Em março, os palestinos informaram aos diplomatas ocidentais que iriam solicitar ao Conselho de Segurança da ONU a condenação dos assentamentos israelenses. Nada mais justo. A lei internacional está a seu lado, assim como decisões de um sem número de organizações mundiais e praticamente todos os países do planeta.
Uma resolução do Conselho de Segurança da ONU seria algo muito sério. Obrigaria Israel a respeitá-la ou arriscar-se a sofrer sanções como o governo sul-africano do apartheid sofreu. E resultou na sua queda.
No início de abril, a proposta palestina foi entregue aos diversos países do Conselho de Segurança.
Mas em meado do mesmo mês, Abbas o presidente da Autoridade Palestina, pareceu arreglar.
Declarou que era melhor adiar a discussão da proposta no Conselho.
Alegou que a França tinha um excelente projeto, bem visto por muitos países europeus, cuja aprovação por Israel iria para o espaço caso os palestinos insistissem em condenar os assentamentos tão caros a Netanyahu e colegas.
Tinha outro argumento: estava para ser apresentado um relatório do Quarteto do Oriente Médio (EUA, Rússia, ONU e União Européia) encarregado há anos de analisar os problemas da região. “Já existe um esboço final”, jurou Abbas,”e espera-se que o relatório ataque a construção de assentamentos.”…ele será base da conferência que a França promoverá e aí até os EUA, como parte do Quarteto, não terão condições de vetar nossa proposta no Conselho de Segurança…”
Mas um dos líderes do Fatah (organização a que Abbas pertence) achou um erro.
Para ele não haveria discordância entra a proposta ao Conselho de Segurança e a conferência internacional.
Eu acrescentaria que Netanyahu muitas vezes garantira que só aceitaria negociações bilaterais entre israelenses e palestinos. E mais ninguém.
Quanto ao Quarteto do Oriente Médio, tem sido um organismo inócuo. Não poderia se esperar muito dele, especialmente por seu diretor executivo ser o notório Tony Blair…
Mustafá Barghouti, o político mais cotado a suceder a Abbas na Autoridade Palestina, também não gostou:”É impossível confiar somente na iniciativa francesa já que até agora não sabemos qual sua base, de outro lado, sabemos muito bem que Israel e os EUA não erguerão uma mão para implementar uma proposta importante e Israel continuará construindo nos assentamento e desapropriando grande parte da Cisjordânia como se não existisse uma opinião pública global contrária.”
Como se esperava, o Hamas igualmente foi contra. Considerou que Netanyahu vetaria a conferência internacional, embora não de uma vez, usando artimanhas para retardar sua inevitável negativa. E assim , conseguir tempo para continuar avançando no território palestino com assentamentos e desapropriações.
Nisso o Hamas estava certo: o premier israelense jamais aceitaria que países estrangeiros tivessem voz ativa no problema palestino pois , dada rejeição universal da ocupação israelense, era inevitável que saísse dessa conferência idéias que não o agradassem nada.
Havia algumas verdades e alguns erros em todas estas opiniões.
Jean-Marc Ayrault acabou de voltar de uma reunião com o premier israelense em Israel sem conseguir seu OK para a conferência internacional projetada. Mas Netanyahu, habilmente, deixou as coisas no ar. Limitou-se a repetir que as negociações bilaterais Israel-palestinos eram o caminho adequado.
Na semana passada, Ayrault anunciou à imprensa os pontos básicos da iniciativa francesa esclarecendo assim Barghouti e os outros líderes palestinos que estavam por fora.
A França vai realizar em 30 de maio em Paris, uma reunião com ministros do Exterior de 20 países, num esforço de reviver o moribundo processo de paz. Representantes de Israel e palestinos não seriam convidados, pois o ambiente entre eles estaria por demais pesado.
O objetivo seria preparar uma reunião de cúpula no segundo semestre de 2016, quando então estariam presentes também os líderes israelenses e palestinos. A base das discussões seria a chamada Iniciativa de Paz Saudita de 2002 – aprovada pela Liga Árabe – que mandava o exército de Israel se retirar da território palestino tomado na Guerra de 1967, incluindo Jerusalém Oriental, em troca da normalização das relações entre Israel e todos os países árabes.Também previa a criação de um Estado Palestino na Cisjordânia e em Gaza e uma justa solução para o problema dos refugiados, expulsos de suas casas e terras durante a Guerra de Independência de Israel.
Para grande surpresa, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, aplaudiu os franceses: “Nem uma única nação ou uma única pessoa pode resolver isto (o problema palestino). Isto vai exigir a comunidade global, exigirá apoio internacional.”
Foi uma agradável surpresa. O apoio dos EUA é absolutamente necessário pois sem seu veto a resolução proposta pela França será certamente aprovada já que os demais membros do Conselho de Segurança são a seu favor.
Mas a palavra de Kerry pode até ser ignorada.
Não se deve desdenhar a força de Israel nas terras de Tio Sam.
Será uma chance única para Obama mostrar quem manda em seu país.
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