ajuda enviados todo ano a Israel pela Casa Branca.

Como se sabe, em fins de 2011, como os congressistas não chegassem a um acordo sobre como reduzir o déficit público, foi feito um acordo que previa corte automático de 85 bilhões nas despesas federais, o chamado “sequestro”.

O governo teria de reduzir as verbas que considerassem menos essenciais, em cada uma das áreas.

Caso não mexesse nos 3,1 bi para Israel, teria de cortar programas sociais para pobres ou inabilitados; mexer na sua Reforma de Saúde, deixando centenas de milhares de famílias sem proteção ou cortar verbas na Educação, apoio a velhice e a crianças, sem falar em outras exclusões menos populares em programas militares e apoio a outros países.

Claro que seria profundamente injusto prejudicar velhos, pobres e crianças para não precisar reduzir o número de mísseis e aviões cedidos a Israel.

O povo americano ficaria absolutamente furioso. E com razão.

Não só contra Obama, mas também contra deputados e senadores cúmplices nessa manobra.

Por isso, a manobra dos líderes da AIPAC é pressionar o Congresso para aprovar lei designando Israel como “o principal aliado estratégico”, o que habilitaria Telaviv a um status único no seu relacionamento com os EUA.

Na verdade, isso já acontece, mas não havia uma lei que estabelecesse formalmente.

O que a AIPAC espera é que essa uniqueness distinga Israel dos outros países auxiliados pelos americanos, movendo a verba de ajuda a Israel para o orçamento do Pentágono, como item “estratégico”, associado à segurança nacional.

Ali poderia ficar de fora dos cortes que incidiriam sobre outras despesas militares.

Evidentemente, fica mais fácil justificar em favor de Israel o corte de despesas com armamentos do que da ajuda a crianças, velhos e pobres.

Outro objetivo da conferência da AIPAC era bombardear as negociações com o Irã.

Neta nyahu está muito preocupado porque a última reunião do P5+1 (EUA, Reino Unido, França, Russia e China +Alemanha) teve resultados otimistas.

Ele clamou que não se pode confiar nos iranianos; que as reuniões de discussão do programa nuclear são para lhes dar tempo para construir sua bomba A; que as sanções fracassaram e o Ocidente deve dar um ultimato: ou fecham Fordow, param de enriquecer urânio a 20% e entregam todo o seu estoque desse urânio ou..guerra!

Pressurosamente, os senadores do Israel First, Lindsey Graham e Roberto Menendez, apresentaram uma lei, recomendando que os EUA dessem todo apoio militar, econômico e diplomático a Israel caso esse país resolvesse atacar o Irã.

Novamente o pessoal do Israel, First colocou-se contra os EUA.

É sabido que há uma divergência fundamental entre Obama e Bibi Netanyahu quanto à linha vermelha que ultrapassada, justificaria o bombardeio das instalações nucleares iranianas.

Enquanto que para o Obama isso aconteceria somente quando ficasse provado que o Irã estava fabricando uma bomba nuclear, para Netanyahu bastaria que ele tivesse “capacidade nuclear.”

Ora, isso o Irã já em. Como pode enriquecer urânio a 20%, não seria difícil chegar aos 80,90% necessários para produzir o artefato temido.

Portanto, Netanyahu já teria motivos para atacar.

Se a lei dos prestimosos senadores fosse aprovada, Obama seria forçado a ir junto, mesmo contra a sua política.

E contra os interesses americanos também.

No ano passado, simulação do Pentágono concluiu que, em caso de ataque de Israel ao Irã, com apoio dos EUA, centenas de americanos seriam mortos já no dia seguinte.

Finalmente, o terceiro objetivo da AIPAC é promover o apoio de uma lei, que corre no Congresso, autorizando os EUA a punir com sanções as empresas, inclusive da Europa e da Ásia, que realizassem qualquer tipo de transação com o Irã.

Embora, atualmente, as exportações de produtos médicos ao Irã sejam livres, as  sanções aos bancos envolvidos nessas transações tem restringido bastante sua entrada no país.

O resultado é que há falta de medicamentos, deixando centenas de milhares, senão milhões de doentes iranianos em situação extremamente delicada.

Sendo aprovada a nova lei,  condenaria à morte antecipada uma enorme quantidade de pessoas inocentes.

Os 13 mil agentes da AIPAC estão em ação no Congresso, pressionando representantes e senadores a votarem contra os EUA e contra os direitos humanos.

Mas terão de enfrentar uma outra organização judaica americana, talvez não tão poderosa: a “A Voz Judaica Pela Paz”.

Seus militantes defendem a paz com o Irã e a independência da Palestina, além de combater os assentamentos.

Diz Rebecca Vilkomerson, diretora executiva: “A AIPAC é a NRA (associação dos defensores de armas de fogo) dos lobbies de política internacional, pressionando por uma agenda de direita que não representa a maioria dos judeus americanos; seu apoio ao incremento militar e expansão sem fim dos assentamentos torna a paz impossível. Ela não pode clamar que representa todos os judeus americanos.”

 

A Voz Judaica colocou milhares de posters nos vagões do metrô, com fotos de diversos judeus.

“A AIPAC não fala por mim. A maioria dos judeus americanos são a favor da paz“, eles afirmam.

Nesta semana, decide-se mais um round da luta entre os americanos que põem Israel em primeiro lugar e aqueles que privilegiam a America.

Façam suas apostas.

 

 

 

 

 

 

 

 

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