A ação do Presidente Morsi tirando os poderes legislativos da Junta Militar, foi bem pensada.
Ele sabia que os oficiais jovens não estavam nada satisfeitos com o domínio da “velha guarda”, liderada pelo Marechal Tantawi.
Há 30 anos na chefia das forças armadas, Tantawi não era chamado de “poodle de Mubarak” à toa. Com ele em posição hegemônica, a Primavera Árabe estava em risco.
Informações que chegam do Egito relatam que a jovem oficialidade partilhava dos ideais do povo que fez a revolução contra a ditadura.
Morsi nomeou membros desse grupo para substituir Tantawi e seus aliados nas posições-chave das forças armadas.
Lembro que durante o período de Mubarak forjou-se uma grande amizade entre autoridades militares egípcias e americanos. Os oficiais do governo do Cairo apoiaram tranquilamente as políticas da Casa Branca, inclusive a aproximação com Israel.
O que aconteceria com a queda de Tantawi e sua turma?
A princípio muito preocupados, os americanos parecem estar agora tranqüilos quanto ao comportamento dos novos chefes militares. Lembram que o general Sissi, o novo Ministro da Defesa, havia declarado no ano passado que os acordos internacionais (leia-se: com Israel) precisavam continuar sendo respeitados.
Talvez sua alegria esteja sendo um tanto apressada.
Há sete anos, quando estagiava na Escola de Guerra do Exército Americano, o general Sedky Sobhi, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas egípcias, escreveu um texto no mínimo preocupante.
Ele afirmava que o apoio incondicional dos EUA a Israel e sua presença militar no Oriente Médio estavam alimentando o ódio contra os americanos e poderiam provocar uma guerra global com os militantes islâmicos.
Que era errado caracterizar a Al Qaeda e outros grupos de milicianos simplesmente como “organizações terroristas irracionais”. Na verdade esses grupos exploravam as queixas populares contra a política americana, tendo se tornado um movimento insurgente internacional”.
O General Sobhi concluiu seu texto com esta colocação surpreendente: “Recomendo a retirada das forças militares americanas do Oriente Médio e do Golfo. Seria um gol da estratégia dos EUA nessa região.”
Isso contraria frontalmente as idéias que o Pentágono e o Departamento do Estado estão aplicando.
O que se vê é os EUA ampliando cada vez mais sua intervenção militar no Oriente Médio.
Além de invadir e ocupar o Iraque e o Afeganistão, ele ataca com drones o Paquistão e o Iemen, visando talibãs e terroristas; mantém bases em diversos países da região; suas poderosas esquadras vagueiam sinistramente pelo Golfo Pérsico, ameaçando o Irã; fornece anualmente os mais modernos armamentos a Israel; fornece armamentos também à Arábia Saudita, ao Bahrein, ao Iemen e ao próprio Egito.
As afirmações do General Sobhi pressagiam turbulências nas relações entre Egito e EUA.
A respeito desse assunto, declarou Mahmoud Hussein, secretário geral da Irmandade Muçulmana (da qual o Presidente Morsi faz parte):”Se o relacionamento for entre iguais, com respeito mútuo e interesses mútuos, então nada mudará. Mas, se os EUA pensam que a relação com o Egito é de mestre com seguidor, então isso nunca acontecerá.”