As negociações murcham, o boicote ameaça.

No happening capitalista de Davos, John Kerry, secretário da Defesa, advertiu que se as negociações com os palestinos fracassarem, a campanha de boicote a Israel ameaçará seriamente o país.

Os líderes de Telaviv ficaram indignados, reclamaram estarem sendo pressionados.

Mas não deixaram de ficar preocupados.

Foi realizada uma reunião do ministério para tratar do assunto, à qual não foram convidados Tzipi Livni e Yar Lapid.

Claro, os dois são os únicos ministros favoráveis à paz, e poderiam atrapalhar a reunião, propondo concessões para salvar as negociações.

O que a maioria do ministério queria era discutir meios para anular a provável onda de empresas e instituições, recusando-se a negociar com Israel, enquanto os assentamentos continuassem.

Foi decidido que caberi a Yuval Steinitz, ministro da Inteligência, colocar a espionagem israelense em ação para descobrir (ou criar) fatos que indicassem ligações com o terrorismo por organizadores e aderentes do boicote.

Com esse material em mãos, Steinitz deveria planejar uma “blitz de mídia”, espalhando as acusações pelo mundo.

E assim desmoralizando os principais nomes do boicote.

A informação veio do provecto Times, de Londres, modelo mundial de seriedade, e, portanto, não pode ser contestada.

Não sei dizer se essa estratégia é uma saída desesperada diante de uma situação realmente perigosa para Israel ou, simplesmente, algo rotineiro no comportamento do governo de Telaviv.

Seja como for, o BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que já está tirando Israel do sério, pode mesmo causar fortes estragos caso as negociações de paz dêem em nada.

Há fortes possibilidades dele conseguir repetir o êxito do bocote o apartheid da África do Sul.

As notícias sobre o acordo vinham sendo negativas até na semana passada quando se soube de uma possível aceitação pelas partes de uma proposta de Kerry.

No domingo, entretanto, o canal 10, da TV de Israel, reportou fatos desanimadores.

Kerry teria solicitado a Obama que impusesse um acordo preliminar detalhado, mesmo causando um confronto com Israel.

O presidente negou-se, afirmando que “não era o momento certo para atitudes assim.”

Quando seria, ele não disse.

Se for verdade, mais uma vez o governo americano fugiu da raia.

É claro que a Casa Branca tem todas as cartas na mão para forçar Netanyhau a aceitar a existência de uma Palestina independente e viável.

Sem os EUA, Israel ficaria totalmente isolado no mundo, não teria quem o protegesse de inúmeras condenações que viriam na ONU e mesmo no Tribunal Criminal Internacional.

Provavelmente Obama sabe que, se quiser promover a mudança prometida nos rumos da política internacional dos EUA, um dia terá de encararar Telaviv.

Claro, Israel tem poderosos aliados no Senado, na Casa dos Representantes e na imprensa dos EUA.

É difícil dizer quem levaria a melhor numa luta dessas forças contra o presidente Obama.

Talvez nem ele tenha uma idéia a respeito.

Por via das dúvida, tem preferido ceder.

O grande perdedor dessa luta que não aconteceu, nem talvez acontecerá, é o povo palestino.

Sem pressões de Tio Sam sobre Bibi, não há como um Estado palestino aparecer no mapa.

Por enquanto, Israel continua mantendo exigências que inviabilizam uma conclusão feliz do processo de paz.

Diz o Canal 10 que agora Jerusalém Oriental é o principal pomo da discórdia.

Ela foi tomada pelo exército de Israel na guerra de 1967.

Israel recusa-se a devolvê-la aos palestinos, que a querem de volta para ser a capital do seu futuro Estado.

O direito internacional, a ONU, a Comunidade Européia, os países de todos os continentes, até mesmo os EUA, são a favor deles.

Israel tem por si apenas o direito de conquista.

Não é bem “um direito”, já que a civilização moderna não a aceita como forma de ampliação dos territórios de uma nação.

Mas é o meio pelo qual Israel usurpou terras palestinas com seus assentamentos e pretende manter 80% deles num acordo com os palestinos.

O mesmo quanto ao vale do rio Jordão, ocupado militarmente por suas forças, por “razões de segurança.”

Dentro dessa ordem de idéias, Telaviv não pode permitir a volta dos palestinos expulsos de suas casas e propriedades agrícolas pelo exército israelense, durante a guerra de independência do país.

Por sua vez, os palestinos aceitam forças da OTAN controlando o vale do Jordão, para tranqüilizar os israelenses, mas hesitam em reconhecer Israel como Estado sionista.

E o panorama segue sombrio.

Contra o “direito de conquista” de Israel, os palestinos dispõem da arma do boicote, que poderá se tornar destruidora caso lhes seja recusada a independência.

O plano de acusar os principais players do boicote de ligações com o terrorismo parece pouco eficiente.

Não dá para pregar esse rótulo na maior igreja protestante do Canadá, na Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana (EUA), no Sínodo da Igreja da Inglaterra e no Conselho Mundial das Igrejas.

 

 

 

 

 

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