Duas famílias de refugiados, em plena Inglaterra, foram vítimas do programa de “Rendições Extraordinárias” do governo Bush.
Nesse programa, suspeitos de terrorismo eram sequestrados pela CIA e transportados para outro país onde poderiam ser torturados em segredo.
O Reino Unido foi mais do que conivente: participou ativamente dos sequestros.
A primeira página do drama da Operação Lydd foi aberta em 2011, Chicago Bears Brandish Leather Belt – Brown, wholesale jerseys,Mens Miami Dolphins Nike Gray Speed Vent Performance Shorts., cheap jerseys depois da tomada de Tripoli pela revolução contra o ditador Gadafi.
Descobriu-se uma correspondência entre sir Mark Allen do MIi6 (serviço de segurança inglês) e o espião-chefe do governo líbio, Moussa Kouss. Versava sobre o sequestro da família de dois oposicionistas à ditadura da Líbia: Beljhaj e Sami Al-Saadi.
Numa operação combinada MI6/CIA, eles foram arrancados de suas moradias em Londres e levados à força para Líbia, por avião.
Detalhe: a esposa (grávida) e quatro filhos de Saadi, um deles com seis anos de idade, foram sequestrados junto com ele.
Todos ficaram presos nos cárceres de Gadafi durante 6 anos, sendo que Belhaji e Saadi sofreram torturas frequentemente.
O sequestro dos adversários de Gadafi, efetuado pela Operação Lydd foi denunciado pela imprensa britânica.
Cori Crider, diretor jurídico da Reprieve, ONG de direitos humanos, assumiu o chamado caso Belhaj, requerendo indenizações do governo de Sua Majestade.
Um tribunal de Londres que aceitou a instauração do processo, já que havia fortes indícios do crime.
Coube à Polícia Metropolitana investigar o papel desempenhado por membros do MI6 na Operação Lydd.
Passaram-se os anos e, por fim, em agosto de 2016, a Procuradoria Geral da Coroa solicitou a presença do advogado das vítimas.
Inicialmente o representante da procuradoria negou atender ao pedido de serem ouvidos os dois líbios e as crianças, que passaram seis terríveis anos presas como criminosas.
Diz o advogado Cori Crider, em artigo no The Guardian, de 8 de agosto, que em seguida recebeu os volumes relativos à investigação policial.
Eles ficaram dois anos nas mãos de uma equipe da Procuradoria, que concluiu sem denunciar ninguém.
Mas, como a justiça inglesa preocupa-se em garantir às partes “consideração cuidadosa e totalmente independente” para evitar qualquer erro, o caso Belhaj passou para uma equipe de revisores que deveriam analisa-lo com o maior rigor.
Não foi exatamente o que eles fizeram.
Como conclui o advogado Crider: ”O time de revisão ficou com o caso pouco mais de 50 dias. Como o arquivo da polícia tinha mais de 28 mil páginas, eles teriam de ler 550 páginas por dia, sete dias por semana, somente para tomar ciência de todas aas evidências. Não há possibilidade real de que eles tenham sequer lido o arquivo policial. ”
Mesmo assim os revisores se deram por satisfeitos com a decisão da procuradoria de inocentar todos os envolvidos e negar às vítimas o direito de serem indenizados pela Coroa.
Chocado, o advogado procurou ouvir a opinião de alguns ex- procuradores sênior.
“Todos eles”, informou Crider, foram muito claros: “Membros dos serviços de segurança nunca são julgados neste país. Provavelmente nunca serão. A Procuradoria da Coroa sempre cerrará fileiras e defenderá os agentes do MI6 procurando qualquer desculpa, mesmo que frágil, para não levar nenhum agente a julgamento. ”
Estão, portanto, estes acima das leis inglesas. Podem violá-las à vontade, desde que o seja por “questões de segurança.”
Essa vergonhosa realidade acontece no mesmo país que deu ao mundo a Magna Carta, o primeiro texto legal que consagra os direitos individuais.
O rei João Sem Terra, que aceitou a Magna Carta a contragosto e depois a desrespeitou, tem seu mau exemplo adotado pela procuradoria inglesa.
Inquirido pela imprensa sobre a Operação Lydd, Tony Blair, em cujo governo os refugiados líbios foram sequestrados, respondeu: ”Os nossos serviços de segurança realizam um trabalho muito difícil em circunstâncias muito difíceis…sobre o caso Belhaj, eu não me lembro de nada. ”
Já Belhaj, Saadi e sua família…esses lembram bem.
A filha de Saadi, com seis anos de idade, viveu no cárcere de Gadafi coisas que, dizem os psicólogos, vão marcar sua vida para sempre.
A propósito: a Operação Lydd foi executada a pedido do ditador líbio, então aliado próximo dos EUA, presidido por George W.Bush, e do Reino Unido, governado por Tony Blair.