As bombas de fragmentação podem não ter os efeitos devastadores das armas químicas, mas não ficam longe disso.
Após seu lançamento, elas se dividem no ar em centenas de “sub-bombas”, que caem em uma grande área, expandindo seu efeito letal.
Além disso, parte dessas sub-bombas não explode, penetra na terra. E lá pode permanecer por muito tempo, ameaçando os habitantes da região, mesmo bem depois dos combates terminarem.
Somente a organização Handicap International tem registradas 13.306 vítimas de bombas fragmentárias, das quais 98% são civis e 27%, crianças.
Na última invasão do Líbano, em agosto de 2006, Israel lançou bombas fragmentárias que se dividiram em 4 milhões de sub- bombas.
Mais de 200 civis libaneses foram mortos por elas.
Os EUA forneceram essa munição aos israelenses durante todo o conflito, através de sucessivos embarques.
A Human Rights Watch declarou haver evidências de que as forças armadas de Telaviv usaram bombas fragmentárias muito perto de áreas habitadas por civis.
O que, segundo a entidade, nunca poderia acontecer, pois elas são “inaceitavelmente inexatas e inconfiáveis quando lançadas em áreas percorridas por civis”.
Até o governo americano ficou preocupado com o uso que os israelenses fizeram das armas que ele lhes forneceu.
O Departamento de Estado realizou uma investigação para verificar se seus aliados violaram o acordo secreto que firmaram com a Casa Branca.
Não se sabe no que deu essa investigação, talvez arquivada por “razões superiores”.
O Human Rights Watch concretizou suas denúncias, apresentando provas de que Israel jogou bombas fragmentárias, não perto de alguma área civil, mas diretamente sobre uma, a cidade de Bilda, no Líbano.
A defesa do governo de Telaviv foi pelo menos cínica.
Mark Regev, porta-voz do Ministério do Exterior, declarou: “Os países da OTAN mantém estoques dessas bombas e as usaram em recentes conflitos – na Iugoslávia, Afeganistão e Iraque. O mundo não tem razão em apontar um dedo acusador a Israel”.
Há muitos anos, várias entidades – como a Cruz Vermelha Internacional e a Cluister Munition Coalition, vinham pedindo providências contra as bombas fragmentárias, devido ao grande número de civis que elas matam.
Em 2007, finalmente, 47 governos aprovaram a “Convenção Sobre Munições Fragmentárias”, que torna ilegal a produção, uso e mesmo transporte desse tipo de armamento.
Hoje, 112 países já assinaram a convenção, sendo que 83 a ratificaram.
Causou escândalo a notícia do Departamento de Defesa dos EUA de que iria produzir e vender à Arábia Saudita 1.300 bombas de fragmentação.
Em primeiro lugar, porque os dois países opunham-se à opinião pública internacional, fortemente crítica dessas armas de efeitos tão devastadores, quanto traiçoeiros.
Mas, tem mais: em 15 de maio a Assembleia Geral da ONU votou uma condenação ao regime Assad por ter usado bombas fragmentárias
Entre os 105 signatários estavam EUA e Arábia Saudita.
Novamente os EUA mostraram-se fiéis ao duvidoso “façam o que eu digo, mas não o que eu faço”.
São fatos assim que abalam a credibilidade americana, muito mais do que não cumprir suas ameaças de atacar a Síria.
Quanto à Arábia Saudita, não se pode esperar ética de quem desrespeita os direitos humanos sistematicamente, além de financiar e armar grupos terroristas, quando forem úteis a seus interesses.
A Casa Branca se defende, alegando que, com os melhoramentos tecnológicos das suas bombas, menos de 1% das sub-bombas penetra no solo, diminuindo as chances de vitimar cidadãos incautos.
No entanto, a “Associação de Controle de Armas” garante que há evidências de que esse número é bem maior, conforme se verificou na invasão do Iraque, em 2003.
Seja mais ou menos do que 1%, sempre serão muitas dessas sinistras armadilhas, prontas para explodir e matar gente inocente, sem aviso.
Os EUA e a Arábia Saudita não poderiam ser processados nos foros internacionais por violarem a proibição internacional já que não assinaram a convenção.
Legalmente, não são obrigados a respeitá-lo.
Mas moralmente, estão condenados.