EUA e Paquistão: inimigos e aliados.

Novas notícias vem abalar as já estremecidas relações entre EUA e Paquistão.

Autoridades paquistanesas informam que diplomatas americanos estão espionando Kahuta, uma das principais instalações nucleares do país.

O que piorou as coisas foram denúncias de que o Ministro do Interior, Rehman Maliki, teria facilitado o ingresso dos diplomatas espiões em Kahuta, apesar dos protestos da polícia e do setor de inteligência.

Mais uma vez ficou clara a posição pró  EUA do ministro. Anteriormente, documentos revelados pela imprensa, mostraram que Maliki havia permitido que agentes da CIA atuassem no Paquistão, sem informar as agências de inteligência do país. O que pesou mais ainda foi o conhecimento da natureza de tais atividades: recrutamento de oficiais paquistaneses reformados.

Agora novo motivo de ira contra os EUA foi acrescentado. Um livro recém-lançado conta que, em 2005, quando aconteceu o terremoto no Cashemir, muitos agentes da CIA entraram no país  disfarçados, apresentando-se como voluntários nos trabalhos de reconstrução da região atingida. Sua missão seria reunir informações sobre membros da Al-Qaeda e seus cúmplices paquistaneses.

Esta iniciativa atrapalhou o trabalho dos verdadeiros voluntários americanos pois, há muito tempo, as ONGs de caridade dos EUA já eram suspeitas de abrigarem mercenários da Blackwater e agentes da CIA. Jornais locais anti-americanos apressaram-se a acusar as ONGs de serem centros de operações secretas americanas, reafirmando que suas anteriores acusações, agora se provaram verdadeiras.

Apesar do Paquistão ser um importante aliado dos EUA, a verdade é que o relacionamento entre os dois países

vêm sendo cada vez pior.

No começo, nos tempos do ditador Musharraf, os dois países estabeleceram um acordo que era vantajoso para ambas as partes.

O Paquistão se obrigava a policiar as fronteiras com o Afeganistão, evitando a entrada ou saída dos talibãs, permitia a passagem dos comboios de suprimentos necessários ao exercito americano na Guerra do Afeganistão e dava sinal verde para a CIA atuar no país, no combate aos talibãs.

Por sua vez, os EUA entravam com 1,5 bilhão de dólares em ajuda militar e 1,3 bilhão em ajuda econômica. Dinheiro muito bem-vindo pois a Economia do país ia muito mal.

Depois da queda de Musharraf, Zardari, seu sucessor, manteve a amizade firme.

Encontrou problemas, queixas recíprocas que começaram a desgastar o relacionamento entre os dois países.

Os americanos acusavam a ISI, polícia secreta paquistanesa, de ajudar os talibãs. É verdade que os EUA ficaram muito satisfeitos quando, tendo os talibãs feito atentados também no Paquistão, o exército do país entrou na guerra reocupando as regiões onde os adversários estavam posicionados.

Mas surgiram novos motivos de discórdia. No governo Bush os aviões sem piloto- os drones – iniciaram os “voos da morte” , bombardeando a região do Waziristão e matando talibãs e quem mais estivesse por perto ou fosse suspeito.

Com o governo Obama, os drones – a menina dos olhos do presidente – multiplicaram seus voos e, como era inevitável, multiplicaram as mortes tanto de talibãs, quanto de civis.

Não deu outra. Em pesquisa da Pew Research, em abril de 2011, 70% da população considerava os EUA um inimigo. Em outra pesquisa, 97% bradava contra os drones por seus efeitos colaterais indesejáveis e por violar a soberania do Paquistão.

Militares (acostumados a intervir no governo) e políticos associaram-se ao clamor público, exigindo o fim dos voos dos drones. Mas Zardari  ignorou-os.

Daí em diante o mal estar entre os dois países foi se avolumando em níveis crescentes, estimulado por uma série de eventos que indignaram os paquistaneses.

Inicialmente, foi o problema causado por 1 mercenário contratado pela CIA, ter matado dois paquistaneses. Preso, os EUA moveram céus e terras para libertá-lo, o que afinal, foi conseguido. Os pais da vítima aceitaram serem indenizados e, com isso, de acordo com as leis locais, o processo foi suspenso.

Em seguida, aconteceu a execução de Bin Laden, que gerou protestos dos dois lados. Os americanos indignados porque o líder da Al-Qaeda estava há muito no país, próximo a uma unidade do exército, sem ser incomodado. Os paquistaneses furiosos porque o ataque americano fora feito à total revelia do governo.

As indignações ainda não tinham amainado quando descobriu-se que um conhecido empresário havia levado aos EUA uma carta, supostamente do Presidente Zardari, pedindo a intervenção americana para evitar um golpe militar que estaria iminente. Nessa carta, Zardari oferecia nomeação de gente pró- EUA em cargos chave nas forças de segurança.

Zardari negou, mas os militares não ficaram nada satisfeitos e exigiram uma investigação, que está em processo.

O pior ainda estava por vir. A aviação americana, por engano, bombardeou um posto de fronteira do exército paquistanes, matando 24 soldados.

O governo exigiu desculpas dos EUA e punição dos culpados. A resposta foi que, antes de mais nada, seria feita uma investigação.

Por pressão militar, Zardari não se deu por satisfeito. E retaliou: fechou a estrada usada para levar suprimentos ao exército americano no Paquistão, expulsou-os de base de onde partiam os drones e ameaçou derrubar esses engenhos caso passassem a fronteira.

E foi anunciado oficialmente que as relações entre EUA e Paquistão teriam de ser reformuladas.

Se foram, ninguém sabe.

O fato é que os drones voltaram a atacar e matar e a estrada para o Afeganistão, está para ser reaberta.

Nada disso pegou bem na opinião pública. Má notícia para Zardari, pois as eleições vem aí e seus índices baixam cada vez mais.

Mas, ele não pode (ou não quer) dispensar a ajuda americana. Os militares, embora agressivos, são obrigados a moderar seu nacionalismo porque também precisam da ajuda militar, não só para combater os talibans no país, como também, e principalmente, manter-se up to date em matéria de armamentos para não ficarem em posição inferior diante da Índia, seu tradicional adversário, com quem mantiveram várias guerras curtas no século passado.

Agora, porém, a situação está mais delicada do que nunca. E não só devido à descoberta dos diplomatas espiões e das infiltrações dos agentes da CIA.

Em primeiro lugar, porque os talibãs anunciaram oficialmente que não atacarão mais,alvos militares paquistaneses. Já quanto a xiitas, seus inimigos seculares, não irão tão longe…

Em segundo lugar, porque há um projeto no Congresso americano propondo que o governo empenhe-se em conseguir a independência do Baluchistão, enorme estado do Paquistão.

Claro, a Casa Branca diz que não tem nada a ver com isso.

Mas, como tem sido notado, este congresso americano é tão arrogante quanto agressivo e Obama tem  aceito tudo que eles querem, apenas com ligeiras ressalvas, a ameaça de secessão não é brincadeira.

Diante de todas estas novidades, Zardari fez uma concessão aos militares indignados e ao povo (leia-se aos eleitores) cada vez mais anti-americano.

Numa reunião tripartite com os presidentes do Irã e do Afeganistão, declarou em alto e bom som que seu país não oferecerá bases para os americanos bombardearem o Irã. Mesmo porque: “O Paquistão e o Irã precisam um do outro e nenhuma pressão estrangeira poderá cortar os laços que nos unem.”

Nessa reunião, os 3 países resolveram trabalhar juntos pela estabilidade da região e aumentar a cooperação mútua em diferentes setores, particularmente na economia e no comércio.”

Comentando o evento, a Ministra do Paquistão, Hina Rabban Khair, informou que a reunião traria efeitos de grande alcance na região. E que os EUA foram brifados no sentido de que nenhuma pressão seria aceita.

Provavelmente todas estas declarações tem duplo objetivo: mostrar aos EUA que o Paquistão não é mais um satélite deles. Sua cooperação na guerra contra os talibãs dependerá das atitudes americanas, do respeito com que o país quer ser tratado.

O outro objetivo é agradar os militares e ao povo, mostrando independência.

A perspectiva é que esses últimos lances vão acalmar os ânimos exaltados, tanto do Paquistão, quanto dos EUA. Desde é claro, que os americanos atendam o governo de Islamabad, ao menos refreando a CIA.

Já acabar com os ataques dos drones será muito difícil, apesar das inevitáveis mortes de civis e do ódio que os paquistaneses lhes dedicam.

Obama e seus generais amam os aviões sem piloto, que matam inimigos às dúzias sem arriscar a vida de um único soldado americano.

Quer melhor guerra do que essa?

Não vejo forma mais adequada de terminar este artigo do que com esta citação do general Dwight Eisenhower, ex presidente dos EUA):  “Na verdade, os povos querem tanto a paz que um dia desses é melhor os governos saírem do caminho e deixarem que eles a tenham”.

 

 

 

 

 

 

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4 pensou em “EUA e Paquistão: inimigos e aliados.

  1. Legal boa explicação estava querendo saber como uma pais muçulmano poderia ajudar os EUA na guerra agora ja deu para entender melhor como as coisas funcionam

  2. Estou fazendo uma simulacao das reunioes das organizacoes das nacoes unidas em meu colegio e este conteudocontribuiu muito para meus argumentos.

  3. Consequência da “aliança” do Paquistão com os assassinos dos Estados Unidos:

    – Espionagem nas instalações nucleares;
    – Entreguistas pró-Estados Unidos facilitando a entrada de espiões nas instalações mesmo com a negação da polícia e da inteligência local;
    – Agentes da inteligência dos Estados Unidos infiltrados como “voluntários” no país;
    – O Exército dos Estados Unidos se aproveitam de atentados no Paquistão para ocupar as regiões;
    – Drones estadunidenses bombardeando regiões sem se preocupar com os civis;
    – Os Estados Unidos libertam um assassino que matou dois presos paquistaneses;
    – Operações dos Estados Unidos no país sem a comunicação do governo local, causando revolta na população paquistanesa;
    – Bombardeio estadunidense mata 24 soldados paquistaneses na fronteira com o Afeganistão por “engano”;
    – Congresso estadunidense querendo desmantelar o país, com a independência de uma grande região chamada Baluchistão.

    Seria bom o Paquistão entrar em um acordo de paz com seus irmãos indianos e desenvolverem uma forte aproximação com a China, pois com este tipo de “aliança”, o país só tem a perder, como vemos neste texto.

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