Até romper com o Estado Islâmico, o governo turco fechava os olhos para o comércio do seu país com os bárbaros vizinhos. Caminhões entravam carregando barris de petróleo das áreas tomadas à Síria e ao Iraque e voltavam abundantemente carregados com armas e munições.
Empresas inescrupulosas turcas compravam e vendiam do ISIS e tudo era contrabandeado com cumplicidade de oficiais ávidos por dólares.
Depois do Estado Islâmico, que é sunita, ter praticado um atentado contra xiitas turcos, matando mais de 100, o presidente Erdogan resolveu declarar guerra a esses terroristas.
Todas as relações comerciais com eles foram terminantemente proibidas, como seria lógico.
Nem por isso os negócios entre as empresas e oficiais corruptos turcos com o Estado Islâmico acabaram de todo.
Um estudo do Conflict Armament Research (Pesquisa dos Armamentos nos conflitos), da União Européia, revelou que 13 empresas turcas continuavam vendendo armas e seus componentes ao Estado Islâmico.
A solicitação do grupo europeu ao governo turco para que lhe permitisse examinar a eficiência dos regulamentos de Ancara para coibir a transporte desses produtos para território inimigo foi negada.
Como diz o ditado ancestral: “Quem não deve não teme”.
Talvez mais chocante foi a transcrição pelo jornal Cumhuriet (22 de fevereiro) da gravação de um diálogo entre Mustafa Demir, da liderança do ISIS na fronteira, e um oficial turco.
Soube-se então que Demir recebia dinheiro de contrabandistas e cooperava com os oficiais até a fronteira ser cruzada pelos caminhões transportando cargas ilegais.
O Cumhuriet já havia revelado em maio de 2015 que um comboio turco fora atingido por ataques aéreos. Ele transportava armamentos para os movimentos terroristas.
Publicando esse tipo de notícias, o Cumhuriet tinha mesmo de fazer Erdogan perder a paciência.
Em novembro, Can Dundar, o editor-chefe, e Erden Gul, chefe do birô de Ancara, foram presos na prisão de Silivri, onde aguardam julgamento.
Sabe-se que o procurador-chefe vai pedir prisão perpétua para os dois.
A acusação é de “reunir documentos secretos do Estado com o objetivo de espionagem política e militar, assim como tentar derrubar o governo da República da Turquia.”
Impressionante mas pra lá de exagerado.
Não é a toa que a Turquia é o país que tem mais jornalistas presos no mundo.