Obama vive afirmando que os americanos vão sair do Afeganistão em fins de 2014.
Na verdade, há mais de um ano vem negociando para que parte do exército permaneça.
A Casa Branca não acredita que, apesar da fortuna gasta nos treinamentos, as forças afegãs consigam resistir aos talibãs.
Por isso, os americanos querem deixar cerca de 10 mil soldados e agentes da CIA.
O governo Karsai topa, mas tem suas exigências.
Ele não aceita que os americanos continuem promovendo raids
noturnos à vontade, através de suas Forças Especiais.
Nestas ações, os americanos invadem casas no meio da noite, atrás de suspeitos.
E vão prendendo e levando gente à vontade para, em suas bases, fazer a devida triagem.
Muitas vezes há troca de tiros e muitos incautos acabam atingidos.
Estas operações são freqüentes.
Em 2010, por exemplo, houve 3 campanhas, totalizando 270 dias, com 12 a 20 operações por noite. Sem a precisão cirúrgica alardeada por Obama. Comandantes americanos estimam que cerca de 50% dos cidadãos presos nos raids costumam ser posteriormente soltos por falta de evidências.
Como é natural, o povo afegão odeia e morre de medo dos raids noturnos.
Como as eleições estão perto, Karsai, para não perder votos, só assina o acordo de permanência de tropas dos EUA se os raids ficarem excluídos.
Também exige que todo o pessoal americano seja sujeito às leis do Afeganistão. Argumenta que, não sendo assim, a soberania do país ficaria comprometida.
O governo Obama insiste com os raids, que julga necessários para conter os talibãs, e com o privilégio dos americanos serem julgados pela justiça dos EUA.
Se Karsai continuar batendo o pé, Obama terá de esperar pela eleição do sucessor do afegão.
As perspectivas não são boas para nenhum deles..
Pela última pesquisa, o oposicionista Abdullah está em primeiro por larga margem.
Se eleito, ele irá provavelmente promover uma verdadeira inquisição contra Karsai e seus aliados, com quem os EUA e a OTAN tem convivido, fechando os olhos para suas inúmeras armações corruptas.
A desejada união contra os talibãs ficará prejudicada.
E, talvez mais importante: se Abdullah vetar raids noturnos e militares americanos fora da alçada da justiça local, o exército dos EUA retirará todos os seus homens.
A pergunta que fica é: Abdullah, o provável futuro presidente, topará as condições de Obama?
Lembro ”façanhas” como a fogueira de Alcorões, soldados mijando em cadáveres, soldados que apostaram quem matava mais civis e a execução de dezenas de famílias por um sargento enfurecido.
E tendo a duvidar.