Um negro na Casa Branca

Pouco conhecido senador do legislativo estadual de Illinois, Barack Obama chamou os holofotes para si ao discursar na convenção nacional do Partido Democrata, quando se candidatou ao Senado Federal. Sua oratória brilhante e corajosa chamou a atenção dos líderes do partido que viram nele uma estrela nascente.

À primeira vista parece uma fantasia…

Mas os Estados Unidos não são mais tão racistas quanto nos acostumávamos a considerá-lo.

A prova disso é que, já em 1996, um negro, Colin Powell, derrotaria Clinton por 50 a 38%, conforme pesquisa realizada logo após as eleições presidenciais.

Certo que Colin Powel era o que se chamaria um “negro de alma branca”, ou seja, com comportamento, idéias e ações bem aceitos pelo “establishment”.

Mesmo não sendo nada disso, Barack Obama tem muita chance de se tornar o 44º. Presidente dos Estados Unidos. Obama é um fenômeno político.

Na última pesquisa de intenções de votos, ele apareceu como segundo colocado entre os pré-candidatos democratas, com 23% à frente de John Edwards e Al Gore e atrás somente de Hilary Clinton (28%).

Pouco conhecido senador do legislativo estadual de Illinois, ele chamou os holofotes para si ao discursar na convenção nacional do Partido Democrata, quando se candidatou ao Senado Federal.

Sua oratória brilhante e corajosa chamou a atenção dos líderes do partido que viram nele uma estrela nascente. A esquerda do partido ficou favoravelmente impressionada pelo compromisso de Obama expresso neste trecho do discurso: “Se há uma criança na Zona Sul de Chicago (os bairros mais pobres) que não pode ler, isso me diz respeito, mesmo que não seja minha filha; se há um cidadão idoso em qualquer parte que não pode pagar os remédios receitados para ele, isso torna minha vida mais pobre, mesmo que não seja meu avô; se há uma família árabe-americana sendo investigada sem os benefícios de um advogado ou de um processo legal, isso ameaça minhas liberdades civis”.

Na campanha eleitoral, Obama revelou ser um político altamente carismático, de fácil comunicação com o povo, capaz de convencer e entusiasmar. E venceu com 70% dos votos.

Nesses dois anos no Senado, Obama participou de várias comissões e foi autor de 152 projetos. Distinguiu-se por votar contra todas as indicações feitas por Bush para cargos no governo e na Justiça e pelo projeto que determina a retirada das tropas americanas do Iraque até 31 de março de 2008. 

Obama enfrenta a desconfiança de setores liberais do partido. Os movimentos negros não o vêm como seu representante. Apesar disso, o reverendo Jesse Jackson,o sucessor de Martin Luther King, é um defensor entusiástico de Obama.

Por enquanto, as pesquisas mostram que apenas 1 entre 3 negros o apóiam, ficando os demais com Hilary.

Também não é bem vista pelos setores mais à esquerda a pregação de “união de todos os americanos”, não importa sua filiação política. O candidato tem insistido na tese de que o país se encontra dividido, dificultando as mudanças necessárias. Daí sua crítica ao “partidarismo”.

Coerente com essa postura, Obama tem se revelado conciliador e pragmático no Senado. Ele trabalhou com senadores republicanos como Lugar – num projeto de controle internacional das armas – e MCain – na lei deste que proibia a tortura, especificando detalhadamente para não haver dúvidas, o que provocou a ira de Bush.

A respeito desta questão, escreve Steven Jonas, conceituado analista político: “Quando Obama anunciou sua plataforma, ele foi claramente partidário, no melhor sentido Democrata da palavra. Assim, ele se declarou a favor do direito ao aborto; de medidas obrigatórias para controlar o aquecimento global; de, até 2012, oferecer completos serviços de saúde gratuitos para toda a população; da conferência regional com a Síria e o Irã, para prevenir novas guerras; da retirada das tropas do Iraque até 31 de março de 2008”. Tudo isso, como diz Jonas, é frontalmente contra o ideário republicano, o que tornaria qualquer conciliação impossível.

Como ninguém é mais realista do que o rei, vale a pena considerar o que acham de Obama alguns dos principais líderes republicanos. Para eles, o candidato nada tem de moderado, haja vista seus votos no Senado sempre alinhados com a esquerda. E o conservador John Howard, primeiro-ministro da Austrália, entusiasta admirador de George Bush, declarou: “Se eu estivesse na liderança da Al-Qaeda, eu esperaria ansiosamente por março de 2008 e rezaria por uma vitória não somente de Obama, mas também dos democratas”. Ao que Obama respondeu: “Acredito que é uma lisonja que um dos aliados de George W. Bush do outro lado do mundo me ataque um dia depois de minha proposta de retirada do Iraque”. 

Hilary Clinton ainda é favorita nas prévias do Partido Democrata.

Mas ela tem contra si o fato de ter votado a favor da invasão do Iraque e não ter se retratado, como alguns políticos democratas fizeram, alegando que teriam sido enganados pelas mentiras de Bush. Além disso, ela não defendeu um prazo para a retirada das tropas americanas.

Além disso, Obama mal começou sua campanha. A tendência é que ele cresça em função do seu carisma e sua facilidade de comunicação. Conta-se também que, conhecendo-o melhor, a comunidade negra tenderá a apoiá-lo.

Obama procura mostrar-se moderado, talvez para não assustar os eleitores americanos que ainda se horrorizam quando sentem cheiro de esquerda. As abstrações que abundam em seus discursos são muito do agrado desse público.
Esperam-se dele definições precisas sobre questões como a Lei Patriota (que reduziu seriamente os direitos individuais), as isenções de impostos para as grandes fortunas, o apoio incondicional a Israel, a postura belicista da política internacional americana, a agressividade em relação ao Irã e à Síria, as ações delinqüenciais da CIA, além de uma atuação imparcial e ativa por um acordo na Palestina.

Mas é preciso dar tempo a quem é um ator muito recente no teatro da política.
Hilary Clinton já teve tempo suficiente e sua performance, embora melhor do que a de qualquer dos candidatos republicanos, deixou muito a desejar.

A esperança se chama Barack Obama.

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