A América não só para os americanos

Um fato importante passou praticamente desapercebido pois a nossa mídia não lhe deu o devido destaque.

Foi a fundação da CELAC – Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos com o objetivo básico de promover a integração econômica dos povos da América Latina e do Caribe.
Pretende-se ainda reduzir as assimetrias existentes entre os países dessas regiões, expandir os negócios e os acordos econômicos Sul a Sul, construir programas de inclusão social para impactar as comunidades marginalizadas. Outro desafio é a criação do Banco do Sul, com o fim de apoiar e financiar projetos de infra estrutura e de defesa do continente.
Em suma, são as 33 nações da América Latina e do Caribe que decidem unir esforços para buscar solidariamente soluções para seus problemas. Como disse Dilma Roussef, os países latino americanos e caribenhos vão buscar sua integração econômica na contramão do que vive hoje a zona do Euro, “onde velhos modelos foram colocados em xeque pela especulação financeira.”
A China aplaudiu com entusiasmo a fundação da CELAC, enviando uma mensagem na qual considerava a nova entidade “um grande marco na integração regional’, afirmando seu desejo de colaborar com ela.
Já os Estados Unidos que, juntamente com o Canadá, não foram convidados, reagiram com certo desprezo. Comentando a CELAC, Mark Tener, porta-voz do Departamento de Estado, declarou: “Há muitas organizações sub-regionais no hemisfério,  pertencemos a algumas delas. De outras, como esta, não fazemos parte. Continuaremos, evidentemente, a trabalhar através da OEA (Organização dos Estados Americanos) como a organização multilateral proeminente , falando pelo hemisfério.”
Não é o que pensam a maioria dos membros da CELAC. Como disse Evo Morales:”Sinto que estamos nos encontrando num grande momento para o debate…da grande unidade da América sem os Estados Unidos.”
Ugo Chavez explicou melhor esse ponto de vista: “Enquanto os anos forem passando, a CELAC deixará a velha OEA para trás…A CELAC nasceu com um novo espírito, é a plataforma para o desenvolvimento político, social e econômico do povo, o que é muito diferente da OAS.”  
De fato, historicamente, o relacionamento dos EUA com os países do Continente não tem sido dos melhores. Dezenas de intervenções militares e de apoio a golpes de estado e a ditaduras cruéis caracterizam um comportamento pouco lisonjeiro de Tio Sam.
Depois do fim da Guerra Fria, estas ações perversas reduziram-se bastante. Houve o reconhecimento por Bush do golpe militar contra o governo Chavez. E a postura dúbia de Obama no golpe militar de Honduras. Primeiro condenou-o para depois aceitar uma eleição viciada pela ausência forçada do presidente deposto.
Atualmente, a presença dos EUA na OEA não faz sentido já que nada tem a ver com os objetivos de desenvolvimento e de superação da pobreza dos países do continente. A forma elegante de superar esta contradição foi excluí-lo de uma nova entidade representativa dos demais países do Continente.
Pode parecer que esta posição é extremada e não deve refletir o pensamento da maioria dos países membros. No entanto, o fato de todos aceitarem que a CELAC fosse fundada sem a participação dos EUA e de seu fidelíssimo Canadá mostra que o desejo de torná-la o verdadeiro representante da região é geral.    
No entanto, alguns países como o México, o Chile e a Colômbia são próximos dos EUA, com ele mantendo tratados bilaterais de comercio livre. Para eles, a CELAC não substituirá a OEA. Como disse Patrícia Espinosa, a chanceler do México: “A OEA e a CELAC são forças complementares de cooperação e diálogo.”
Um teste para a CELAC seria superar as diferenças entre esses países e aqueles com governos de centro-esquerda, para se unirem por objetivos comuns como desenvolvimento regional integrado, combate à pobreza e defesa dos direitos humanos.
 É animador o fato de, na declaração final da reunião, todos os países convergiram em dois pontos que poderiam provocar separações:
– qualquer governo vindo de um golpe de estado será afastado da CELAC até o restabelecimento da ordem constitucional, por uma forma legítima;
– rejeição do bloqueio dos Estados Unidos a Cuba.
A CELAC representa 33 países, com 600 milhões de habitantes que, em conjunto, são o maior exportador de alimentos do mundo. O seu PIB somado atinge 6 trilhões de dólares. Num momento de crise econômica mundial, a região apresenta seus mais baixos índices de pobreza em 20 anos. Seu crescimento médio em 2011 será de 6%, muito maior do que os índices dos EUA e da EUROPA.
Será, portanto, um interlocutor de respeito nos fóruns mundiais.
A maioria dos países da região não depende mais dos financiamentos e das compras dos EUA. Os demais desejam ao menos suavizar esses laços que tem implicado em dominação.
 Com a CELAC, a doutrina de Monroe deve sofrer uma pequena correção: a América também para os latino americanos e caribenhos.

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