Nas eleições parlamentares da Argélia, apenas 42% dos inscritos votaram.
Os partidos do Governo venceram por ampla margem: 288 votos contra 59 do bloco islâmico.
Os EUA e a Comunidade Européia consideraram a eleição um passo em direção à democracia.
No entanto, o chefe dos observadores europeus, Jose Salafranca apontou uma porção de irregularidades. Mais grave foi a proibição dos fiscais locais atuarem e os observadores estrangeiros terem acesso à lista nacional dos eleitores, o que considerou “não consistente com as promessas de transparência (feitas pelas autoridades).”
Abdallah Djaballah, cujo partido só foi autorizado pelo Governo 3 meses antes da eleição, foi mais direto: “Essas eleições são uma farsa.”
A última eleição realmente democrática na Argélia foi em 1991.
Diante da vitória iminente do partido populista Frente Islâmica de Salvação, os militares que governavam o país desde sua independência, em 1962, anularam o pleito.
Seguiu-se uma guerra civil na qual foram mortas 200 mil pessoas.
Em 1999, por fim, novas eleições foram realizadas, porém, com cartas marcadas, sendo eleito Abedelaziz Bouteflika, do grupo dominante de militares e civis, o chamado “le pouvoir”.
Em 2008, Bouteflika mudou a Constituição para permitir sua candidatura a um terceiro período.
Venceu com 90% dos votos, número que fala com eloqüência sobre a “lisura” do pleito. Os oposicionistas o descreveram como “um tsunami de fraudes, em escala industrial”.
A Argélia é um país rico em hidro-carburetos. Além de grande produtora de petróleo, fornece 20% de todo gás natural consumido na Europa. Estas riquezas proporcionaram ao país reservas da ordem de 200 bilhões de dólares.
No entanto, seu povo não tem ganhado muito com isso.
Segundo recente dado do FMI, o desemprego atinge 21% da população trabalhadora.
A Primavera Árabe não vingou no país.
Houve movimentos de protestos, logo depois da revolução na vizinha Tunísia, exigindo reformas e mudança de governo, reprimidos com 5 mortos e 800 feridos.
O Presidente Bouteflika, habilmente, promoveu algumas reformas: ampliou os direitos das mulheres, ofereceu empréstimos vantajosos para jovens abrirem pequenos negócios, ordenou a construção de grandes unidades habitacionais populares, entre outras ações.
A lei de imprensa foi modificada, abolindo-se as penas de prisão para jornalistas, se bem que estabeleceu penas pecuniárias muito pesadas.
Tão pesadas que a imprensa tem medo de atacar o governo.
Na campanha eleitoral, os candidatos do governo falavam que haveria uma “Primavera Argelina” em lugar da Árabe.
O Primeiro-Ministro fez colocações agressivas a respeito: “A Primavera Árabe para mim é um desastre. Não precisamos lições de democracia do estrangeiro. Nossa primavera é argelina… A Primavera Árabe é uma praga que causou a colonização do Iraque, a destruição da Líbia,a partição do Sudão e o enfraquecimento do Egito…são trabalho do sionismo e da OTAN.”
A campanha eleitoral foi fria, refletindo o desânimo do povo, que, em maioria, acha que “le pouvoir” continuará governando, sem melhorar a situação do país.
As promessas do Presidente Bouteflika de que as eleições fornecerão “uma plataforma para o novo Parlamento realizar as reformas constitucionais substantivas que são necessárias tem pouca credibilidade”.
Para muitos políticos, ativistas e líderes estudantis, a Argélia teve sua Primavera Árabe em 1991, quando o sistema unipartidário acabou e a Frente Islâmica de Salvação ganhou o primeiro turno das eleições democráticas.
Hoje a Frente Islâmica de Salvação está proibida.
A Irmandade Muçulmana desmoralizou-se ao apoiar o regime. O único partido islâmico respeitado pelo povo, a Frente de Justiça e Desenvolvimento, de Djaballah, que citamos no início, teve uma votação insignificante e suspeita, elegendo apenas 7 deputados.
O governo promete uma Primavera Argelina que realize os ideais da Primavera Árabe.
As dúvidas são muitas com um Presidente que já está há 13 anos no poder e promete ficar mais e “le pouvoir” controlando o regime desde 1962.
Abdallah Djamallah, a seu modo, também é otimista quando garante : “Mais cedo ou mais tarde, a única opção será o cenário tunisino.”
Mas a Argélia não é a Tunísia, não tem uma ditadura repressiva e inconsciente como a de Ben Ali.
Bouteflika tem demonstrado sabedoria e poderá dar os anéis para não perder os dedos.