Quem melou o acordo nuclear com o Irã?

Ao contrário do que a nossa grande mídia informa, os responsáveis pelo fracasso da reunião de Bagdá foram os EUA.

O objetivo dos P+5 (EUA, Rússia, China, Alemanha, França e Reino Unido) sempre foi impedir o Irã de desenvolver um programa nuclear militar.

Sabia-se pelos relatórios das 16 agências de inteligência americana que, por enquanto, esse programa não existia, nem havia indícios de que os iranianos pretendiam iniciá-lo.

Como, depois de chegar ao urânio a 20%, é relativamente rápido alcançar o nível de 90%, suficiente para produzir armas nucleares, impedindo o Irã de produzir urânio a 20%, o assunto estava resolvido.

Por sua vez, o objetivo do Irã era livrar-se das sanções americanas e européias (as sanções da ONU pesavam menos) que estrangulavam sua economia.

Era só um fazer o que o outro queria e a crise estava resolvida.

Só que o premier Netanyahu, na véspera da reunião, havia dito que Israel só aceitava acordos se o Irã renunciasse totalmente a enriquecer urânio, mesmo a 3,5%, usado para gerar energia.

E os EUA, talvez não surpreendentemente, roeram a corda.

Aceitava suspender sanções só depois de todo o urânio a 20%  ser mandado para o exterior e sua produção ser totalmente desativada.

Ai foi tudo para o espaço.

Na volta de Bagdá, a chefe da missão americana deu um pulinho a Telaviv para um chat com Netanyahu.

Em seguida, as coisas se radicalizaram pra valer.

Os EUA passaram a dizer que não aceitavam nenhum tipo de enriquecimento de urânio por Teerã, o que significa nada de programa nuclear civil iraniano.

Estes, por sua vez, agora exigem que seja que reconhecido  pelo Ocidente seu direito (na verdade legal) de reconhecerem o urânio e não irão parar de fazer isso a 20%, o que é necessário para produzir isótopos usados no tratamento de câncer.

E mais: acabou a boa vontade para com a IAEA (agência de energia atômica da ONU).

Depois de terem aceitado a inspeção da base militar de Pachin, suspeita de atividades nucleares, o governo iraniano voltou atrás,  pois não vê motivos para essa desconfiança.

Toda a boa convivência entre o Ocidente e o Irã nos últimos meses foi pro espaço.

Na batalha de Bagdá o grande vencedor foi Bibi, que viu o fracasso da reunião em se chegar a um acordo que Israel não desejava e a adoção pelo Ocidente (sob liderança americana) da proibição de todo tipo de enriquecimento, que o Irã jamais aceitará.

Agora, a menos que haja uma improvável reviravolta, a reunião de Moscou, dos P+5 e o Irã, marcará um ponto final nas tentativas de acordo.

 

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