Em 19 de setembro, Steven Chu, Secretário da Defesa dos EUA, criticou severamente o Irã por realocar algumas de suas instalações para enriquecimento de urânio em um subterrâneo. Isso teria sido feito para escondê-las das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA). O que provaria que a finalidade da operação seria militar e não civil como Teerã garantia.
Fereidon Abbas, o representante iraniano, respondeu que a razão para esconder as instalações seria protegê-las de bombardeios. Coisa que, aliás, Israel, claramente, e os EUA, indiretamente (“todas as opções estão sobre a mesa”) já haviam ameaçado fazer muitas vezes.
Abbas lembrou ainda que o Irã estava simplesmente imitando o governo americano que também havia enterrado suas instalações nucleares, temendo ataques da Al Qaeda.
Voltamos assim a assistir a mais uma aplicação do “princípio” dos dois pesos e duas medidas, ao qual a diplomacia americana tem se mostrado fiel. Novamente considera-se que esconder instalações nucleares é certo quando os EUA o fazem; um crime quando feito por algum país hostil.
Na reunião da IAEA, novamente, algo semelhante aconteceu.
O representante do Irã acusou Israel de ter assassinado dois dos seus cientistas nucleares e ferido um terceiro. Não ameaçou com represália, que não é bobo de brigar com o super poder militar de Telaviv, mas pediu providências da ONU. Na ocasião, foi exibido um filme no qual o assassino de um dos cientistas (não dá para jurar que não foi submetido ao “waterboarding” ou outro tratamento conexo), acusou o Mossad de ser o mentor do crime.
Shaul Chorev, o representante de Israel, não contestou. Passou para o ataque: ”Não apenas o governo do Irã continua suas atividades de enriquecimento em desafio à IAEA, mas também está engajado em projetar e testar armas nucleares.”
Dois pesos e duas medidas, outra vez. Israel produzir armas atômicas, como é fato sabido, no problem, já o Irã “planejar e testar” esse tipo de armas (o que o representante judeu não provou) é uma grave ameaça à ordem internacional.
O representante de Israel terminou sua alocução com uma frase forte: ”Sem uma efetiva resposta pela comunidade internacional, o Irã pode se tornar o primeiro país a adquirir armas nucleares enquanto membro do Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas” (TNP).
Quer dizer que o errado é membros do tratado terem armas atômicas.
Se os iranianos, de fato, as pretendem possuir, deveriam sem demora cair fora do TNP?
Israel não faz parte, tem mais de 200 engenhos atômicos e a comunidade internacional nem cogita de impor-lhe sanções econômicas.