O Yemen é um dos mais pobres países do mundo, com um desemprego de 35% e o segundo lugar em desnutrição crônica.
Sua economia depende basicamente da produção de petróleo, apesar das reservas serem pouco significativas. Elas deverão se esgotar em 2017, o que provavelmente causará uma crise devastadora.
Há grandes esperanças nos seus vastos recursos de gás natural, cuja exploração começou recentemente.
O maior obstáculo ao desenvolvimento do país é a extrema corrupção que desencoraja os investimentos de capitais nacionais e estrangeiros, atualmente, concentrados na indústria de hidrocarbonetos.
Quase um quarto da população de 22 milhões de habitantes necessita de assistência alimentar de emergência, de acordo com o World Food Programe (WFP). “A fome está aumentando no Yemen”, diz a representante do WFP no país, ”e o aumento crescente dos preços combinado com os conflitos estão lançando muitas famílias na miséria”.
As perspectivas de superação desses problemas são mínimas, pelo menos a curto prazo.
O governo anterior do Presidente Saleh, que durou 33 anos, foi contestado desde fevereiro do ano passado por manifestações populares. Inicialmente, o povo protestava contra o desemprego, as condições econômicas e a corrupção, mas logo passou a exigir a queda do regime.
As forças de segurança reprimiram essas manifestações com grande violência, matando dezenas de insurgentes, prendendo e torturando.
Os insurgentes resistiram e, tendo recebido o apoio das forças de oposição e de oficiais militares, criaram uma situação caótica. A Arábia Saudita e os países do Golfo, apoiados pelos EUA, negociaram um acordo com a oposição, em novembro, no qual Saleh renunciaria, mas não seria preso, nem perderia seus direitos políticos. O poder passou, então, para o vice-presidente, Hadi.
Em fevereiro último, realizaram-se eleições para um governo de transição, sendo eleito o único candidato, o ex-vice presidente Hadi, para um período de 2 anos.
Mas o Yemen que ele deve governar apresenta-se como um país dividido em pedaços.
Ao norte, o movimento Houthi, formado por xiitas da seita Zeydi, vem mantendo uma guerra com o governo central desde 2004.
Os Houthis lutam contra uma suposta discriminação dos xiitas (45% da população) por parte do governo sunita.
Desde o início da guerra, os Houthis enfrentaram tanto as forças do governo Saleh, quanto as da Arábia Saudita, com quem seu território de influência faz limite.
Eles reclamam contra ataques aéreos que teriam sofrido por parte dos EUA, aliados de Saleh. Este por sua vez os acusava de receberem armas e recursos financeiros do Irã.
No decorrer das lutas, houve uma série de tréguas e acordos de paz, sempre rompidos por um grupo ou outro.
Os Houthis participaram das manifestações de protesto contra Saleh, mas recusaram-se a aceitar o governo de Hadi. Afirmam que apesar da deposição de Saleh , seu regime continuava, com os mesmos homens nos cargos-chave.
Eles exigem uma mudança completa no país, sem os partidos políticos tradicionais, com a nomeação de uma comissão de experts para elaborar uma nova constituição.
No momento, os Houthis ocupam boa parte do território norte do Yemen, onde estabeleceram um governo independente. Continuam agindo contra redutos sunitas, que ainda resistem. Mas, nem eles tem força para atacar a capital, nem o governo Hadi tem forças para uma ofensiva final contra os rebeldes.
No Sul, atua, já há alguns anos, um movimento que pretende a separação do governo central, fundando um país independente na região.
A Al-Qaeda está presente em todo o país. É mesmo no Yemen que os terroristas são mais fortes, reunindo milicianos vindos do Afeganistão, Somá6lia, Paquistão, Arábia Saudita e de outras nações do Oriente Médio e do Norte da África.
Eles não se limitam a praticar atentados, fazem ataques contra quartéis do exército do governo e cidades, especialmente no Sul do país.
A Al Qaeda é sunita, os houthis, por serem xiitas, também são alvo de suas investidas, embora em quantidade menor.
Os EUA estão envolvidos no conflito. Sua participação em favor do governo central, tem aumentado nos últimos anos, utilizando drones, que já mataram dezenas de líderes e militantes ativos da Al Qaeda. A CIA montou uma base no país e um grupo de militares americanos vem treinando o exército local.
O objetivo principal dos americanos é combater a Al Qaeda para evitar que ela faça no Yemen uma base para suas operações.
A estabilidade do Yemen também é importante para os EUA, pois o país ocupa uma posição estratégica ao sul da Arábia Saudita e junto ao Mar Vermelho. Sua grande aliada, a Arábia Saudita, também exerce influência no Yemen, tendo já mantido choques armados com os Houthis, ao norte.
Nos últimos meses, o Irã vem tendo uma presença crescente, apoiando os Houthis, xiitas como eles, com armas e munições.
Além da Al Qaeda e dos movimentos separatistas, ao Sul, e dos Houthis, ao Norte, o governo Hadi enfrenta um problema talvez ainda mais grave: a ação negativa dos partidários de Saleh.
Ele exerce um poder paralelo. Seus parentes e partidários ainda ocupam funções básicas no exército e na administração. O filho de Saleh, Ahmed, dirige a poderosa Guarda Republicana e as forças de contraterrorismo. Yahia, um dos sobrinhos de Saleh, comanda as forças de Segurança Central, e outro sobrinho, Ahmmar, é o chefe de inteligência. Partidários de Saleh dirigem o jornal estatal, Al-Thawra.
Todos procuram sabotar o governo Hadi para provar aos EUA que Saleh é indispensável, o único capaz de garantir a segurança.
Recentemente, a Al Qaeda atacou um acampamento do exército, matando 180 soldados e ferindo muitos outros. Notificado, o Ministro da Defesa ordenou o envio de helicópteros para evacuar os feridos. O comandante da Fôrça Aérea, Mohamed Saleh al-Ahmar simplesmente recusou-se a obedecer.
A explicação: Mohamed é meio-irmão do ex-presidente Saleh.
Como esse, repetiram-se vários casos de insubordinação e outras ações,tanto na área administrativa, quanto na militar, com o objetivo de desestabilizar o governo Hadi.
O presidente procura afastar os aliados de Saleh de suas posições no governo. Mas é difícil. O próprio Hadi integrou o regime do ex-presidente. A maioria dos elementos que o cercam foram (ou são ainda) membros desse esquema. Como saber em quais poderá confiar?
Hadi não é benquisto nem na própria capital, Sa´na. Os estudantes, que iniciaram o movimento contra Saleh, o vêm como um continuador do presidente deposto, pois permanecem no poder as mesmas pessoas. Para eles, o governo atual é tão corrupto quanto o anterior.
Nos últimos meses, aconteceram muitas passeatas, protestando contra a falta de água e de eletricidade.
Durante todo o ano passado, houve apenas algumas horas de eletricidade por dia.
Em muitos bairros, o governo parou de fornecer água.
Numa tentativa de reduzir pacificamente os focos de revolta, Hadi propôs que os Houthis baixassem as armas e passassem a integrar o governo de transição. Mas a resposta será provavelmente negativa.
Agora que o Irã está fornecendo um apoio financeiro, militar e político mais consistente, eles pensam que num futuro próximo terão forças suficientemente poderosas para vencer o governo Hadi ou, pelo menos, exigir uma maior participação no seu governo.
A guerra contra a Al Qaeda e os separatistas do Sul tende a acirrar-se. Os EUA deverão aumentar sua presença, através dos drones e até eventualmente enviando uma força militar.
A Al-Qaeda não parece disposta a desistir do seu projeto de construir um Yemen à sua imagem e semelhança. O número de milicianos, que já é grande, vem crescendo maisr.
Por enquanto, não se sabe de baixas civis nos ataques dos drones. Com sua intensificação é de se esperar que elas aconteçam, criando no povo um sentimento anti -americano, ainda não detectado.
Caso os Houthis iniciem uma marcha em direção à capital, os EUA irão certamente deverão intervir; um Yemen ligado ao Irã não é aceitável pela Casa Branca.
Por enquanto, o governo Hadi luta para sobreviver, com o país dividido em pedaços, dominados por hegemonias antagônicas.
Sob uma chuva de balas, que parece se eternizar, não há como resolver os problemas deste pobre país, rico em sofrimentos.
Estamos no mesmo mundo? Os horrores são parecidos mas acho que diferentes em intensidade e crueldade, embora sejam horrores culturalmente diversos.
Mas que importa a semântica nesta hora? Importa muito mais a intensidade. Será que isto é que quer dizer “Deus brasileiro”? Neste caso temos um “diabo americano” Pra ninguém botar defeito…ai foi ruim, né?