Credibilidade americana arranhada.

Quando afirmou que Assad passara a linha vermelha, usando armas químicas, Obama devia, automaticamente, atacar.

Era o que proclamavam as flores mais viçosas do establishment americano.

Do contrário, a credibilidade dos EUA iria para o espaço.

Quem respeitaria a palavra da Casa Branca, depois de uma roubada dessas?

Neste mês, em duas oportunidades, aquelas vozes tão ardorosas, que defendiam a palavra presidencial como valor intangível, tiveram bons motivos para se erguerem em protesto.

Primeiro, quando depois de garantir que não haveria ataques de drones durante as conversações de paz entre o governo de Islamabad e os talibãs paquistaneses, Obama não cumpriu sua promessa.

E usou drones para assassinar o chefe talibã Hakimullah Mehsud. O que cancelou as reuniões entre as partes.

A paz com os talibãs é da maior importância para o governo do Paquistão. Desde o início do século, suas forças militares e os  milicianos radicais vem travando uma luta sangrenta que já matou cerca de 49 mil civis e 15 mil militares, a um custo estimado em 68 bilhões de dólares, até agora.

Furioso com a falta de palavra americana, o ministro do Interior, Chaudry Nisar Asi, acusou Tio Sam de mal intencionado. O objetivo do seu ataque seria sabotar a paz entre o Estado paquistanês e os rebeldes talibãs.

Pode ser até que ele tenha razão.

Afinal, conseguindo acalmar os fundamentalistas fanáticos, o governo, além de acabar com o morticínio e os imensos gastos militares dos combates, ficaria com a barra limpa para encarar os EUA na questão dos drones.

Como se sabe,  desde os tempos do presidente Bush, a Casa Branca vem enviando aviões sem piloto (os drones) ao Vaziristão, província paquistanesa, com a missão de matar terroristas da al Qaeda e do Talibã. Atualmente só talibãs vem sendo alvejados já que os homens do extinto Bin Laden preferem atuar no Iemen e no Iraque.

Claro, os EUA fazem o possível para atingir apenas seu alvo, mas, como eles não são infalíveis, atingem também inocentes civis.

Embora John Brennan, o diretor geral da CIA, encarregada das operações, garanta que isso acontece raramente, há quem o desminta.

As estimativas vão desde mais de 900 vítimas, para o Birô de Jornalismo Investigativo, até 400 (desde 2008) segundo pesquisas da ONU.

Recentemente o ministro da Defesa baixou esse número para 67.

Pouca gente acreditou, especialmente porque a estimativa desse general saiu logo após o anúncio da ajuda militar americana de 1 bilhão e trezentos e oitenta milhões de dólares em armamentos para as forças armadas locais.

Os drones são uma pedra no sapato das relações EUA-Paquistão.

O presidente, os ministros, os parlamentares, os juízes, os advogados, os generais, os trabalhadores, todos os paquistaneses exigem o fim dos vôos desses mensageiros da morte.

Obama sente muito,  mas não vai dar um fim neles. Afinal, já mataram centenas de chefes e ativistas talibãs e da al-Qaeda.

O governo anterior, do presidente Zardari, falou muito, reclamou muito, mas não fez nada de concreto para forçar os americanos a respeitarem a soberania paquistanesa e a integridade física de camponeses inocentes.

Foram apenas  words, words, words

O primeiro- ministro Nawas Sharif, cujo partido venceu as recentes eleições, jurou na campanha que ia tirar os drones dos céus paquistaneses.

Até agora fez como o governo anterior: reclamou.

Mas para convencer os talibãs a fazerem as pazes, ele vai ter de cumprir suas promessas eleitorais.

Os talibãs condicionam sua integração na legalidade ao fim dos ataques de drones.

Claro, eles querem poder andar tranquilamente sem se arriscarem a serem atingidos por mísseis disparados do céu.

Como Obama não pretende renunciar aos drones, conclui-se que uma eventual paz no Paquistão pode gerar atritos  entre a Casa Branca e Islamabad. Em outras palavras: para  a Casa Branca, não é uma boa.

Mas, apesar dos, digamos, contratempos, Sharif não desistiu de tentar acertar os ponteiros com os talibãs locais.

Precavidamente pediu e conseguiu do governo americano uma nova promessa explícita de que não haveria bombardeios por drones enquanto as novas negociações de paz durassem.

Foram precisas apenas algumas horas para que, mais uma vez, a palavra presidencial fosse rompida.

Disparos de drones destruíram uma escola religiosa na cidade de Hangu, matando três professores e cinco alunos, além de ferirem um número indeterminado de pessoas.

Os EUA explicaram que, na verdade, não se tratava de uma escola, mas sim de um centro de recrutamento de milicianos.

Isso justificou o ataque, mas não o rompimento da palavra.

Faz lembrar um fato semelhante que ocorreu no século 15 quando se preparava uma cruzada contra os otomanos.

O problema é que o rei Ladislao da Hungria havia jurado respeitar uma trégua de 10 anos com o sultão Murad. Para ele poder liderar o ataque, o papa liberou-o de seu juramento, alegando que palavra dada a hereges muçulmanos não era para ser cumprida.

Acredito que para a Casa Branca, os interesses americanos não podem ficar prejudicados por promessas feitas a um país pouco confiável, com certas leis e costumes incivilizados,  parcialmente imerso nas brumas da Idade Média…

Aqueles líderes americanos receosos de que a credibilidade americana ficasse arranhada caso Obama não bombardeasse a Síria, nem se tocaram com a dupla violação da palavra dada ao governo do Paquistão.

As conseqüências no século 15 foram desastrosas para a cristandade. Derrota completa na batalha de Varna, sendo o rei Ladislao degolado e sua cabeça exposta em praça pública.

As conseqüências no episódio de agora não serão tão sérias.

Imran Khan, o maior líder popular paquistanês, cujo partido governa a província onde os drones atacaram a escola religiosa, declarou que bloqueará a passagem dos comboios de suprimentos da ONU para a guerra do Afeganistão.

Isso será problema para as forças dos EUA e da OTAN pois seus comboios terão de seguir uma rota alternativa pela Rússia, mais longa e muito mais cara.

Além disso, Khan está pressionando o governo Sharif para tomar uma atitude forte.

Seu partido já recebeu o apoio de mais um importante grupo político: a Liga Muçulmana Awani.

Os desdobramentos são imponderáveis, talvez graves.

Jurar falso pode custar caro.

 

 

 

 

 

1 pensou em “Credibilidade americana arranhada.

  1. OS DRONES, JÁ RONDAM A CASA BRANCA, LEVA ENTORPECENTES DO MÉXICO PARA OS USA, É O QUE VEMOS PELA MÍDIA, O BRIQUEDO, QUE VIROU ARMA DE GUERRA, COMO VAMOS TER ARMAS EFICIENTES PARA CONTRATACAR ESSES MOSQUITOS VOADORES, QUE PODE ENTRAR NUM EDIFÍCIO, SUBIR OS ANDARES, CHAMAR O ELEVADOR, APERTAR O BOTÃO, SAIR, ENTRANDO NUMA SALA REPLETA DE ALTOS ESCALÕES DO MUNDO E EXPLODIR NO MEIO DELES….NINGUÉM PENSOU NISSO, NEM ARMAS PARA DESTRUÍ-LOS, NEM CAÇADORES DE DRONES.
    O QUE ACONTECEU NA CASA BRANCA É UMA MOSTRA O QUE OS BRIQUEDOS DE AVIÕES, ESTÃO MOSTRANDO, AS NOVAS TECNOLOGIAS DO BEM E DO MAL, QUE SERÃO USADAS NO FUTURO….AMIGOS E INIMIGOS….PENSAR PROFESSORES(AS)

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