Desde sua primeira campanha eleitoral, Obama promete que os EUA trabalhariam por uma paz justa na Palestina.
Nos fóruns internacionais, ele combateu o pedido da Palestina de reconhecimento pela ONU. Para o presidente americano, somente negociações bilaterais entre israelenses e palestinos resolveriam a questão.
5 anos depois da eleição de 2008, Obama pareceu estar fazendo valer o que disse, quando convenceu Telaviv e Ramallah a aceitarem negociações de paz.
Começou pressionando as duas partes: os palestinos para que desistissem de exigir a interrupção de novos assentamentos como pré-condição das negociações e os israelenses para que limitasse a expansão dos assentamentos, ilegais perante a ONU e o Direito Internacional.
Apesar do primeiro ministro de Israel não fazer sua parte, assim mesmo, Abbas, presidente da Autoridade Palestina e aliado dos EUA, cumpriu a sua.
Mesmo indignados com a falta de palavra de Netanyahu, os representantes palestinos limitaram-se a acusá-lo de estar sabotando as reuniões, que mal haviam começado..
Um deles até renunciou a seu cargo, em sinal de protesto.
Sob as asas de Jonh Kerry, secretário de Estado, as negociações deveriam chegar a um acordo final até maio.
Tendo começado em julho, logo marcaram passo.
As divergências pareciam insanáveis.
Os palestinos reclamaram que Israel só queria tratar de segurança, exigindo medidas ilegítimas, exageradas e desnecessárias.
Garantir a segurança de Israel sempre foi ponto de honra para Obama e Kerry que, em repetidas ocasiões, insistiram na sua absoluta necessidade. Jamais pronunciaram uma única palavra em favor de segurança para o futuro Estado palestino.
Justamente em nome da segurança, Netanyahu queria o controle da parte palestina do vale do rio Jordão pelo exército de Israel.
Difícil entender porque pois o vale do Jordão fica próximo à Jordânia, não de Israel. Se terroristas o atravessassem teriam de passar por todo o território palestino antes de chegar à fronteira israelense.
Em entrevista à Tv palestina local, Abbas afirmou que essa exigência era totalmente inaceitável por vioiar a soberania de um Estado independente como deverá ser o palestino.
Preocupado com o andamento moroso das negociações de paz, Kerry manteve cerca de 9 encontros com as partes e, por fim, apresentou uma sugestão do que seria um quadro de princípios (um framework), contendo todos os pontos de um acordo final a ser discutido posteriormente.
Em outras palavras, seria um acordo provisório.
Enquanto está sendo analisado por palestinos e israelenses, foi decidido que ele não seria comunicado oficialmente.
No entanto, através de vazamentos de representantes das duas partes, publicados no Canal 10 e nos jornais israelenses Haaretz, Maanavi, Yedloth, Ahronoff e no jornal palestino Al-Ayyam, as sugestões americanas acabaram se tornando conhecidas.
São as seguintes:
-Desmilitarização do futuro Estado palestino, sob monitoramento dos EUA;
– As passagens de fronteira com o Jordão sob controle conjunto israelo-palestino;
– Presença militar israelense no vale do Jordão depois da independência da Palestina;
– Postos de vigilância israelenses no leste das colinas das regiões montanhosas da Margem Oeste;
– Adiamento das decisões a respeito da faixa de Gaza.
Este quadro de princípios ignora totalmente questões básicas para a Palestina: os limites do novo país; a situação dos refugiados expulsos por Israel na guerra de 1948 e a divisão de Jerusalém entre os dois países, sem falar em Gaza – que continuaria abandonada à seu destino trágico.
Os militantes palestinos temiam que Abbas, devido a seu passado de concessões aos EUA, não se manifestasse contra. Mas, pelo menos até agora, ele atendeu às posições do seu movimento, o Fatah.
Descartou qualquer possibilidade dos palestinos aceitarem a proposta de Kerry.
Com o exército israelense instalado no vale do Jordão e em postos militares espalhados pelo país, a Palestina estaria presa numa verdadeira camisa de força. Completamente controlada pelo exército de Israel, não seria dona de suas decisões, apenas um país semi-independente,
Falando ao Sky News Arabya, Abbas ainda afirmou não aceitar um acordo provisório, “um processo de transição”, conforme já havia sido defendido anteriormente por Obama no fórum Saban, no Brooking Institute.
Durante a discussão do acordo final, Netanyahu teria muito tempo para continuar anexando terras palestinas com novos assentamentos, criando fatos consumados.
O triste é que a proposta de Kerry lançou sérias dúvidas sobre sua imparcialidade. Para dizer pouco.
Alguns experts dizem que ele está favorecendo Israel para compensar o acordo nuclear com o Irã, que deixou Netanyahu fora de si. Desacostumado que está de arroubos de independência por parte dos EUA.
Seja como for, ficou claro que Kerry não é um mediador de confiança.
É verdade que , agora, ele apelou para que o premier israelense não anunciasse novos assentamentos quando da libertação do próximo grupo de prisioneiros palestinos, para não tornar as coisas ainda mais difíceis.
Mesmo assim, até os palestinos moderados, que tinham alguma esperança na pax americana, ficaram decepcionados.
A posição pró-rejeição da proposta do governo americano ficou reforçada agora, quando os dois principais dirigentes do Hamas, que governa Gaza, ligaram para Abbas propondo, afinal, fumarem o cachimbo da paz.
Os dois movimentos de libertação palestina, o Hamas e o Fatah, de Abbas, estavam brigados desde 2007.
A idéia é formarem um governo de unidade para Gaza e Margem Oeste, com elementos do Hamas e do Fatah, que prepararia eleições parlamentares em 6 meses.
A união do radical Hamas ao moderado Fatah tornaria o lado palestino mais forte e criaria novos problemas para Kerry e Israel, que preferem os palestinos fracionados e o Hamas ausente das negociações de paz.
Por enquanto, não vejo muita chance da proposta do secretário de Estado vingar.
Pode ser que ele até a modifique diante da provável resistência de Abbas e do seu movimento, o Fatah.
E que os dois lados acabem aceitando, o que, por agora, parece estar excluído.
Se isso acontecer, apenas a questão da segurança estaria bem ou mal resolvida.
Ainda faltariam todas as outras questões- assentamentos, limites do novo Estado, status de Jerusalém Oriental e reparações aos refugiados – em que as posições dos dois lados são totalmente divergentes.
Eles precisariam fazer concessões inaceitáveis por seus grupos, especialmente agora que o mediador, do qual se esperava neutralidade, mostrou-se pró- Israel.
Mais uma vez a paz na Palestina parece impossível.
Pelo menos, enquanto Israel for governado pela direita.
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