Agora não há mais dúvidas: é por causa do petróleo que os americanos não querem sair do Iraque. O próprio Bush confessou. No começo do mês, durante a campanha eleitoral, ele se declarou preocupado com essa possibilidade. Para Bush, os extremistas poderiam tomar o poder e ameaçar elevar o preço do petróleo para as alturas caso os Estados Unidos não abandonassem Israel e os países aliados do Oriente Médio. Prevendo isso, seu governo tem uma estratégia de longo prazo que inclui permanecer na ofensiva.
Se está claro que o “fico” de Bush se deve ao petróleo, é difícil de acreditar que tenha algo a ver com a defesa dos “bons amigos” da região. Na verdade, o petróleo do Iraque é uma presa de valor incalculável para o Império.
De acordo com o Departamento de Energia americano, o país conta com reservas comprovadas de 112 bilhões de barris, as segundas maiores do mundo, podendo chegar possivelmente a 220 bilhões, quase igualando os 260 bilhões da Arábia Saudita.
O petróleo iraquiano é fácil de extrair pois fica perto da superfície. James Paul, diretor executivo do Fórum Político Global, informa que seu custo de produção é entre 1 e 1,50 dólar por barril.Em outras áreas, o preço de 5 dólares é considerado barato, chegando, no Mar do Norte, a um valor entre 12 e 16 dólares .
O antigo ministro do Petróleo do Iraque, Issam Chalabi, informou à Associated Press que “o Iraque tem mais campos petrolíferos descobertos mas não explorados do que qualquer outro país do mundo”. Só no imenso deserto ocidental, existiriam campos “virgens” com potencial para tornar o país o número 1 do mundo.
Com o petróleo iraquiano nas mãos, a Casa Branca garantiria por muitos anos combustível suficiente para atender ao crescimento vertiginoso do consumo americano. Poderia também abaixar a crista da OPEP, que tantas dores de cabeça deu ao ocidente, retirando o Iraque da organização, o que reduziria substancialmente seu poder. E, “last but not least”, daria às multis americanas (próximas a Bush) e inglesas, donas do mercado internacional, a exploração da suprema riqueza iraquiana, com seus bilionários lucros.
O caminho para o fechamento deste mega negócio já está aberto por leis de quando a coalizão governava diretamente o país. Incluídas, sob pressão, na Constituição iraquiana, elas permitem a entrada do capital estrangeiro em qualquer setor da economia – inclusive no petróleo, ainda monopólio de uma estatal iraquiana – e a remessa para o exterior de todos os seus lucros. A próxima etapa, com “closing date” marcada para dezembro, é a aprovação pelo Parlamento da lei do petróleo, recém elaborada com a assessoria da Bearingpoint (contratada da USAID), com fundamento no relatório do Project´s Oil and Energy Working Group do Departamento de Estado, para o qual o Iraque “deveria ser aberto para as companhias internacionais de petróleo o mais cedo possível”.
A nova lei do petróleo impõe os contratos de direitos de exploração do tipo PSA (Production Sharing Agreements), os quais permitem que os países produtores mantenham a propriedade técnica das reservas, mas, na verdade, garantem às multinacionais seu controle e lucros extremamente altos.
Sobre os PSA, diz Greg Muffit, analista da ONG inglesa, The Plaform: ‘Esses contratos são usados em geral em países com campos de petróleo pequenos ou difíceis, ou onde há alto risco na exploração. Não são usados em nações como o Iraque, onde os campos são enormes, já conhecidos e de exploração barata”.
No caso do Iraque, a nova lei permite que os campos hoje em operação – 17 entre 80 conhecidos – continuem com a estatal iraquiana, enquanto todos os novos campos passariam para o controle dae multinacionais, usando contratos PSA. Nas áreas ainda não descobertas, cuja produção prevista é de 200 bilhões de barris, 87% delas ficariam sob controle das empresas estrangeiras, cujos lucros seriam garantidos, atingindo entre 42% e 162%.
Segundo Greg Muttitt,o prejuízo do Iraque poderia ir de 74 a 194 bilhões de dólares, mais de 6 vezes o orçamento anual, considerando-se um preço de 40 dólares o barril. Convém lembrar que a cotação atual é de 60 dólares.
A nova lei já vem sendo discutida nos gabinetes e nas comissões. Boa parte dos parlamentares iraquianos, influenciados principalmente pelo poderoso sindicato dos trabalhadores, resiste. Mas as nações da coalizão deram um prazo de até dezembro para ela ser aprovada. Para os analistas e autoridades do Ministério do Petróleo, o PSA vai ser lei e as “4 grandes” – Chevron, Exxon, British Petroleum e Shell – serão as principais beneficiárias.
Claro, para Bush, o ideal é sair deixando um governo amigo, pronto a assegurar o controle americano de suas riquezas petrolíferas.
Mas, como ele mesmo pergunta, e se os extremistas tomarem o poder?
Prevendo isso, ainda que a insurgência seja esmagada, os americanos pretendem ficar. Pelo menos em algumas poderosas bases militares, equipadas com os mais sólidos e mortíferos argumentos para manter na linha eventuais árabes insubmissos.