O drama dos palestinos começou em 1948.
Sentindo-se culpado por ter fechado os olhos para o holocausto, o mundo criou um Estado para os judeus.
E, sacramentado pela ONU, surgiu o Estado de Israel, ocupando 55% do território da Palestina, sendo apenas 44% atribuído aos árabes.
499 mil judeus e 483 mil árabes viviam em Israel, onde se localizava a maioria ds terras férteis e 400 das 1.200 aldeias árabes. O Estado árabe era habitado por 818 mil palestinos e 10 mil judeus.
Inconformados pelos palestinos terem de entregar mais da metade do país que habitavam há 14 séculos a um povo que só chegara nos últimos 60 anos, os países árabes vizinhos atacaram Israel.
Mas foram derrotados.
Vencedor, Israel impôs uma nova partição: agora passava a contar com 78% do território, ficando a Cisjordânia (20% do território) para a Jordânia (onde se refugiaram 700 mil palestinos, expulsos pelo exército israelense) e o estreito de Gaza sob controle egípcio.
Foi quando o conde Folke Bernadotte, mediador da ONU entre árabes e judeus, chocado com essa “infortunada divisão”, propôs uma alternativa, menos desumana para os palestinos.
À sua proposta de trocar territórios por paz, o movimento terrorista judaico Lehy respondeu com a guerra, assassinando o conde Bernadotte.
Em 1953, foi fundado o movimento revolucionário Fatah, sob liderança de Yasser Arafat, com o objetivo de recuperar toda a Palestina pela via das armas.
Em 1964, esse e outros grupos criaram um movimento que abrangeu a maioria dos revolucionários: a OLP.
Em 1967, quando Nasser do Egito procurava criar uma aliança da países árabes contra Israel, aconteceu a chamada “Guerra dos 6 dias”.
Sem declaração de guerra, a força aérea israelense bombardeou de surpresa os aeródromos egípcios (algo semelhante ao que aconteceu em Pearl Harbor), destruindo no solo todos os aviões do Cairo, o que garantiu a vitória antes mesmo do jogo começar.
Nessa ocasião, o governo de Telaviv declarou que se defendera de um ataque maciço que os egípcios e países liderados se preparavam para desfechar contra Israel.
Teria, portanto, a justiça a seu lado.
Essa versão foi tão bem vendida ao mundo que, apesar dos desmentidos árabes, passou por verdade indiscutível.
Só recentemente, a revelação de documentos sigilosos de altas autoridades dos EUA, França, Reino Unido e União Soviética demonstrou que não fora bem assim.
No seu livro “The Six-Day War and Israeli Self-Defense: Questioning the Legal Basis for Preventive War”, John Quigley, professor de direito da Universidade de Ohio, dá uma nova versão dos fatos, inquestionável pela documentação apresentada.
Ele publica minutas de reuniões do gabinete ministerial inglês; de uma publicação do governo francês e documentos americanos do relatório Foreign Relations of the United States, onde se lê que Israel sabia que o Egito, a Síria e a Jordânia não pretendiam, nem queriam atacar o país, pois ainda não tinham condições de derrotar seus inimigos.
Mas Israel aproveitou as mobilizações militares e ameaças dos árabes para justificar uma guerra preventiva, que dizimou as forças do Egito. E propiciou às forças israelenses a conquista de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia, completando seu domínio sobre toda a Israel dos tempos bíblicos, sonho dos líderes sionistas.
Em 1973, derrotados numa terceira guerra, os países árabes fizeram a paz com Israel, sendo que Egito e Jordânia até trocaram embaixadores, reconhecendo o Estado israelense.
Mas os palestinos ficaram de fora.
Não lhes foi oferecida qualquer compensação territorial pela perda das regiões que sempre foram suas.
Movimentos rebeldes não cessaram de lutar contra Israel.
Entre outras ações, lançaram atentados que vitimaram civis israelenses inocentes.
Reunindo a maioria desses movimentos, a OLP (Organização Pela Libertação da Palestina) acabou reconhecida pela ONU como representante do seu povo.
Em 1988, Iasser Arafat, o presidente da OLP, anunciou que sua organização renunciava e condenava o terrorismo e aceitava a existência de Israel, mas insistia na independência da Palestina, na Cisjordânia, ocupada militarmente por Telaviv.
Com esta redução capital das reivindicações palestinas, parecia se abrir caminhos para a solução da crise.
Essa abertura foi ampliada em 1993, com o acordo de Oslo, no qual Israel e palestinos concordaram na solução dos “2 Estados e 2 povos independentes”.
Aprovou-se um plano para, por etapas, se chegasse à independência da Palestina.
A Cisjordânia foi, provisoriamente, dividida em três áreas. A maior delas, a área C, ficou sob administração e segurança de Israel. Na menor, a área A, uma Autoridade Palestina , sob controle de Israel, assumiria suas administração e a segurança.
Seria uma forma de provar aos israelenses que os palestinos poderiam ser vizinhos pacíficos. E, de fato, mantendo estreita colaboração com o exército israelense, a Autoridade Palestina, durante 25 anos, evitou que terroristas lançassem atentados a Israel, partindo da área A.
Até agora, esse esforço não convenceu Israel a retirar suas tropas que ocupam a região.
Já aconteceram várias tentativas para se negociar uma paz duradoura.
Todas elas fracassaram porque Israel não tinha e não tem o menor desejo de entregar a Cisjordânia conquistada em 1967.
Sempre que se esteve perto de um acordo, os israelenses roeram a corda.
Partiu de Ben-Gurion, um dos pais da pátria israelense, uma explicação desse comportamento: “seremos capazes não só de nos defendermos, mas de infligir golpes letais aos sírios em seu próprio país—e tomar a Palestina como um todo”.
Depois da eleição de Mahmoud Abbas para presidente da Autoridade Palestina, sob o patrocínio dos EUA, o movimento Hamas, que antes prometia destruir Israel, caiu na real.
Em 2006 aboliu oficialmente o terrorismo.
Em 2010, seu líder Ismail Hanyeh declarou numa conferência de imprensa em Gaza: “Nós aceitamos um Estado palestino nas fronteiras de 1967, com Jerusalém como capital”. Renunciava portanto ao território que hoje é Israel.
Contentava-se com a independência da Palestina no território definido pela ONU antes da guerra de 1967.
No entanto, para se chega à paz, mais outras questões precisavam ser discutidas: a posse de Jerusalém Oriental, a volta ou reparação financeira dos 700 mil palestinos expulsos na fundação de Israel e o reconhecimento de Israel como país sionista.
Em 2012, pressionado pelo presidente Obama, o governo Nertanyahu topou se sentar à mesa de negociações com os palestinos, os quais também topavam.
No entanto, exigiam a libertação dos presos políticos.
E, principalmente, o fim da expansão de assentamentos em terras da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Nada mais lógico.
Como Israel dizia-se favorável à solução dos 2 estados independentes, sendo o palestino instalado na Cisjordânia, porque insistia em construir assentamentos nessa região? Afinal, ela não passaria a se constituir na Palestina independente?
Israel sempre se negou a interromper os assentamentos, que, aliás, já contam com 500 mil habitantes.
E as negociações não foram em frente.
Mas o presidente Obama pressionou e Abbas cedeu: novas negociações de paz poderiam começar mesmo com mais assentamentos continuando a serem criados.
Para facilitar tudo, os palestinos aceitavam trocar os principais blocos de assentamentos na Cisjordânia por regiões pouco habitadas de Israel.
Sobre quem teve a culpa no fracasso desta e de outras tentativas análogas vou citar o presidente Barack Obama.
Em entrevista à TV de Israel, ele declarou que as propostas de paz estabelecidas por Netanyahu incluíam “tantas advertências, tantas condições que não é realista pensar que essas condições poderiam ser atendidas em qualquer momento num futuro próximo”.
E acrescentou: ”No momento, a comunidade internacional não acredita que Israel é sério sobre a solução dos dois estados.”
Agora, mais do que nunca.
Provavelmente o chamado acordo do século foi confeccionado pelo presidente Trump sob medida para os israelenses.
The Donald já provou à saciedade que está com Netanyahu e não abre.
Depois que ele nomeou para encaminhar a solução da crise seu genro Jared Kushner, cuja família é doadora dos assentamentos, e Jason Greenblat, notório defensor de Israel, as esperanças de uma solução justa tremeram.
E rapidamente morreram com medidas de The Donald altamente reveladoras de sua posição pró-Israel: fechamento dos escritórios da OLP em Washington; reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e instalação da embaixada americana na cidade – ações condenadas pela ONU; corte da ajuda dos EUA aos refugiados e à população de Gaza e defesa agressiva dos interesses israelenses na ONU demonstraram que não se podia esperar nada do acordo século, a não ser mais um desacordo.
Em 20 de maio, sogro& genro anunciaram que o acordo do século seria apresentado em etapas.
Na primeira, a se realizar em 25 e 26 de junho, no Bahrein, as nações ricas do Golfo Pérsico, mais algumas outras da Europa e da Ásia, discutiriam maciços investimentos no território palestino ocupado por Israel.
Só depois desta parte do acordo ser acertada, se marcaria uma reunião para se tratar dos aspectos políticos.
Trump ofereceu alguns detalhes básicos do seu acordo.
A ideia geral é conceder 68 bilhões de dólares em investimentos em troca de concessões nas reivindicações histórias dos palestinos: direito de retorno dos refugiados, criação de um Estado palestino nos limites traçados pela ONU, fim dos assentamentos e Jerusalém Oriental capital do futuro Estado dos palestinos.
A rejeição dos líderes palestinos tem sido unânime.
Não vão vender as esperanças de uma Palestina independente e de uma solução justa para os problemas do seu povo.
O chanceler da Autoridade Palestina, Riyad al-Maliki, afirmou que a proposta dos EUA “não é um plano de paz, e sim condições para uma rendição (dos palestinos)”.
Não acredito que a União Europeia, a Rússia e a China aprovem mais esta malazarte do habitante da Casa Branca.
The Donald parece acreditar que o dinheiro compra tudo.
Poderá ter uma amarga surpresa.