Até onde não vai a liberdade de imprensa.

No dia 3 de março, Abby Martin, âncora do telejornal da emissora RT America, criticou o governo russo por intervir na Criméia.

RT é a sigla de Russia Today, rede de imprensa com sede em Moscou.

Foi um prato cheio para a grande mídia dos EUA. Seu pessoal falou o diabo dos russos, que obrigariam os jornalistas a defender as ações torpes do Krenlim.

Poucos dias depois, outra apresentadora da RT, Lisa Wahl, também fez um pronunciamento, opondo-se às ações russas na Ucrânia, apoiadas pela rede.

E ainda demitiu-se no ar pois  “…não poderia fazer parte de uma televisão financiada pela governo russo que encobre as ações de Putin”.

Era o Nirvana para os grandes da imprensa de Tio Sam, que se esbaldaram na análise do facciosismo da RT e da falta de liberdade dos jornalistas russos.

Quebraram  a cara quando Abby Martin não foi despedida pelos seus patrões russos, continuando firme na RT. E num debate em um canal americano ainda declarou: ”Ao contrário da opinião popular, a RT não força seus jornalistas a se submeterem, eles são livres para expressar sua opinião, não só em particular,  como também no ar.”

Houve quem dissesse que, certamente, Abby recebeu vantagens para falar essas coisas, numa jogada da RT para se promover.

Pode até ser, embora a jornalista seja bem conceituada nos EUA.

O certo é que nem sempre a imprensa americana dá liberdade de opinião a seus jornalistas.

Durante a guerra do Iraque, a TV NBC despediu Peter Arnett depois que ele criticou a guerra numa emissora iraquiana.

O mesmo aconteceu com Phil Donahue, via memo no qual a MSNBC justificava a demissão porque suas idéias atribuiam “uma face difícil à emissora em tempos de guerra.”

Por sua vez Ashley Banfield foi posto na rua,  pela MSNBC  (de novo ela) depois de ter criticado desinformações pró-guerra numa cobertura  pela TV americana.

E Jessica Yelin declarou, em 2008, que na guerra do Iraque, “o corpo de jornalistas estava sob enorme pressão dos executivos das corporações, os quais diziam que por estarmos em guerra, ela deveria ser apresentada de forma consistente com a febre patriótica da nação e com os altos níveis de aprovação do presidente (Bush).”

Tudo isso faz lembrar uma frase do jornalista Lowell Bergman, interpretado por Al Pacino, no filme “O informante”.

Desanimado com a recusa de jornais e emissoras de TV de divulgarem sujeiras da indústria de cigarros, ele falou: “A liberdade de imprensa só existe para os donos da imprensa.”

Quanto à corajosa Lisa Wahl, uma da suas acusações foi que a RT teria distorcido as respostas de Ron Paul, numa entrevista realizada por ela.

Infelizmente para Lisa, Ron Paul, deputado aposentado do Partido Republicano dos EUA contestou: “Não creio que minhas palavras foram mudadas de qualquer forma.”

 

 

 

 

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