A recusa dos EUA a entregar Gulen a Erdogan, sem a apresentação de provas, pode acabar mal para o Ocidente.
A Turquia é um aliado essencial por sua localização entre a Ásia e a África.
O presidente turco já demonstrou que está furioso com a atitude de Tio Sam.
Rangendo os dentes, ele declarou a investidores estrangeiros: “O Ocidente está apoiando o terrorismo e tomando o lado do golpe. ”
E disse mais: “Eles (os golpistas) têm seus protagonistas no interior (da Turquia) mas o roteiro deste golpe foi escrito no exterior. ”
Ele já havia criticado os poderes ocidentais, especialmente os EUA, por se importarem mais com a repressão do golpe e o destino dos golpistas do que com a ameaça que eles fizeram à democracia turca.
O Ocidente, em resposta, informou Erdogan de que ele não deveria usar métodos anti- democráticos para reprimir o que ele chama de democracia.
E não deixou de, por sua vez, fazer uma ameaça direta, lembrando que, se for re-insituída a pena de morte, a Turquia não poderá ser aceita na União Europeia. Coisa que o país vem solicitando há muitos anos.
Na verdade, quem parece mais preocupado com a evolução da crise é Tio Sam e seus amigos europeus.
Um eventual rompimento turco, dificultaria bastante os entendimentos para se chegar a uma solução para o problema dos refugiados.
Washington acha ainda pior uma outra possível consequência: Erdogan poderia fazer um acordo com Assad, deixando de apoiar os rebeldes anti- governo sírio. E expulsar os aviões dos EUA do aeroporto de Induclik, usado por eles para bombardearem o Estado islâmico.
A ofensiva aérea seria prejudicada pois esta base turca é muito importante dada sua proximidade ao território dominado pelo Estado Islâmico.
Some-se a isso a reaproximação entre Turquia e Rússia, que começa a ser intensificada com a viagem de Erdogan à Rússia para tratarem de assuntos econômicos, políticos e militares.
Claro, Erdogan pode optar por retaliações mais brandas tipo redução do número de diplomatas americanos em Ancara, convocação do embaixador turco em Washington, interrupção dos ataques da aviação turca contra o ISIS, etc
De qualquer forma, pazes se houverem só serão através de um processo lento, pois o líder turco está mesmo indignado.
Ele não pode engolir o inimigo Gulen morando em paz na Filadélfia
“Que tipo de parceiros estratégicos somos nós”, ele perguntou outro dia, ”quando vocês (americanos) ainda hospedam alguém cuja extradição eu requeri? “
Por amor a sua biografia, Obama não pode mandar para a Turquia um exilado político, sem evidências claras de sua violação das leis.
Ele já está fazendo o máximo que lhe é permitido.
Mandou investigar os recursos do tesouro nacional que, através de escolas semi- públicas (charter schools), estão sendo usados para subsidiar o movimento Hizmet, criado e liderado por Gulen.
Quem sabe dali poderia surgir alguma forma de ilegalidade que autorize o presidente Obama a satisfazer as exigências de Erdogan.
Toda a Casa Branca está torcendo por isso.