Um ano depois de Moscou e Ancara romperem relações, por ter um avião turco abatido avião russo na fronteira da Síria, as duas nações fizeram as pazes.
Logo em dezembro iniciaram conversações visando promover um cessar fogo entre o governo sírio e os rebeldes.
A ideia era, mais uma vez, juntar os dois lados, mais a Rússia, Turquia e Irã, numa reunião inicial em janeiro, em Astana, Cazaquistão.
Desde logo, a Turquia e a Rússia afirmaram desejarem também a participação dos EUA.
Mas os iranianos discordaram. Talvez em retaliação por terem seus enviados sido barrados, em 2011, nas negociações de paz de Genebra, patrocinadas pelos EUA.
Bahram Ghasemi, porta voz do ministério do Exterior de Teerã, foi incisivo: ”Nossa política não é acrescentar outras nações nesta etapa. Não há razões para os EUA participarem na organização de iniciativas políticas na crise síria e está fora de questão que eles tenham um papel nas negociações de Astana. ”
Era muita audácia. Afinal, John Kerry fora dos mais persistentes defensores de conversações de paz entre os dois lados e seus aliados.
Ghazemi parece que pensou melhor e, mais adiante amenizou sua declaração, afirmando que outros países seriam convidados em estágios posteriores se os “primeiros passos” dos entendimentos fossem bem sucedidos.
Seria, portanto, a primeira vez em que o governo americano ficaria, no máximo, em posição secundária num congresso pela paz na Síria.
Outra novidade foi a presença prometida dos grupos rebeldes Fastaquim e Exército Livre Sírio – talvez o mais importante- numa negociação com membros da entourage de Assad, coisa que jamais aceitaram. E ainda mais surpreendente foi os oposicionistas toparem que, possivelmente, não teriam a seu lado seu bom amigo e protetor, Tio Sam.
Mas surpresa muito maior aconteceu no Forum Econômico de Davos.
Lá, Simsek, o vice- primeiro ministro do Exterior da Turquia, afirmou em alto e bom som que a Turquia não mais insistiria que a guerra da Síria só seria resolvida sem a participação de Assad.
Foi uma mudança radical pois os turcos estavam entre os principais adversários do regime sírio. Desde o começo da revolução, vinham fornecendo armas e munições aos rebeldes e liberando a entrada deles no território sírio para combater o governo. Muitas vezes afirmaram que Assad teria de cair fora para que se pensasse em paz.
Simsek tentou justifica a brusca virada: “Até onde eu sei, nossa posição sobre Assad é preocupante, achamos que o sofrimento do povo sírio e suas tragédias podem ser diretamente imputadas a Assad. Mas temos de ser pragmáticos, realistas.”
Simsek disse ainda que a situação no campo de batalha mudou dramaticamente (com a queda de Alepo). E a Turquia não poderia mais insistir num acordo sem Assad.
E completou: “não é realista. ”
As negociações, que vão unir russos, turcos, iranianos, rebeldes e partidários de Assad, além da Arábia Saudita, do Qatar e talvez dos EUA, tem um objetivo final ambicioso.
Não apenas conseguir um cessar fogo, mas também um acordo definitivo de paz.
Isso se Trump permitir.
No momento, ele parece dividido entre atender seus ministros militares, intensificando a intervenção americana, com ataques aéreos a posições do exército de Assad, ou se juntar às reuniões de Astana, após chegar a um acerto com Putin.
Até agora, Trump permanece indecifrável.
Suas constantes mudanças de posição levam a crer que ele ainda está pensando no caminho a seguir na Síria.
Se é que ele pensa.