Entre os comentários de estadistas de todo o mundo sobre a vitória do moderado Rouhani nas eleições iranianas, a reação de Bibi Netanyahu chamou a atenção.
Foi o único que demonstrou desagrado.
Nem bem foram conhecidos os resultados, o primeiro- ministro israelense apressou-se em advertir o Ocidente para que não ficasse animado.
Para ele, qualquer otimismo seria wishful tinking (imaginar que seus desejos são realidades). Convinha continuar tratando os iranianos com dureza, uma vez que: ”Quanto mais a pressão sobre o Irã crescer, maiores as chances de interromper o programa nuclear iraniano, que continua a maior ameaça à paz mundial.”
E foi adiante, proclamando que, caso o Irã insistisse em prosseguir com seu programa nuclear, os aliados deveriam acabar com ele por qualquer meio. Leia-se: até pela guerra.
Está muito claro que o objetivo de Netanyahu não é impedir ataques nucleares iranianos, mas sim destruir o país como potência militar.
Para o agrupamento político que domina Israel, a segurança do país não admite a existência no Oriente Médio de uma potência capaz de enfrentar o exército israelense.
O Irã se enquadra nesse caso, com a agravante do seu governo ser inimigo jurado do Estado sionista.
Depois da última reunião entre os P+5 e o Irã, tinha ficado claro que as divergências entre as partes tornavam muito difícil uma conciliação na questão nuclear.
Crescia com mais força nos EUA e na Europa a ideia de assumir uma postura mais radical, exigindo a submissão do Irã, sob pena de sofrer um ataque militar.
A vitória do moderado Rouhani, que, durante a campanha, prometeu transparência total do programa nuclear iraniano e buscar um acordo sem radicalismos, ameaça destruir os sonhos de delenda Irã de Netanyahu.
Seria desastroso para o premier.
Em Israel, nem todos compartilham das posições dele.
O presidente Shimon Peres considerou o resultado da eleição iraniana “um novo começo, que poderia abrir caminho para a resolução pacífica do impasse nuclear.”
E Gal-on, líder do partido Meretz, fez uma análise interessante: ”A ameaça iraniana é usada como uma bandeira por Netanyahu, que ele agita cada vez que deseja distrair o público israelense dos reais problemas de Israel. A eleição do moderado Rouhani é um golpe na liderança extremista de Israel, que encontrará dificuldades para convencer o mundo a atacar o Irã e será forçada a usar recursos diplomáticos, aos quais não está acostumada, para terminar o conflito.”
É verdade que nem Shimon Peres nem o Meretz integram a coalizão que manda.
Mas não deixam de ter uma liderança moral, que pode influenciar o povo no sentido de deter a fúria belicista do premier Netanyahu e seus parceiros.