“Em nome de Deus, em nome deste sofrido povo cujos lamentos sobem até o céu cada dia mais tumultuoso, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno, que cesse a repressão”.
Foi o apelo feito pelo arcebispo dom Óscar Romero ao exército de El Salvador, durante seu sermão na catedral, no dia 23 de março de 1980.
A resposta ele recebeu no dia seguinte. Foi assassinado a tiros em plena missa por um militar, atirador de elite treinado na Escola das Américas.
Dom Óscar Romero vinha defendendo os camponeses, índios e pobres, denunciando as violências praticadas pelo exército e os esquadrões da morte de paramilitares.
Sua pregação incomodava e enfurecia os donos do poder, especialmente por se tratar de alto dignatário de uma Igreja normalmente submissa.
A guerra civil, iniciada no ano do assassinato do arcebispo, durou 12 anos, tendo sido mortas mais de 75 mil pessoas.
Eram tempos de Guerra Fria e os EUA, temendo uma nova Cuba, apoiaram as forças do governo, apesar dos inúmeros atentados aos direitos humanos que cometeram, fornecendo cerca de 7 bilhões de dólares em ajuda militar.
O assassino de dom Óscar jamais foi julgado, beneficiado por uma lei de anistia, assinada em 1993, no fim da guerra civil.
Considerado um autêntico herói da Igreja Católica, o arcebispo teve seu processo de santificação iniciado pouco depois da sua morte.
Na primeira etapa, ele teria de ser declarado mártir da Igreja.
No entanto, os anos passaram e nada aconteceu.
Segundo o arcebispo Vincenzo Paglia, compreender Romero exigiu tempo, porque “havia muitos preconceitos sobre o assunto”, alguns setores o acusavam de ser um “líder marxista” pois criticava a oligarquia, a repressão e a grande pobreza em El Salvador.
Sua frase, “a missão da Igreja é identificar-se com os pobres. Assim a Igreja encontra sua salvação,” o associaria à Teologia da Libertação, movimento mal digerido por grande parte da hierarquia religiosa.
De um modo geral, considerava-se que Romero seria um “mártir de suas idéias sociais”, não de sua fé.
O Papa Francisco acabou com todas estas dúvidas e hesitações.
Decretou que Óscar Romero era um mártir da fé católica, sim, devendo brevemente ser declarado beato.
Só um santo seria capaz de dar a vida pelos pobres.