Uma solução alternativa para a Palestina.

Dia 29 de abril deve ser sepultada a solução das negociações para a independência da Palestina.

É quando acaba o prazo estabelecido para que israelenses e palestinos cheguem a um acordo.

É possível que John Kerry, o Secretário de Estado dos EUA, ainda consiga um adiamento, mas ninguém acredita que, se for assim, isso resultará no desejado acordo.

A questão que se coloca agora é: o que farão Abbas, o Presidente da Autoridade Palestina, e os chefes do Fatah ? E o Hamas, que governa Gaza?

Abbas já anunciou que renovará ao Conselho de Segurança da ONU o pedido de reconhecimento da Palestina como membro completo da organização.

Com o fracasso das negociações entre as partes, os EUA, Reino Unido e França, que garantiram ser o único caminho para se chegar à paz, ficarão numa situação difícil.

Moralmente, teriam de, desta vez, apoiar a reivindicação palestina, que negaram no ano passado.

Mas, moral nem sempre é relevante em política internacional.

O provável é que a Casa Branca, pressionada pelos lobbies judaico-americanos e pelo Congresso, não mudará de posição, apesar da imensa perda de prestígio internacional em jogo.

A França e o Reino Unido, envergonhados, deverão procurar ficar em cima do muro.

Acredito que, desta vez, provada a ineficácia das “negociações diretas”, Abbas ganhará a maioria no Conselho de Segurança.

Mas ele sabe que os americanos vão vetar.

Seu lance será assinar as 63 convenções internacionais ainda disponíveis e associar-se a todas as organizações ligadas ou não à ONU.

Terá força moral até mesmo para solicitar apoio do FMI e do Banco Mundial, embora, não sendo a Palestina um estado –  membro da ONU, como os regulamentos dessas instituições exigem.

O que mais Israel e os EUA temem é que o presidente palestino leve o governo de Telaviv ao banco dos réus do Tribunal Criminal Internacional, por violação dos direitos humanos e das leis internacionais, com base na ilegalidade dos assentamentos e nas violências do exército israelense contra palestinos.

Duvido que Abbas o faça, pois ele tem mostrado acreditar firmemente que nunca conseguirá a independência do seu país sem o apoio dos EUA.

Admito ser possível que elementos mais à esquerda do Fatah ganhem poder suficiente para pressionar Abbas a processar Israel em Haia.

Mas, até agora o presidente tem mantido as rédeas do movimento firmemente em suas mãos.

Por sua vez, o Hamas tão cedo não deve promover algo semelhante a uma nova Intifada.

Ele acabou há muito tempo com os atentados e sabe que lançar mísseis contra Israel só pode lhe acarretar retaliações amargas e destrutivas.

Além de dar motivos para novas guerras, que deixariam Gaza em situação ainda mais precária.

Não excluo a possibilidade de um ataque aéreo israelense matar líderes rebeldes, radicalizando as posições do Hamas e o levando a lançar mísseis vingativos contra Israel.

O que detonaria um conflito mais amplo.

Mas as chances são remotas.

Os  líderes do Hamas vem evitando sistematicamente ataques contra o território israelense. Poucas exceções tem acontecido, porém em escala não mais do que simbólica.

Acredito que o Hamas ficará à espera de que ocorram circunstâncias especiais.

Como por exemplo, que o aumento da população árabe de Israel ponha em risco seu caráter de Estado sionista, desenhando-se uma situação de crise, onde a ação do Hamas possa encontrar brechas para ser produtiva.

Portanto, as principais chances são de que nada mude na situação da Palestina, com Netanyahu expandindo continuamente os assentamentos – diante de protestos dos palestinos e até punições perfunctórias da comunidade internacional.

No entanto, ainda que pouco considerada, há uma terceira solução para o problema da independência da Palestina.

É a “resistência civil”, proposta por Mawram Barghouti, o chamado  Mandela palestino.”

Ele se distinguiu como um crítico da corrupção que existia entre os líderes do Fatah, durante os tempos de Yasser Arafat, das violações dos direitos humanos e das negociações frustradas com Israel.

Defensor dos direitos dos palestinos, foi um dos principais líderes das duas intifadas, onde firmou sua imagem de honestidade, coragem e confiabilidade.

Em 2002, seqüestrado de forma ilegal por comandos israelenses de sua residência em Ramalá, na Cisjordânia, Barghouti foi levado a Israel, onde o condenaram a 5 penas de prisão perpétua por suposto envolvimento em 5 assassinatos.

Ele sempre negou as acusações, embora admitisse o direito dos palestinos se rebelarem pelas armas.

Como aconteceu com Mandela, o prestígio de Barghouti cresceu na prisão junto a seu povo e também a políticos e grupos israelenses de direitos humanos.

Apesar de já ter passado um total de 18 anos na prisão (contando outras penas que cumpriu anteriormente), ele não guarda ódios contra Israel.

Sua posição é bem clara: “Eu…me oponho fortemente a ataques contra civis em Israel, nosso futuro vizinho.Eu ainda procuro coexistência pacífica entre os igualmente independentes Israel e Palestina, baseada na retirada total dos territórios palestinos ocupados em 1967.”

No ano passado, do interior do cárcere, ele enviou a seu povo um documento expondo suas idéias sobre a libertação do país.

Barghouti condena tanto as negociações de Abbas com Israel, quanto a luta armada do Hamas, como ineficazes.

Propõe a “resistência civil”, o fim de toda cooperação dos palestinos com Israel.

Os serviços de segurança da Autoridade Palestina não devem mais colaborar com as autoridades de ocupação na prevenção de ataques contra o exército e o território de Israel e na proteção dos assentamentos.

Caberá ao povo e autoridades boicotar totalmente os produtos, instituições e lojas israelenses na Cisjordânia. E apoiar ao BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que propõe, em todo o mundo, boicote econômico, cultural, esportivo e científico de importações, exportações, produtos, instituições e eventos israelenses, enquanto durarem os assentamentos e a ocupação.

Além disso, ativistas e  aliados devem promover campanhas  internacionais de denúncias das violências e ilegalidades praticadas por Israel e seu exército.

A renovação da solicitação de ingresso na ONU e o processamento de Israel no Tribunal Criminal Internacional deverão ser levados a cabo sem demora.

Ele sustenta, ainda, ser necessário que o Hamas, em Gaza, e o Fatah, na Cisjordânia, parem de brigar e façam as pazes, unindo-se no movimento de libertação.

Somente assim o lado palestino ficaria forte e o governo de Telaviv teria de aceitar um acordo justo que garantisse uma Palestina viável e um Israel seguro.

Mas a “resistência civil” só poderia se viabilizar se fosse liderada por alguém, respeitado tanto pelo Hamas, quanto pelo Fatah. E mesmo por Israel.

Ou seja, por Barghouti.

Segundo as pesquisas, ele se elegeria presidente da Palestina, obtendo muito mais votos do que Abbas e Ismail Hanyeh (do Hamas).

No momento, isso parece remoto.

Enquanto os dois movimentos palestinos não se unirem, não haverá eleições na Cisjordânia e Gaza.

As pazes já foram tentadas muitas vezes, sempre sem êxito.

Embora Hamas e Fatah respeitem Barghouti, nenhum abre mão de suas idéias sobre a libertação da Palestina, o que os mantêm em posições radicalmente opostas.

Isso poderia mudar se Israel libertasse Barghouti.

Há personalidades importantes que defendem essa idéia.

O presidente Shimon Peres, por exemplo, já declarou que se o Congresso de Israel lhe apresentasse a ordem de perdão a Barghouti, ele assinaria.

Os políticos mais abertos de Israel sabem que ele poderia ser a chave para conseguir paz na Palestina.

Barghouti tem a confiança desses setores de que, eleito presidente da Palestina livre, saberá zelar para garantir a segurança de Israel.

E não é segurança que os israelenses alegadamente temem ser posta em risco no caso da Palestina ficar independente?

Caso Israel libertasse Barghouti, o apoio do povo seria irresistível. Hamas e Fatah não poderiam deixar de lançar sua candidatura (em princípio, ele já aceitou) certamente vitoriosa.

E de aceitar seu plano de “resistência civil” e, posteriormente, os termos de um acordo justo a ser firmado com Israel.

Por enquanto, isso não aparece no horizonte.

A paz de Netanyahu, do Likud e de Benett, da ultra-direita, não é a que  Barghouti deseja. Nem de longe.

Portanto, o líder palestino precisa ficar preso.

O que Telaviv vai fazer é insistir no adiamento das negociações.

Conseguindo ou não, seu plano é prosseguir expandindo os assentamentos até reduzir tanto o território palestino que sua existência como Estado se torne inviável.

Quanto aos palestinos, ainda há uma réstia de esperança: dar uma chance à “resistência civil”, mesmo com Barghouti na cadeia.

Evidentemente, a reação israelense seria poderosa.
Há um leque de opções disponíveis: retenção dos 100 milhões de dólares mensais em impostos recolhidos por Israel em nome da Autoridade Palestina, expulsão de todos os trabalhadores palestinos que trabalham em Israel, fechamento total das fronteiras de Gaza e da Cisjordânia, fim da Autoridade Palestina, além de prisões indiscriminadas.

A maioria dessas possíveis retaliações são ou pouco eficazes ou exageradamente violentas, capazes de criar um verdadeiro escândalo internacional que chocariam até os EUA.

Deixar de repassar aos palestinos os 100 milhões mensais de impostos devidos não vai causar crise alguma. A Liga Árabe já se propôs a fornecer essa quantia.

Expulsar os 80 mil palestinos que trabalham em Israel seria ruim para a Palestina, mas nem tanto. A maioria dos trabalhadores palestinos– cerca de 920 mil – trabalham em território da Cisjordânia.

No caso de acabar com a Autoridade Palestina, Israel estaria rompendo o acordo de Oslo. O que seria muito grave, pois este acordo foi firmado com grande parte dos países ocidentais. Pelo Direito Internacional, Israel ficaria obrigado  a administrar a Cisjordânia, o que envolveria o gasto de recursos pesados.

O fechamento das fronteiras da Cisjordânia bloquearia as exportações palestinas, mas seria fatalmente rechaçado pela ONU.Nem os EUA teriam coragem de vetar.

Além disso, poderia causar o rompimento de relações com a Jordânia , por onde elas passariam, que é  uma das duas únicas nações árabes que mantém relações com Israel.

O bloqueio total de Gaza causaria indignação mundial. O Egito se veria pressionado pela Liga Árabe a reabrir suas fronteiras com o Estreito.

Há também medidas menos virulentas que Israel poderia tomar para tentar sufocar a Palestina: cortes de todos os laços econômicos, ou seja investimentos, comércio  ou subsídios.

Na verdade, isso em nada vai afetar a economia palestina.

Israel investe especialmente nos assentamentos judaicos que empregam atualmente cerca de 18 mil trabalhadores palestinos. Eles não serão despedidos – seus patrões precisam deles.

Longe de estimular o desenvolvimento econômico da Cisjordânia, o governo de Israel o obstaculiza através de uma série de restrições impostas aos palestinos.

Eles tem acesso limitado à água, energia elétrica e à livre circulação por uma série de check-points militares e estradas proibidas.

Diz relatório do Banco Mundial (outubro de 2013): “ Mais da metade da Cisjordânia, a maioria de suas terras agriculturáveis e riquezas são inacessíveis aos palestinos.”  O relatório calcula que o impacto potencial da existência dessas “áreas restritas” na economia palestina é de 3,4 bilhões de dólares. Estima que se fazendas e negócios fossem autorizados a se estabelecer na área C, o PIB palestino aumentaria em 35%.

E a receita pública cresceria em mais 800 milhões de dólares o que cortaria o déficit atual pela metade.

A Palestina, segundo o Banco Mundial, teria plenas condições de ter uma economia sustentável sem precisar viver às custas de doações de países árabes e ocidentais e da ONU.

Com a independência, os vastos recursos minerais do Mar Morto poderiam ser explorados por indústrias de cosméticos e para a exploração de matérias-primas como sal, areia e lama.

Com investimento adequado, o Turismo na região teria grandes chances assim como nas cidades ligadas à vida de Cristo.

Se Israel optasse por vencer os palestinos pela fome não conseguiria e ficaria mais isolado do que nunca.

Exatamente o que aconteceu com a União Sul-Africana.

E todos sabem no que deu.

Mas, deixando de bancar Nostradamus, lembro que o objetivo deste artigo é apenas mostrar que existe uma terceira alternativa para solução da independência da Palestina.

E ela até que é viável.

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