Depois do grande crescimento da esquerda radical do Syriza, esperava-se sua vitória nas próximas eleições. Com apoio certo dos pequenos partidos esquerdistas, seria grande sua chance de formar o novo governo.
As primeiras pesquisas já apontavam nessa direção: o Syriza liderava com 27,7%, seguido pelos direitistas da Nova Democracia com 20,3% e o social-democrata Pasok com 12,6%.
E era apenas o início de uma tendência que deveria se acentuar.
Mas aí parece que os gregos ficaram com medo de serem felizes, como dizia o jingle de um antiga campanha de Lula. E sentiram-se preocupados.
Diante da prometida recusa em cumprir os acordos com o FMI e o Banco Central Europeu, o default do país seria inevitável.
Para recuperar as exportações e, conseqüentemente, a produção e os empregos, o país teria de sair do euro e desvalorizar a dracma.
Falido e fora do euro, não havia como continuar na Europa Unida.
E, aí diziam as vozes sombrias dos economistas e políticos ortodoxos, seria o caos, ou, mais adequadamente, o Hades, que é o inferno da antiga religião grega.
Notou-se uma quebra no entusiasmo do povo na rebelião anti-austeridade. O medo começou a se espalhar e, já dois dias depois, seus reflexos apareciam nas pesquisas.
Enquanto o radical Syriza perdia 2,2 pontos, caindo para 25,5%, os partidos pró-acordos com a Europa cresciam: A Nova Democracia foi de 20,5% para 21,1% e o Paçok, de 12,6% para 14,6%.
Certo que eram diferenças pequenas, dentro da margem de erro, mas tinham seu peso, pois todos os 3 dados esboçavam uma mudança no quadro.
Mais recentemente ainda, uma pesquisa da Kappa Research apontou que a diferença entre Syriza e Nova Democracia caiu bastante ; agora é 20,5% contra 18,1%.
Na mesma ocasião, outra pesquisa reforçou a impressão de que os ventos começavam a mudar de direção: 78% dos respondentes não queriam que a Grécia saísse do euro de jeito nenhum.
Os líderes do Syriza apressaram-se a garantir que eles também não queriam.
Mas ninguém duvida que os pastores alemães excluiriam ovelhas rebeldes do seu rebanho…
A posição dos partidos bem comportados foi agora reforçada quando o solidário Hollande e a inflexível Merkel concordaram publicamente na necessidade de manter a Grécia no euro e de apresentar medidas de estímulo a seu crescimento. Desde, é claro, que continuasse a fazer os sacrifícios prometidos.
As novas eleições deverão ser em 17 de junho.
Parece um prazo muito curto, mas as coisas estão mudando de uma maneira vertiginosa.
Se a Europa Unida for concessiva, passar a agir também em favor do crescimento das nações pressionadas, é provável que os partidos pró-acordo obtenham maioria nas eleições gregas.
Caso contrário, os gregos podem revoltar-se e vingar-se da vida dura que a Europa está lhes impondo, votando na esquerda radical.
É possível também que a imprensa divulgue análises dos políticos e economistas moderados, apresentando um futuro assustador para a Grécia fora do euro.
E o medo acabe vencendo, bem como a Nova Democracia, o Paçok e a Europa Unida.