OS presidentes franceses costumam, uns mais outros menos, tomar atitudes de rebeldia à liderança de Washington.
De Gaulle foi quem foi mais longe ao, negar a entrada da França na OTAN.
Mitterand, em 1988, foi o primeiro presidente ocidental a reatar relações com o Irã depois da revolução islâmica; em 1991, o primeiro a visitar Teerã.
Sempre defendeu a independência da Palestina (ao lado da segurança de Israel), tendo condenado a invasão do Líbano pelas forças israelenses, rotulando suas ações como nazistas.
Jacques Chirac recusou-se a receber Ariel Sharon, por causa do massacre de Sabra e Chatila, apoiou Arafat com freqüência e manifestou-se contra o ataque e ocupação do Iraque pelos EUA.
Só Sarkosy fugiu á regra comportando-se como um constante yes man da Casa Branca.
De Hollande esperava-se um comportamento acordo com as tradições dos ocupantes do Champs Elysées
Especialmente por ser membro de um partido socialista.
Não foi o que aconteceu.
Hollande preferiu seguir o exemplo de Sarkosy, apoiando sempre o presidente Barack Obama.
Até mesmo contra os interesses franceses como aconteceu no caso doS porta- helicópteros Mistral, fabricados sob encomenda do governo de Moscou.
Tendo condenado Putin ao ostracismo, Obama pressionou Hollande para que não fizesse a entrega do primeiro desses vasos de guerra.
Com isso, o contrato já assinado com os russos estaria rompido e a França perderia um negócio de 2 bilhões de dólares, de que sua fragilizada economia muito precisava.
Hollande resistiu, jurou que cumpriria o compromisso assumido… mas acabou cedendo.
Reteve o Mistral, anunciando que o entregaria “até notícias posteriores” sobre o comportamento russo no affaire Ucrânia.
Eis que, de repente, de Gaulle parece ter encarnado no presidente socialista.
Primeiro, ele reagiu à campanha de John Kerry para forçar os membros do Conselho de Segurança da ONU a detonar a resolução pró- independência palestina.
Votou a favor, deixando os americanos e israelenses absolutamente chocados.
Alguns dias depois, mais uma surpresa.
Em entrevista á France Inter, Hollande tomou a defesa do diabólico Putin.
Primeiro afirmou que a crise russa não era boa para a Europa. E esclareceu: ”Eu não sou pela política de conseguir resultados fazendo as coisas piorarem.” Que, aliás, é exatamente o objetivo das sanções que Obama convenceu a Europa a lançar contra os russos.
O presidente francês ainda afirmou que deseja a retirada das sanções ocidentais caso as negociações sobre o conflito ucraniano progridam na reunião deste mês (BBC- News Europe, 5 de janeiro).
A seguir, Hollande partiu para outra heresia: mostrou-se compreensivo diante do líder russo. “O Sr.Putin não quer anexar o leste da Ucrânia. O que ele quer é que a Ucrânia não se torne membro da OTAN. A idéia do Sr. Putin é não ter um exército nas fronteiras da Rússia.”
Essas opiniões batem de frente com a política externa da Casa Branca, que pinta Putin como um déspota voraz, uma ameaça para os países vizinhos.
Marcarão o início de um giro na política externa francesa na direção da autonomia?
Ou será apenas uma chuva de verão?