Depois de Netanyahu discursar contra o acordo nuclear em Washington, as relações com Obama, que já não eram boas, azedaram bastante.
O presidente dos EUA considerou um ultraje um mandatário estrangeiro vir atacar uma política do seu Governo em plano congresso americano.
A partir daí a tolerância com as violências e infrações às leis internacionais na Palestina acabou.
Especialmente considerando que Netanyahu continuava sabotando a “solução dos 2 países “ (um dogma no Ocidente), expandindo os assentamentos e até negando-se a permitir a independência da Palestina.
Em várias ocasiões, Obama deixou claro que o apoio incondicional dos EUA a Israel na ONU poderia acabar.
Os membros do governo israelense sentiram que seu barco poderia ir a pique.
Temeram que começava a fazer água quando o secretário de Estado americano se declarou simpático à proposta francesa de internacionalizar a elaboração do acordo de paz na Palestina.
A ideia era reunir chefes de estados interessados na solução do problema para determinarem os principais pontos do acordo, ficando para Israel e palestinos a negociação dos seus detalhes.
E, caso as negociações não fechassem no prazo de um ou ano, as nações reconheceriam a Palestina como Estado independente.
Inaceitável para o governo de ultra- direita de Israel, que só admite negociações bilaterais entre as partes em conflito.
Como já se sabe pela experiência de 20 anos de negociações infrutíferas, Israel, por palavras e atos, deixou bem claro sua intenção de tornar a anexação da Palestina um fato consumado, via expansão contínua dos assentamentos.
Ou, na melhor das hipóteses, de aceitar um Estado palestino inviável nos territórios restritos que os assentamentos deixariam vagos.
Embora o Hamas não acreditasse que a proposta francesa iria dar certo, o Fatah e a Autoridade Palestina vibraram com ela.
Sob patrocínio do “Quai d´Orsay”, foi marcada para Paris uma reunião preparatória com os ministros do Exterior dos EUA e dos países da Europa, representantes da Liga Árabe e o secretário-geral da ONU.
Contava-se que a reunião emitiria uma firme declaração contendo inclusive os parâmetros, já definidos pelo Conselho de Segurança da ONU, para a concretização da “solução dos 2 Estados”.
Em vez disso, publicou-se um comunicado chocho, recheado de lugares-comuns, conclamando as partes a evitarem ações que dificultassem as futuras negociações.
Quanto a dar prazo para o acordo final, sob pena de reconhecimento da Palestina independente, desde logo foi posto de lado.
Surpresa geral.
Pouco depois, o general al-Arabi, secretário-geral da Liga Árabe, cuja maioria é de países aliados ou sem problemas com os EUA, revelou o que aconteceu.
O comunicado inicialmente proposto seria muito mais forte, com recomendações concretas, indicando as resoluções da ONU em que as negociações futuras de paz deveriam se basear.
Além de estabelecer prazos para a conclusão do acordo.
Mas Kerry entrou em ação.
Discutiu palavra por palavra, frase por frase até tudo acabar dando no estéril comunicado que se publicou.
Ou seja, em nada.
No dia 6 de junho, a atuação do secretário de Estado foi justificada por Dan Shapiro, embaixador dos EUA em Israel.
Em conversa com um deputado do partido Lar Judeu sobre a proposta francesa para a Palestina, Shapiro disse: “Os EUA se opõem a passos unilaterais e vetaria forçar qualquer solução a Israel. ”
Poucos dias depois, coube a Susan Rice, assessora especial de Obama, mostrar que os EUA teriam voltado a amar Israel acima de tudo.
Anunciou que o governo Obama irá dar a maior assistência militar dos EUA a qualquer país do mundo, em qualquer tempo.
Nada menos do que 40 bilhões de dólares em 10 anos. 10 bilhões a mais do que a soma do acordo atual, que está vencendo.
As causas da reviravolta na posição do governo Obama, desistindo de buscar a justiça em vez dos interesses de Israel, podem ser encontradas nas eleições presidenciais americanas.
Hillary Clinton, a candidata do Partido Democrata (ao qual Obama pertence) aparece nas pesquisas virtualmente empatada com o candidato republicano, Donald Trump.
Os chefões democratas temem que uma posição de Obama contrária a Israel na discussão da proposta francesa poderia alienar votos dos judeus americanos.
Especialmente preciosos nas eleições de Nova Iorque e Florida, estados-chave cujos resultados podem decidir quem será eleito.
Acredito que Obama bem que gostaria de terminar seu mandato encaminhando a solução do problema da Palestina de forma desagradável para Netanyahu.
Com isso, não só levantaria a combalida imagem internacional dos EUA, como também ficaria na história como o presidente que proclamou a independência da política externa do seu país.
Deixaria Netanyahu mordendo tapetes de raiva, daria aos palestinos uma pátria a que tem direito e, at last but not at least, mostraria às associações judaico-americanas quem é que manda no país.
Mas tudo isso não será possível.
Apoiando os palestinos contra Israel, Obama assumiria um risco de perder votos judaicos (embora parte deles seja progressista e o aplaudiria).
A opinião pública provavelmente o culparia caso Hillary Clinton perdesse para o bufão Trump.
Acho que Obama não quer carregar a responsabilidade de ter ajudado a colocar na Casa Branca um presidente de opereta.
Há quem acredite que a segunda reunião de discussão da proposta francesa, marcada para antes do fim do ano, pode ter um resultado diferente.
Desta vez será com a presença dos supremos mandatários dos EUA, de países europeus, da Liga Árabe e da ONU.
A reunião terá de cumprir seu objetivo de traçar as linhas básicas de um acordo final para a “solução dos 2 Estados.”
Caso seja realizada depois de 9 de novembro, data das eleições americanas, Obama estaria livre para agir como quisesse.
Temo que aí o leite já estará derramado, com o mandato de Obama praticamente no fim.
Será que ele se sentiria em condições de contrariar posições públicas do novo presidente? Tanto a sra. Clinton quanto The Donald são defensores incondicionais de Israel.
Pingback: C?vata
O bufão Trump é o Tiririca deles,(nada contra o Tiririca, muito pelo contrario, não quero ser injusta com o Tiririca), mas a posição que o Tramp se for eleito
vai ocupar, é muito importante para o mundo todo! Até tremo só de pensar.Onde é que os republicanos estão com a cabeça? Posso até imaginar onde,mas é absurdo demais, mesmo para republicanos.