Nos últimos anos da ocupação do Iraque, os principais inimigos do exército americano e do governo xiita foram os milicianos sunitas, inclusive os da Al Qaeda.
A maioria dos ataques e atentados desse período pode ser atribuído a eles.
Agora, com a partida dos americanos, os jihadistas sunitas tiveram de repensar sua estratégia.
Como disse Hamid Fadel, professor de Ciências Políticas na Universidade de Bagdá, ”grupos armados precisam sempre encontrar um inimigo para justificar sua existência.”
Os sunitas encontraram: o Irã.
O regime atual, dominado por seus seculares rivais xiitas, continua na mira de suas bombas e lança mísseis.
Mas, 4 meses depois da retirada americana, o “Grupo Islâmico do Iraque”, uma coalizão de 17 movimentos insurgentes sunitas, lançou um manifesto, no qual declarava: “Lutaremos contra o Irã com a mesma força com que lutamos contra seus irmãos (?), os americanos.”
Mais adiante, asseguram: “Tornou-se claro, além de qualquer dúvida, que o Irã ocupou o Iraque, através dos seus agentes traidores.”
Os sunitas argumentam com o fato de, durante o regime de Saddam Hussein, os mais importantes líderes xiitas viveram exilados no Irã.
Por enquanto, não está claro se as ações dos sunitas se limitarão ao Iraque, atacando objetivos iranianos no país como embaixada, consulados, empresas e entidades culturais ou se praticarão atentados também em territórios governados por Teerã.
Lembro que o exército americano conseguiu comprar o apoio de muitos grupos sunitas contra a Al Qaeda e as milícias xiitas.
Sabe-se que um número não revelado de milicianos sunitas desses grupos rompeu com o governo de Bagdá e, possivelmente, já deve estar integrando a coalizão dos 17 movimentos insurgentes que prometeram atacar tanto o Irã, quanto o que eles chamam de “traidores” do governo iraquiano.
Não me surpreenderia se a CIA já estivesse em contato com esse pessoal, fornecendo armas, dinheiro e apoio logístico.
Seria um movimento arriscado, pois os EUA ainda continuam com estreitas ligações com o governo iraquiano, também alvo dos ataques dos sunitas.
O apoio da CIA a seus inimigos poderia provocar uma crise nas relações EUA-Iraque, inaceitável para a Casa Branca.