A divulgação pelo New York Times do que o Ocidente pretendia do Irã na reunião sobre o acordo nuclear em Istambul provocou pessimismo.
Pelas exigências que seriam feitas parecia que seu objetivo seria provocar uma rejeição frontal dos iranianos. O que poderia levar à adoção de sanções ainda mais destruidoras contra o Irã, ou mesmo no bombardeio das suas instalações nucleares.
Para surpresa geral, o governo iraniano, que vinha falando grosso, mostrou-se conciliador.
Ele concordou com o abandono, embora não imediato, do enriquecimento de urânio a 20% e apresentou uma alternativa satisfatório ao envio solicitado do estoque de urânio enriquecido para fora do país.
Isso foi inesperado, pois o Irã tem pleno direito a enriquecer urânio, conforme o Tratado de Não-Proliferação das Armas Atômicas.
O chefe do setor nuclear iraniano, Fereidoun Abbasi, declarou que o Irã poderia parar de enriquecer urânio a 20% assim que completasse a quantidade suficiente para seu reator de pesquisas.
“O trabalho está sendo feito de acordo com nossas necessidades”, afirmou. ”Assim que as necessidades forem atendidas, nós reduziremos o enriquecimento e é mesmo possível que haja uma completa reversão a 3,5%.”
Lembraria que, no seu último relatório, que teve um viés anti- Irã, a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) afirmava que tinha pleno controle de todo urânio enriquecido a 20%. E que nenhuma quantidade dele fora desviado para finalidades suspeitas.
Não há porque esse controle não continuar sendo feito até completar-se o volume de urânio enriquecido necessário ao reator de pesquisas.
Uma outra exigência do Ocidente lembra muito exigência análoga feita antes da última guerra mundial.
Quando Hitler ameaçava invadir a Checoslováquia, o governo do país, preocupado, tratou de fortificar as fronteiras dos Sudetos com a Alemanha, com tropas, barreiras e peças de artilharia.
Nas negociações entre os governos, Hitler declarou considerar essa atitude uma afronta, exigindo a desmobilização dos Sudetos.
Fraco, sem contar com o apoio da França ou da Inglaterra, o Presidente checo cedeu e , como se sabe, o ditador nazista invadiu tranquilamente o país, acabando com sua independência.
Quando estabelece como condição para deixar o Irã em paz que ele destrua as instalações nucleares subterrâneas de Fordow, o Ocidente está repetindo Hitler.
Evidentemente, o governo do Irã construiu Fordow no interior de uma montanha, sob uma grande camada de concreto, para proteger a usina contra as freqüentes ameaças diretas de bombardeio feitas por Netanyahu e seu Ministro da Defesa, Barak, além das indiretas, de autoria de Obama e Hillary Clinton.
Quando as potências ocidentais pretendem proibir o Irã de construir usinas nucleares subterrâneas elas revelam más intenções. A dedução lógica é que teriam, se não planos, pelo menos uma grande possibilidade de bombardearem Fordow.
Forçar os iranianos a facilitar um possível bombardeio de sua própria usina é atitude digna de Adolph Hitler.
Não há motivos justos para destruir Fordow já que está sob controle absoluto da IAEA. Desde outubro de 2009 já foi 10 vezes submetida à fiscalização da IAEA.
Acredito que essa absurda e indigna exigência seja apenas para atender a Netanyahu. E que será retirada caso os iranianos, de fato, concordem em garantir o uso pacífico do urânio enriquecido.
O que falta ao Irã é conceder ampla, total e irrestrita autorização para os inspetores da IAEA visitarem o que e quando quiserem.
E seria ótimo um desmentido de Ahmadinejad sobre sua declaração de que Israel seria varrido do mapa.
Eu sei que, em diversas ocasiões, ele já informou que o que ele pretendia dizer é que a História se encarregaria de substituir o ‘’Estado Judeu de Israel’’ por um ‘’Estado Multi-Racial.”
No entanto, isso foi feito sem muito alarde, nem repercussão pública.
A reunião de Istambul seria o palco certo para Ahmadinejad falar ao mundo, afirmando, com todas as letras, que o Irã não quer atacar Israel.
Á reunião do dia 14, em Istambul, é considerada a ultima chance do Irã.
É também a última chance do Ocidente, particularmente dos EUA, de mostrarem que desejam uma solução que respeite o Irã como nação.
E que garanta a tranquilidade dos cidadãos israelenses, assustados pelas ameaças de holocausto atômico, apregoadas por seu Primeiro-Ministro.