O ISIS foi expulso, mas nem tudo são flores em Mosul.
A Anistia Internacional publicou um relatório criticando as táticas usadas pelo exército iraquiano e a aviação dos EUA no ataque e tomada da cidade.
Nessas ações teriam sido cometidas flagrantes violações das leis internacionais, possivelmente crimes de guerra.
O relatório considera muito grave o elevado número de civis mortos (calcula-se 5.805, em apenas quatro meses).
E condena ter havido uso desnecessário de força em lançamentos de bombas explosivas sem precisão contra áreas densamente habitadas, repletas de civis, incapazes de fugirem. O que representaria violação das leis internacionais, possivelmente crimes de guerra.
O ISIS é acusado de fazer civis de escudos humanos. Mas, isso não diminui a obrigação legal das forças do Iraque, EUA e aliados de protegerem a população civil.
Já o Pentágono não concordou com as acusações da Anistia Internacional.
O comandante americano, general Stephen Townsend declarou não serem verdadeiras. Para ele a Anistia não estaria numa “posição de autoridade”, não tendo direito de fazer manifestações sobre crimes de guerra. Claro, quando, a Anistia Internacional acusou o governo Assad de práticas também tortuosas, nenhum general ou político americano contestou a “autoridade” da ONG em falar sobre o assunto.
Mas isso não é novidade num mundo em que os “dois pesos e duas medidas” são ideias reprováveis mas que acabam tendo de ser aceitas pois como diria o general romano Pompeu: “Não me falem em leis, nós temos armas.”
Ainda comentando as críticas da Anistia, o general Towsend afirmou que o ataque a Mosul (no qual os jatos americanos tiveram papel decisivo), fora a operação de guerra mais ética de todos os tempos…
Nada ético, no entanto, é uma estranha iniciativa das forças de segurança do Iraque.
A Human Right´s Watch relata que autoridades locais construíam a leste de Mosul um campo com capacidade para 2.800 refugiados. Para ali estão sendo conduzidos coercitivamente parentes de milicianos do ISIS, com o fim de serem “reabilitados. ”
Basta ter um membro ligado ao ISIS para a família ser despejada do seu lar e levada para esse “centro de reabilitação”.
170 dessas famílias já foram selecionadas para habitarem no local e serem submetidas a um processo de “reabilitação psicológica e ideológica, no fim do qual serão reintegradas na sociedade se provarem receptividade ao programa de reabilitação. ”
Algo semelhante a uma decisão do falecido Josef Stalin. Por ordem dele, familiares de chamados “criminosos políticos” eram rotulados como elementos anti-sociais (até mesmo crianças) e enviados a campos na Sibéria, os gulags, onde ficaram até Kruschev os mandar para casa.
A nova política de segurança iraquiana é condenada pelas Convenções de Genebra como “punição coletiva. ”
Não se trata de um bom começo para a renovação da democracia no país das mil e uma noites.
”Mundo mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima não uma solução” de Carlos D. de Andrade. Dá para trocar a palavra ‘mundo’ pela ‘homem’, mas aí não haveria rima e tampouco solução. E assim continua a humanidade, cruel, egoísta, agindo com os intestinos. Melhor parar um pouco de ler notícias e aproveitar o sol.