O Waziristão é uma região do Paquistão que faz fronteira com o Afeganistão.
Trata-se de uma sociedade comunitária, com famílias de 60 a 70 pessoas que vivem no mesmo local. As mulheres cozinham juntas, as famílias comem e dormem juntas. Casamentos e funerais são importantes acontecimentos sociais, com a participação das famílias e muitos amigos.
Isso antes dos drones aparecerem nos céus do Waziristão.
Aproveitando a proximidade com o Afeganistão, os talibãs costumam fugir para o Waziristão e lá se esconderem.
Os americanos, nos tempos de Bush, começaram a lançar drones (aviões sem piloto) no Waziristão para lançar mísseis e matar os talibãs que ali estavam.
Com Obama, o número de ataques de drones multiplicou-se. Passaram a ser 1 a cada 4 dias.
As notícias que chegam do Waziristão reportam um grande número de civis mortos ( além dos talibãs) e o horror da população.
O Code Pink, uma organização de mulheres americanas que lutam pela paz mundial, enviou um grupo de pesquisadoras para conhecer a situação nas aldeias do Waziristão.
Seu relatório é trágico.
É comum haver mais de 6 drones voando sobre a região, 24 horas por dia, fazendo um ruído perturbador, um zumbido que não cessa.
E criando uma sensação psicológica de terror profundo – um tipo de verdadeira tortura emocional.
As crianças tem medo de ir à escola.
Os homens de se reunirem em grupos de 2 ou 3, pois isso pode ser visto como suspeito e provocar o lançamento de mísseis contra eles.
Casamentos que eram ocasiões festivas, com muitos convidados cantando, dançando e tocando tambores, são agora reuniões restritas, semi-secretas, onde comparecem apenas os membros mais próximos da família.
E os funerais, que passaram a ser alvos dos drones, agora são pequenas e rápidas cerimônias. De olho nos céus, de onde a morte pode chegar abruptamente sob a forma de mísseis lançados pelos drones.
O governo americano diz que perdas inocentes são raras, mas não revela os números- considera-os “classificados” (secretos).
Diversas instituições fizeram cálculos que variam entre muitas centenas e alguns milhares, em geral, é difícil determinar se um morto é ou não talibã.
De acordo com a cultura local, as mortes de mulheres não são informadas.
É considerado ofensivo perguntar nomes ou fotografar essas vítimas.
No entanto, o jornalista Noor Beharan conseguiu documentar a morte de 670 mulheres por mísseis dos drones e fotografar 100 crianças que foram assassinadas por eles.
O suicídio também é tabu para a religião e as tradições locais. De forma chocante, 17 Waziris mataram-se devido ao terror emocional provocado pelo programa americano de drones.
As famílias que tem condições abandonam seus lares e vão viver em zonas não afetadas pelos drones.
É muito forte o conceito de vingança no Waziristão.
Os EUA estão criando inimigos onde não havia, inclusive entre as crianças de hoje, que lembrarão até na idade adulta a sua infância trágica sob ameaça constante dos drones.
O relatório das mulheres do Code Pink afirma que o único modo de interromper esta espiral de ódio é acabar com o lançamento dessas armas de destruição americanas.
As famílias das vítimas recusam compensações financeiras e pedidos de desculpas.
Querem apenas poder voltar a ter uma vida normal.
Como a que tinham antes dos drones.