Talvez, a última esperança.

Nem a diplomacia de Abbas e do Fatah, que, em 13 anos de Autoridade Palestina perderam vastos territórios da Cisjordânia para assentamentos judaicos. E só ganharam a proposta dos “ dois estados independentes na Palestina”, aprovada pela comunidade internacional e por Israel, mas que nunca materializou-se porque foi sabotadas por Netanyahu, sem que o Ocidente tomasse qualquer atitude, a não ser inócuas condenações.

Nem a resistência armada do Hamas, que nas guerras de Gaza e nas três intifadas resultou em milhares de mortes de palestinos e destruição de dezenas de milhares de casas, além de escolas, hospitais e infra-estrutura, infringindo danos mínimos a Israel, devido ao imenso poder militar israelense, suprido anualmente com os mais modernos armamentos americanos.

Apesar da repetida insistência pelo Ocidente da “solução dos 2 países” através de negociações bilaterais, ela já foi inviabilizada pela contínua expansão de assentamentos- que em 2016 será três vezes maior do que em 2015- e pelas declarações de Netanyahu que não aceitará uma Palestina independente enquanto for governo.

Por sua vez, o Hamas não é tão ingênuo que possa supor que vencerá um confronto armado com Israel, ou que a deterioração contínua da imagem de Telaviv levará os EUA a não vetar propostas mais justas da União Européia. Para parte dos líderes do HamasO Hamas acha que o tempo trabalha a seu favor e que o maior crescimento anual da população árabe de Israel a tornará maioria nas eleições, o que transformaria o país num Estado multi-nacional e multi-religioso, sem vinculação ao sionismo.

Acho uma miragem.

Apesar do governo de Telaviv estar trabalhando para forçar o maior número de palestinos a saírem do país, caso, assim mesmo, devido a maior natalidade árabe sua população acabe superando a judaica, antes que isso aconteça, o Knesset vai agir com leis que bloqueiem o acesso da maioria dos não-judeus às eleições.

Nesse quadro, o mais provável é que os palestinos, depois de muitas tentativas diplomáticas e militares, acabarão tendo de aceitar um país formado por diversas regiões não contíguas(verdadeiros bantustões), com bases do exército israelense estacionadas em seu território, sem aeroporto, e sem forças armadas próprias. Sem viabilidade, nem soberania, portanto.

Mas nem tudo está perdido.

Nos últimos meses, em reuniões  entre quatro altos dirigentes do Fatah e Mavran Barghouti, o mais respeitado líder palestino, inclusive pelo Hamas, começou a se esboçar uma nova esperança.

Eles formularam um plano mais realista para se conseguir a paz e a independência da Palestina, a que se deu o nome de : “A Revolução Pacífica do Povo.”

Em reuniões posteriores, esse plano foi aprovado pelos principais líderes do Hamas e por Saeb Erekat,o Secretário-Geral da OLP  (Organização pela Libertação da Palestina, à qual todos grupos revolucionários estão filiados).

Estas informações foram prestadas por uma fonte do jornal israelense The Times of Israel, que as publicou em 12 de abril.

A fonte relata que o plano não foi ainda apresentado a Abbas, Palestina e seu cercle intime.

É possível que o tímido Presidente da Autoridade Palestina se assuste.

A idéia básica que permeia a nova solução é a “resistência sem violência.”

Seu objetivo é a saída de Israel de todas as áreas ocupadas acima das linhas de 1967, o estabelecimento de um Estado Palestino independente, com a capital em Jerusalém Oriental- a implementação das decisões internacionais pró-palestinos, inclusive a resolução do Conselho de Segurança da ONU que conferia o direito de retorno de todos os refugiados palestinos expulsos por Israel e a libertação de todos os prisioneiros políticos.

Até aí, tudo bem, é o padrão de exigências de qualquer iniciativa de paz palestina.

O que certamente chocará Abbas serão os meios propostos para concretizar as aspirações da “Revolução Pacífica do Povo.”

Desde logo o plano rejeita as negociações com Israel, impossíveis com o governo de extrema direita de Netanyahu.

E opta por FORÇAR Israel a engolir um remédio amargo para esse governo, através de uma série de ações não violentas, coordenadas por lideranças unificadas sob Barghouti.

São previstas ações ousadas e inéditas no panorama do conflito israelense- palestino, como garantir os Acordos de Oslo, de 1993 (quando a comunidade internacional elaborou um roteiro para a independência palestina, com medidas nas diversas etapas – não cumprido por Israel); cancelar o reconhecimento de Israel pela OLP até que Israel reconheça a Palestina como Estado; bloquear com massas de civis todas as estradas de acesso aos assentamentos; danificar a infra-estrutura dos assentamentos ( eletricidade, telefone e internet); organizar constantes protestos em Jerusalém (chefiados pelo presidente da Palestina) e terminar a cooperação em segurança com Israel.

Os autores do plano acreditam que estas ações deixarão as forças de segurança de Israel  e seu governo perplexos, numa situação difícil. Não terão justificação para reprimir as ações palestinas usando munição letal pois não estarão se defrontando com uma resistência armada, mas pacífica, sem violência, embora suas conseqüências possam ser das mais sérias.

Encarar o rebeldes só com balas de borracha, jatos d´água e gás não tóxico poderia ser insuficiente, uma tarefa de êxito duvidoso.

O resultado esperado é a desestabilização da vida normal nos assentamentos e a incapacidade do exército de Israel continuar exercendo soberania sobre os territórios atualmente ocupados.

Numa situação assim, o governo de Telaviv abrandaria suas exigências e ficaria propenso a aceitar uma conferência internacional na qual, sob pressão da comunidade internacional hoje favorável aos palestinos, se negociaria um acordo justo  entre Israel e Palestina.

Desde já os formuladores da  “Revolução Pacífica do Povo” estão consciente dos enormes obstáculos que terão de vencer.

Sabem que a implementação de suas ações não começarão agora , enquanto Abbas for presidente da Autoridade Palestina, por suas posições fracas, raramente contestando os EUA e assim mesmo apenas com palavras.

Mas Abbas parece ter desanimado com seus insucessos, já declarou várias vezes que não aceitará uma reeleição, que deverá acontecer nos próximos meses.

Abre-se uma chance para Barghouti se candidatar. Aí será vitória certa, ele tem vencido todas as pesquisas realizadas na Palestina.

Barghouti tem todas as condições para empolgar o povo palestino e fazer com que atendam seus apelos às ações da “revolução sem violência.”

O problema é que Barghouti está preso em Israel, condenado por 5 sentenças de prisão perpétua, num julgamento considerado injusto pela União Inter- Parlamentaria (integrada por 163 países).

Para o escritor e jornalista israelense Uri Avnery: “O julgamento dele foi um escárnio, lembrando mais uma arena romana de gladiadores do que um processo judicial (The Guardian, 2/4/2012)”.

A seu favor,o fato de, mesmo nos momentos mais agudos das intifadas, Barghouti proibiu várias vezes que se matasse civis israelenses.

Hoje, ele é chamado o ‘Mandela palestino”.

Mesmo eleito presidente da Autoridade Palestina, Israel não o soltará da prisão facilmente.

E Barghouti parece necessário para manter unificados os vários movimentos de libertação da Palestina que comandarão a “revolução sem violência.”

Somente um grande movimento internacional, com as personalidades mais representativas dos EUA e da Europa, aliado a um movimento local, com importantes figuras tanto israelenses quanto palestinas poderão conseguir a libertação de Barghouti.

Mesmo que o povo atenda aos apelos de Barghouti de agir sem violência, ela poderá ser inevitável,  pois não dá para imaginar que o exército de Israel vá reagir sempre com bons modos.

Confrontos serão inevitáveis, podendo crescer em intensidade e por em perigo as disposições pacíficas do plano revolucionário, comprometendo a força da sua idéia-mestra.

Evdentemente o apoio da comunidade internacional à causa dos palestinos será tão maior quanto a diferença entre suas posturas pacíficas e a violência das forças de segurança de Israel.

Seja como for não é de subestimar a capacidade repressora das forças de Telaviv e a resistência do povo palestino.

Como também deve se respeitar o que as ações revolucionárias podem causar a Israel.

Sem a colaboração da polícia palestina na controle das ações dos grupos rebeldes nas áreas A e B, as forças de segurança de Israel teriam de assumir esse encargo,o que seria não só extremamente dispendioso, como também difícil dada a hostilidade geral da população local.

O bloqueio das estradas, que deverá ser repetido muitas vezes, e, principalmente ações mais arriscadas, como sabotar os serviços de eletricidade, inter net e telefone, trarão, se bem sucedidas, perdas significativas à economia e à qualidade de vida nos assentamentos.

O plano palestino oferece em contra-partida amplas garantias de segurança a Israel, mais um tratado de paz que incluiria também a maioria dos países islâmicos.

Todos estes fatos são previsíveis o que não pode ser previsível é a dimensão da reação de Israel.

O governo de Telaviv já está há mais tempo por dentro dos planos da “Revolução Pacífica do Povo”.

Deve ter fontes mais eficientes do que as do Times of Israel.

Provavelmente também já fez seus planos para fazer malograr esta nova iniciativa pela independência da Palestina.

O que é altamente preocupante.

Se perderia a última esperança para os palestinos terem um país independente e os israelenses um país seguro.

 

 

 

 

 

 

 

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