Barghouti, o mais respeitado líder palestino, do interior de uma prisão israelense, já havia declarado morto o processo de paz.
Parecia lógico. Desde 1993 que se fazem tentativas de negociá-lo e ele andou pouco ou nada.
Com o apoio da maioria dos chefes do Fatah, Barghouti propunha que se adotasse a não-violência e a não-colaboração com Israel como estratégia para conquistar a independência.
Mas Abbas, o Presidente da Autoridade Palestina, por pressão dos EUA, forçou e conseguiu convencer o conselho do seu movimento a dar mais uma chance à idéia das negociações.
Enviou carta a Netanyahu, propondo início dos contatos entre lideres dos dois campos. Somente estabeleceu duas pré-condições óbvias:
– tomar como base das discussões as fronteiras de 1967, várias vezes proclamadas como legítimas pela ONU, o que significa um estado com apenas 20% do território da Palestina;
-ser interrompida a expansão dos assentamentos, pois se eles já estão ocupando áreas que, em tese, serão devolvidas para os palestinos, não tem sentido continuar aumentando a tomada de terras alheias.
Ninguém acreditava que o Primeiro- Ministro israelense fosse topar. Ele já deu totais demonstrações que não aceita qualquer das reivindicações.
Aí, surgiu um fato novo: a integração do Kadima no governo e a nomeação de Mofatz, seu líder, Vice Primeiro-Ministro.
Logo alguns cronistas otimistas soltaram rojões, garantindo que, sendo Mofatz totalmente favorável a negociações justas com os palestinos, ele certamente iria colocar Bibi no bom caminho. Esperavam que, pelo menos, Israel puxaria o breque de mão na onda dos assentamentos.
Era fantasia, claro. Netanyahu é que fez Mofatz mudar de posição.
Ele respondeu ao apelo de Abbas com um ruidoso “não”.
Claro que disfarçado com um recheio de belas palavras e ainda melhores declarações de intenções.
Concretamente, declarou que aceita negociar, mas sem pré-condições. E estamos conversados.
Pensando bem, até que a estratégia de Abbas está sendo eficiente.
Com esse “não” israelense no bolso, ele vai voltar, em setembro, ao Conselho de Segurança da ONU repetindo seu pedido de reconhecimento da independência da Palestina.
E antes que Obama, ecoado por Cameron e Merkel, aleguem paternalmente que o “caminho certo” é as negociações, Abbas poderá responder: impossível, Israel não quer.
E agora, José?
Há 2 meses das eleições, Obama não vai querer problemas com os poderosos lobbies judaico-americanos e será obrigado a vetar. Só que, não terá mais Sarkosy a seu lado. Hollande, se quiser ser coerente com seu partido e seus eleitores, vai somar com Abbas.
Quanto aos outros membros do Conselho de Segurança, não creio que a maioria vá em sentido contrário.
Tendo o número de apoios suficiente para vencer no Conselho de Segurança, apesar do veto americano, os palestinos ganharão uma força moral que tende a conquistar corações e mentes mundiais com impacto ainda não isto.
Obama contará muitos pontos com o eleitorado, os formadores de opiniões e os financiadores judaico-americanos. Será, certamente, reeleito.
Mas sua imagem nos países árabes, que já é muito ruim, cairá a níveis tão baixos que os grandes amigos, a Arábia Saudita e os países do Golfo, vão sofrer as maiores pressões dos seus povos para abandonarem o ingrato papel de satélites.
Quanto à Palestina, sairá do episódio com um apoio mundial sem precedentes.
Terá dado um passo largo no caminho de sua independência.