Os povos que fizeram a Primavera Árabe sonhavam com um mundo muçulmano convivendo com os princípios democráticos.
Nos vários países onde ela aconteceu, a Turquia era apontado como modelo.
Um grande país muçulmano e democrático, que respeitava as liberdades individuais, e mantinha uma política independente na região, defendendo a libertação da Palestina da ocupação israelense e aliado aos países que queriam um Oriente Médio livre das intervenções militares ocidentais.
O presidente da Turquia, Erdogan, era apontado como o líder da renovação que começava a se espalhar pelos países muçulmanos.
Hoje, alguns anos depois, as coisas mudaram radicalmente..
A Turquia aliou-se firmemente aos EUA e à Arábia Saudita, esqueceu seus compromissos com a Palestina, vem estreitando laços anteriormente desfeitos com Israel no episódio do ataque ao navio de suprimentos para Gaza e – pior de tudo – pouco tem de democrata.
O próprio Erdogan definiu sua nova postura, ao declarar :”Democracia, liberdade e Estado de Direito não tem valor mais.”
Completando seu pensamento, ele veio com esta pérola de autoritarismo: quem apóia suas guerras é um amigo, “do lado oposto estão nosso inimigos” e a “nação os tratará com punhos de ferro”.
É o que aliás ele vem fazendo.
A pretexto de atacar os rebeldes curdos, sua aviação tem realizado bombardeios devastadores nas cidades turcas de população majoritariamente curda. Causando grandes perdas de civis inocentes.
Tendo entrado na guerra contra o Estado Islâmico, atacou quase exclusivamente áreas sob controle curdo, de onde os fanáticos do ISIS tinham sido expulsos.
E agora, acaba de intervir no principal jornal de oposição, o Zaman, afastando e detendo seus editores.
Passando a ser dirigido por gente pró-Erdogan, o Zaman tornou-se um jornal de descarado apoio ao governo.
Nos últimos meses, o governo Erdogan vem prendendo jornalistas de oposição e fechando jornais que o criticam.
Nada menos do que dois mil cidadãos estão sendo processados pelas autoridades por “insultos” a Erdogan através das mídias socais.
Colunistas são despedidos por ordem do governo.
O governo considera apoiadores dos rebeldes curdos jornais e rádios independentes , portanto sujeitos a repressão. Alguns tem sido comprados por adeptos do regime e mudam sua orientação política, não economizando elogios a Erdogan.
Intimidar jornalistas e prender muitos deles sob acusação de espionagem ou de ajudar os terroristas são outros métodos do governo para silenciar a imprensa.
Sob o regime atual, a Turquia tornou-se o país que mais prende jornalistas e foi classificado em 149º entre 180 países no índice de liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras.
Mesmo com esse pouco respeitável recorde, Erdogan começou sua campanha para integrar-se na União Européia.
Até agora ele não tinha sido aceito por algumas razões justas – desrespeito a certos direitos individuais – e outras discutíveis – religião diferente do cristianismo, recusa em admitir o massacre de armênios em 1923.
Mas com a invasão dos prósperos países europeus por milhões de refugiados do Oriente Médio e da África – Erdogan ganhou uma carta poderosa.
Ofereceu-se a receber toda essa multidão, desde que os europeus pagassem pelas despesas.
Inicialmente, queria receber 3 bilhões de euros.
Mais recentemente, vendo como os países europeus estão sentindo o problema, aumentou sua pedida para 6 bilhões de euros.
E mais: quer a admissão da Turquia na União Européia, o que já foi insinuado, mas ainda não formalmente solicitado.
É uma verdadeira chantagem.
Usa os refugiados para encher as burras turcas de euros e penetrar na comunidade européia.
Apesar do preço parecer exagerado, a aceitação dos refugiados pela Turquia representaria um grande alívio para os países da Europa, que não tem como acomodar tantos estrangeiros.
De outro lado, a entrada de uma ovelha negra no rebanho democrático do continente, de um país que desrespeita os valores europeus, seria inaceitável em termos éticos.