A primeira revolução da Primavera Árabe aconteceu na Tunísia.
Foi exemplar por ser pacífica e ter vencido o governo ditatorial apenas com a pressão popular.
Agora, porém, ela passa por um mau momento.
O novo governo sofre as conseqüências de duas crises: a crise econômica da Europa, seu principal mercado consumidor, e a crise gerada pela mudança radical de regime.
O governo ditatorial deposto já vinha apresentando dados econômicos e sociais negativos : em 2010, o desemprego atingia 14% , o índice de pobreza era de 40% e o país, que crescera 5% em média na década anterior, tinha caído para 3,8%.
Assumindo o poder, o novo governo teve de enfrentar uma série de manifestações e greves, estimuladas pela oposição. Some-se a isso às dificuldades que um governo, que veio para mudar tudo, tem para implementar as transformações requeridas e o resultado é uma lentidão perfeitamente natural para as coisas começarem a acontecer.
Mas, 800 mil desempregados não podem ficar esperando.
E o desencanto cresce na Tunísia.
O movimento salafista está aproveitando a situação para aumentar seu espaço político, especialmente entre os mais pobres, que são, aliás, os mais suscetíveis a pregações religiosas.
O salafismo apregoa que somente a aplicação integral da sharia (as leis do Alcorão) poderá resolver os problemas da sociedade.
Eles já controlam 400 das 5.000 mesquitas do país.
Seu líder político, Abu Ayadh tem uma atuação extremamente dinâmica, concedendo entrevistas à imprensa desde o início do processo revolucionário.
O salafismo condena a política da Irmandade Muçulmana que defende os princípios, não as leis do Alcorão, que considera feitas para a época de sua apresentação por Maomé, ou seja, há 1.400 anos.
Apesar de suas idéias anti-feministas e homofóbicas contrariarem a essência da Primavera Árabe, os salafitas ganham terreno entre os tunisianos que não aceitam que as reformas não venham com a rapidez desejada.