Tendo usado o assassinato dos três jovens judeus para criminalizar o Hamas, o premier Netanyahu também condenou a unidade palestina, recém-construída com o Fatah, num governo formado de forma consensual.
Ela já tinha ameaçado romper as negociações de paz, alegando que jamais trataria com um grupo integrado inclusive pelos “terroristas” do Hamas.
Pragmáticos, os líderes do Hamas indicaram como seus representantes nesse novo governo palestino técnicos sem vínculos com seu movimento.
Tudo para deixar Netanyahu sem pretextos para virar a mesa.
Mas o israelense não se tocou.
Finda a guerra de Gaza, ele se apressou em proclamar a derrota do Hamas e seu total isolamento, prenúncio do fim da aproximação com o Fatah.
Mas não foi o que aconteceu.
Longe de perder o apoio da população de Gaza, o Hamas se fortaleceu com a guerra, tendo seu prestígio crescido substancialmente, não só no Estreito, como também em todo o território palestino.
E sua aliança com o Fatah ficou mais sólida.
Pesquisa realizada pelo Palestinian Centre for Policy and Survey Research na Cisjordânia e no Estreito de Gaza, regiões que formarão o futuro Estado palestino, mostrou que 88% das pessoas preferiam eleger presidente Ismael Hanyeh, o líder do Hamas. Ele obteria 88% dos votos, enquanto que Mahmoud Abbas, membro do Fatah e atual presidente da Autoridade Palestina, ficaria com apenas 36%.
Apesar da grande maioria favorável a Hanyeh em Gaza, viu-se no estreito grande número das bandeiras amarelas do antigo rival Fatah e retratos do seu presidente, Abbas durante as celebrações do fim da guerra.
Até alguns meses atrás o Hamas, que governa Gaza, jamais admitiria algo assim por parte dos membros da facção então rival.
Durante as negociações com os israelenses, mediadas pelo Egito, membros do Fatah e do Hamas atuaram em sincronia, defendendo os interesses do seu povo.
Posteriormente determinaram que somente ao governo de consenso Hamas-Fatah caberia cuidar da reconstrução de Gaza, incluindo a administração da fronteira para permitir entrada de todos os materiais necessários às obras.
Se Netanyahu pretendia que os disparos do seu exército contra Gaza destruíssem a unificação dos movimentos palestinos, seus tiros saíram pela culatra.
Fatah e Hamas aprenderam a atuar juntos. Vai ficar difícil para Israel continuar o jogo de adiar ad aeternum uma solução para a Palestina.