Parece que a ONU e a OTAN (coligação das forças armadas dos países da Europa Ocidental e de alguns ex-satélites soviéticos) não pretendem sair de cena depois de atuarem na derrubada do regime Gadafi.
Vazaram planos secretos das duas que demonstram sua intenção de dar as cartas no país pelo menos durante um certo tempo.
O plano da OTAN, revelado pelo Times de Londres, é um documento de 70 páginas, detalhando medidas a serem tomadas pelo novo regime que se pretende instalar depois da guerra.
Propõe coisas surpreendentes como o aproveitamento de grande parte do imenso aparato de segurança de Gadafi, conhecido pela brutalidade dos seus métodos, mantendo-se um certo número dos seus líderes, com a condição de jurarem lealdade ao novo governo.
Uma força de 15 mil soldados da União dos Emirados Árabes se instalaria em Tripoli para efetuar prisões em massa dos principais seguidores de Gadafi, que, julga-se, poderiam constituir eventualmente uma “quinta coluna” de agitadores e sabotadores.
Nota-se aqui a habilidade dos países-membros da OTAN, evitando o papel nada invejável de tropas de ocupação, reservado para o pessoal dos Emirados Árabes, que foram tão prestimosos ao oferecer aviões para bombardear as regiões sob Gadafi.
Seria montada, também, uma rede estatal de media, de âmbito nacional, para divulgar as diretrizes do novo governo, as quais o povo deveria obedecer. Medida considerada necessária diante do fechamento dos veículos de comunicação existentes, todos favoráveis ao ancien regime.
Não ficou claro se esse plano refletia a opinião da maioria dos membros do CNT (Conselho de Transição Nacional), embora pelo menos seu representante junto aos Emirados Árabes o tivesse firmado.
É provável que os grupos rebeldes que fizeram a revolução pensando em reformas democráticas não tivessem ficado nada satisfeitos com esta colaboração da OTAN.
Coube à Inter City Press apresentar o plano da ONU à opinião pública. Mais modesto no seu volume (tem apenas 10 páginas), o documento pouco difere da proposta da OTAN.
Define os papéis da ONU, da Polícia e da OTAN que deveria continuar atuando mesmo depois da derrocada total do regime de Gadafi.
“Diz que há certas coisas que a ONU pode fazer mesmo sem um mandato específico do Conselho de Segurança”, conforme informa Mathew Russell Lee, responsável pelo web site da Inter Press.Ele continua : “O plano não coloca coisas como ‘aqui estão 4 diferentes cenários e o povo da Líbia é quem escolhe’; só diz que ‘desenvolvemos princípios para a transição na Líbia’. E a gente se pergunta: em nome de quem e em benefício de quem?”.
O documento propõe a distribuição pelo país de 200 observadores militares desarmados, 190 policiais e 61 assessores civis, “desde que solicitado pelo Conselho de Transição Nacional e autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU.”
A ONU também insiste na criação de um governo interino em substituição ao CNT antes das eleições.
Apesar de possíveis boas intenções, os dois planos não deixam de refletir uma postura arrogante, de metrópole ensinando povos coloniais a se governarem.
Apesar do plano da OTAN ter sido subscrito por um dos membros do CNT, nenhum dos dois planos acabou sendo aceito pelas lideranças rebeldes.
Segundo Ian Martin, enviado da ONU à Líbia:”Está claro que os líbios querem evitar qualquer presença militar da ONU ou de outros (referência à OTAN?).”
Já não se fazem norte africanos como antigamente.