Trump está prestes a anunciar seu famoso “plano salvador” para a crise palestina.
Sabe-se que ele pressionou os ricos países do Golfo Pérsico para forçarem os líderes palestinos a aprovarem uma solução profundamente indigesta. Só depois de resolver a questão palestina, os EUA topariam colocar na mesa seu poder político e especialmente militar para dobrar o Irã, inimigo-mor das monarquias lideradas pela Arábia Saudita.
Conforme fontes seguras, vai ser difícil fazer os palestinos engolirem pontos como a renúncia à volta dos refugiados expulsos em 1948 e 1967; Jerusalém indivisível, capital de Israel; um Estado palestino dividido em regiões não-contíguas; controle das fronteiras pelo exército israelense; anexação da maioria dos assentamentos ao Estado de Isarel.
Por mais que os reis e emires que governam a Arábia Saudita, o Bahrein, a União dos Estados Árabes do Golfo e o Kuwait sejam extremamente autocratas, não poderão dormir em paz se os seus próprios súditos rejeitarem o sacrifício dos palestinos, de acordo com o diktat dos EUA e os interesses de EUA e Israel.
A pesquisa Índice da Opinião Árabe, do Centro Árabe de Pesquisas e Estudos Políticos, sediado no Qatar, dá algumas informações relevantes a esse respeito.
Realizada anualmente desde 2011, essa pesquisa ouviu 18 mil cidadãos de 11 países árabes, da Mauritânia até o Líbano. Apresento a seguir seus principais resultados.
Foi medida, inicialmente, o modo com que os respondentes avaliavam as políticas externas de 6 países: EUA, Rússia, Irã, Turquia, França e China.
Os EUA ficaram em último, com 79% de condenações e apenas 12% de aprovações.
O Irã ficou em penúltimo: 64% contra, 21% a favor.
Em seguida vieram a Rússia e a França, também com opiniões negativas superando as positivas, porém com números muito menores.
A China teve mais respostas favoráveis (44%, do que contrárias -32%).
A melhor imagem foi atribuída à Turquia: 56% de elogios versus 34% de críticas.
Israel foi considerado o país que representa a maior ameaça à segurança nacional, por 90% dos respondentes.
Nesse quesito, os EUA classificaram-se num desconfortável segundo lugar, com 84% de menções. Depois veio o Irã – 66% e a Rússia -57%.
Mais árabes, 45% não vêm a França como ameaça, do que acham o contrário- 36%
A Turquia (53% x 34%) e a China (51% x 28%) se saem ainda melhor.
87% dos árabes rotulam de negativa a política dos EUA em relação à Palestina. Só13% aprovam. Situação pior do que se verificou em 2016, último ano do governo Obama, quando os críticos somavam 79%,
A política dos EUA na Síria também é majoritariamente reprovada – 81% condenam. No Iraque, são 82% aqueles que dão nota baixa aos EUA.
Mais de 75% dos povos do mundo árabe defendem a causa dos palestinos. Quase 90% disseram que Israel é uma fonte de instabilidade na região (não o Irã, como Trump e assessores garantem). ¾ da população diz que a independência da Palestina interessa a todo o mundo árabe, não apenas aos palestinos.
A aversão a Israel aparece quando 87% desaprovam o reconhecimento de Telaviv pelos países árabes. Explicam que os motivos são: o mamltratamento dado aos palestinos, a política colonial de Israel, o racismo e as políticas expansionistas dos israelenses.
Apenas 8% aceitam algum tipo de reconhecimento diplomático formal de Israel, desde que termine a ocupação militar da Cisjordânia, o bloqueio de Gaza e seja fundado um Estado Palestino independente.
Estes resultados podem ter surpreendido alguns monarcas árabes.
É verdade que tiranos costumam agir sem ligar muito para o pensamento do povo.
Trata-se de uma prática perigosa para sua sobrevivência a médio ou longo prazo.
Com medidas populistas e forças de repressão eficientes, eles podem manter o povo na linha.
Mas não para sempre, como a Primavera Árabe provou. Na maioria dos países, ela acabou devidamente enquadrada.
Mas as aspirações, a raiva e as carências, que estavam por trás da Primavera Árabe, continuam vivas.
Acabarão saindo para fora. Podem demorar, mas quando for a hora, deverão ser radicais, já que alimentadas pelas inensas emoções recalcadas.
Atualmente, os reis dos países do Golfo Pérsico e seus aliados conspiram com os EUA e Israel para imporem um acordo desastroso aos palestinos e fazerem guerra econômica, ou possivelmente militar, ao Irã.
Seria útil aos reis árabes analisarem a pesquisa do Índice do mundo árabe com cuidado.