Apesar dos protestos histéricos dos neoconservadores, lobbies e políticos pró-Israel, Obama nomeou Chuck Hagel Secretário da Defesa.
Isso nos causa “sérias preocupações”, declarou Reuven Rivlin, alto dirigente do Likud e aliado próximo de Bibi Netanyhau.
Na verdade, Hagel sempre se declarou defensor de Israel.
No entanto, não de forma incondicional pois se trata de um político independente.
O que, caso suas ideias fossem adotadas, representaria uma mudança radical na política externa americana.
Ele é adversário de aventuras militares dos EUA, opõe-se à intervenção na Síria ou no Irã e defende uma retirada mais rápida e completa do Afeganistão.
Favorável à solução dos 2 estados independentes na Palestina, garantindo-se a segurança de Israel. Mas não apoia necessariamente todas as medidas do governo de Telaviv.
É contra sanções unilaterais dos EUA ao Irã porque: “…quando somos nós sozinhos, elas (as sanções) não funcionam, apenas isolam os EUA”.
Essa posição é diminuída pelo apoio dado por Hagel às sanções da ONU.
Em suma: embora Hagel esteja longe de ser imparcial diante do Irã e de Israel, ele comete o gravíssimo pecado da independência.
Os lobbies e políticos do Israel, first não aceitam menos do que completa sujeição aos interesses de Telaviv.
Por isso, a nomeação de Hagel tem o sentido de um desafio e gera esperanças de que Obama, por fim, esteja começando sua guinada na política externa.
Se não fosse assim, por que iria ele brigar com poderosas forças no Congresso e no Pentágono, indicando alguém vetado por elas?
Talvez para agradar essas forças e abrandar sua fúria, Obama nomeou John Brennan para dirigir a CIA.
Ele tem um passado que condena.
A ACLU (American Civil Libnerties Union), mais antiga organização de direitos humanos dos EUA, declarou que Brennan não deveria ser nomeado “…até que se avaliasse suas ações em posições de liderança na CIA durante os primeiros anos da administração George W.Bush e seu papel atual no programa de assassinatos individualizados.”
De fato, ele é acusado de estreito envolvimento com uma série de malfeitorias do governo Bush: política de extraordinary renditions (sequestro de suspeitos no exterior), as torturas ditas “legais” (waterboarding) e a criação de prisões secretas (black prisons) da CIA em países da Ásia e da Europa.
Diretor da área de contra- terrorismo no governo Obama, participa ativamente do programa de assassinatos de suspeitos por drones (aviões sem piloto) no Paquistão e no Yemen.
Defendeu esse programa com entusiasmo, qualificando-o como “legal, ético e inteligente.”
No ano passado, teve a incrível audácia de afirmar que os drones não matavam civis paquistaneses. Fato imediatamente desmentido por diversas organizações de jornalistas e de direitos humanos.
A nomeação de Brennan é menos importante do que a de Hagel. Pelo menos teoricamente, CIA pode menos do que Secretaria de Defesa.
No entanto, é preciso lembrar que a definição das linhas da política externa cabe sempre ao presidente.
Podemos analisar que, nomeando Hagel, Obama demonstrou que deseja, por fim, mudar.
No entanto, isso deverá acontecer aos poucos.
Não é de uma hora para outra que se altera uma política externa que vem de muitos anos.
Nem o hábito de ceder diante das pressões.